“O capacistismo é um dos modus operandi da estrutura de exploração do capitalismo, por isso para pensar e atuar em uma luta que acabe com o capacitismo é necessário pensar também uma luta anticapitalista.”
Edson Victor
GOIÂNIA (GO) – O Ministério da Saúde estabelece que Pessoas Com Deficiência (PCD) seriam aquelas que têm impedimento de médio ou longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial em comparativo a uma normatividade de corpo sem deficiência (PSD) estabelecida socialmente. E essa normatividade não é estabelecida pela natureza, mas sim pelo sistema estrutural da sociedade.
O Brasil tem como sistema político-econômico o capitalismo que se baseia na relação de exploração entre um grupo de pessoas sobre outras, pois a história do mundo, é a história da luta de classes. Nas palavras de Marx em O Manifesto do Partido Comunista:
“A história de toda sociedade até nossos dias é a história das lutas de classe. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de ofício e companheiro, em resumo, opressores e oprimidos se encontraram sempre em constante oposição, travaram uma luta sem trégua, ora disfarçada, ora aberta, que terminou sempre por uma transformação revolucionária de toda a sociedade, ou então pela ruína das diversas classes em luta.”
Essa exploração se dá quando uma das classes constrói e mantém as casas, os hospitais, as escolas, e até limpa sua sujeira, trabalha para os ricos e o que retorna para o usufruto da classe que faz tudo são migalhas. Exemplos atuais é o que não falta, por exemplo, os filhos dos pedreiros e dos funcionários responsáveis pela limpeza de uma universidade poucas vezes tem a possibilidade de ver o filho estudando ali.
No capitalismo a normatividade de um corpo sem deficiência são corpos que teriam a capacidade de ser força de trabalho, isto é, trabalhar na construção das coisas materiais do mundo e até as riquezas do mundo – riquezas essas que só uma classe teria pleno acesso – e por isso em alguma medida esses corpos teriam que ter acesso a certos lugares que possam ser força de trabalho. Por exemplo, o transporte público coletivo, um mecanismo de transporte que possibilita a locomoção do povo trabalhador de um lugar para outro dentro da cidade e assim ele pode ser trabalhar, em muitas das vezes em subempregos, e obviamente sendo explorado. Porém, o corpo deficiente é visto como algo que não vale a pena explorar pois nós PCDs não seriamos capazes de sermos mão de obra.
Nesse sentido, os membros da classe dominante moldam a sociedade de maneira que nós PCDs não ocupemos a cidade, isto é, universidades, escolas, praças, mercado de trabalho etc. E para isso, colocam de maneira cruel os trabalhadores para construir esses locais de maneira que exclua nós PCDs.
Pense: “com quantos PCDs você já estudou, já se relacionou, já viu ocupando livremente os espaços físicos da cidade como cinema e praça?”, pois é, isso não é natural, o capitalismo não lucra em cima dos corpos com deficiência, por isso nos excluem, nos desumanizam e nos matam através de um plano muito bem arquitetado, esse processo de exclusão de nós, pessoas com deficiência, dos espaços da cidade cria um pensamento e modo comportamental que de fato acreditam que nós PCDs somos pobres coitados incapazes de viver em sociedade, e nos tornamos corpos considerados “não-humano” e esse modo de pensar e agir é conhecido como “capacitismo”.
Portanto, o capacistismo é um dos modus operandi da estrutura de exploração do capitalismo, por isso para pensar e atuar em uma luta que acabe com o capacitismo é necessário pensar também uma luta comunista. Mas vale salientar que ser anticapacitista e anticapitalista não é apenas reclamar na internet das mazelas desse sistema, mas sim, é se organizar na luta diária em coletividade com outros PCDs e com outros grupos que sofrem com a exploração estrutural desse sistema pela mudança radical da sociedade, onde toda a estrutura que fortalece essa e demais opressões seja destruída. Ser anticapacitista implica em ser comunista e, assim, lutar pelo poder popular e pelo socialismo, pois apenas com uma transformação radical da sociedade os corpos com deficiência serão livres.