UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Lutar para ser realmente livre

ALIENAÇÃO DE CLASSE – As drogas criam uma névoa que impede a classe trabalhadora de enxergar a revolução na ordem do dia. (Foto: Reprodução/Adam Maida)
“Contribuiremos enormemente para libertar milhões e milhões de homens e mulheres de seus vícios, se derrubarmos esse sistema injusto e desigual, que nos quer entorpecidos.”
Queops Damasceno

SÃO PAULO (SP) – Não é segredo para ninguém que nosso partido está em franca ascensão. Só do ano passado até agora, cresceu muito rapidamente a quantidade de camaradas que militam conosco. Há mesmo células que se multiplicaram em determinadas regiões e se desenvolveram ao ponto de se tornarem organismos coesos, capazes e muito combativos.

Muitos companheiros, ao chegarem no partido, trazem consigo vícios e traços de uma sociedade dividida em classes. A consciência desses novos camaradas está quase sempre bastante atrasada em relação à consciência dos comunistas. Para formar o mais rapidamente esses homens e mulheres, não podemos rebaixar o nível de nossa consciência, mas elevar a consciência dos recém-recrutados ao nível da consciência comunista do partido.

Um dos vícios mais presentes entre a juventude é a utilização de drogas lícitas e ilícitas. Poderíamos aqui citar outros tipos de vícios, como os jogos de videogame, computador etc. No entanto, nos restringiremos nesse texto, para cumprir um objetivo muito determinado, a tratar a questão do uso de drogas ilícitas.

Sem dúvidas, com esse nosso rápido crescimento, o problema do uso de drogas ilícitas estará cada vez mais presente na vida de nossa organização. O contingente de jovens que usam algum tipo de entorpecente é muito grande. A maconha, por exemplo, é a segunda droga mais utilizada pela juventude no Brasil.

Poderíamos também abordar a questão do álcool, que não deixa de ser droga por ser lícito. Mas o artigo “O álcool como mal necessário para a manutenção do capitalismo”, da companheira Vitória Louise, já tratou muito bem a questão, nos restando aqui a tarefa de discutir as ilícitas. Que justamente por serem ilegais, trazem consigo também um outro problema ao nosso partido, o problema da segurança e da criminalização.

Pois bem, vamos aos fatos: temos evidenciado, em diversos locais, a aproximação e muitas vezes até o ingresso em nossa organização, de companheiros oriundos de diversos meios e camadas sociais, mas que mantém costumes muito parecidos, trazem os mesmos vícios e compartilham de certa rotina. É importante que não tratemos esses camaradas como um grupo. É necessário individualizarmos a discussão com cada um para obtermos resultados significativos. E em todas essas discussões, devemos reafirmar nossa linha sobre a questão: droga é alienação!

Precisamos demonstrar aos companheiros que a fuga da realidade é o principal objetivo do uso dessas substâncias e que essa fuga é muito prejudicial a um comunista. Afinal, o objeto de trabalho do comunista é a realidade. Necessitamos também estabelecer critérios mínimos para que esses camaradas possam se manter atuantes em nossos coletivos enquanto realizamos essa discussão. Um exemplo de critério que podemos estabelecer, primeiramente, é reconhecer essas limitações individuais, essa dependência, concordar com nossa linha sobre o assunto e querer parar de fazer uso, não militando em nenhuma circunstância a favor do uso, mesmo que recreativo, de drogas ilícitas.

Infelizmente, mesmo obtendo certamente um saldo positivo com toda essa movimentação para transformar esses militantes em quadros, estáveis e desenvolvidos politicamente, é possível que tenhamos também o afastamento de alguns companheiros.

Esses, justamente por subestimarem o vício, sucumbem à droga e não conseguem compatibilizar seus antigos hábitos à luta que o partido precisa desenvolver para realizar uma revolução. São muitas tarefas, lutas, reuniões, brigadas, panfletagens, campanhas, eventos, e de fato, é necessário disciplina. Não a disciplina dos quartéis, do exército burguês, imposta por castigos e baseada na mentira e na dissimulação, mas pelo contrário, uma disciplina consciente.

Como diria, Boldiriev em seu texto “A Formação da Moral Comunista”:

“A disciplina soviética é uma disciplina consciente. Tem por base a atitude consciente dos trabalhadores em relação às suas obrigações e a compreensão que os mesmos têm das normas e regras de conduta em vigor. Caracteriza-se pelo fato de que os homens soviéticos cumprem os seus deveres de maneira consciente e voluntária.

Entretanto, a disciplina soviética é uma severa e férrea disciplina; supõe a subordinação das tendências e desejos individuais às necessidades e interesses sociais. A circunstância de que a disciplina soviética é de ferro não contradiz o seu caráter consciente. ‘Uma férrea disciplina – afirma o camarada Stálin – não exclui, mas sim supõe a subordinação consciente e voluntária porque só uma disciplina consciente pode ser realmente uma disciplina de ferro’.”

Sendo assim, não devemos nos afastar dos companheiros que possivelmente titubearem, nem rebaixarmos nossa consciência para conviver melhor com eles. Ao contrário, podemos dis-tencionar em um primeiro momento, mas devemos novamente procurar do(a) camarada, saber como está, tentar atingir seu atual nível de consciência e elevá-lo através da discussão. Obteremos sucesso se não desistirmos de cada um, se dermos o exemplo e se compreendermos que a única disciplina verdadeiramente férrea, é uma disciplina consciente e voluntária.

Outros camaradas, após um ritmo de discussão profunda, abandonarão por completo o vício. Será, pois, uma importante decisão e demonstrará justamente o contrário do caso anterior. Afinal, como sabemos, é possível não sucumbir, não tergiversar, não buscar subterfúgio. Temos exemplos de camaradas que fumavam maconha há mais de 10 anos sem parar, e pararam literalmente do dia para noite, por compreenderem as necessidades do nosso partido de avançar no sentido de ter milhares e milhares de camaradas que se entreguem sem limites à causa da revolução.

Ainda terão os que diminuirão bastante o uso, e darão muitos sinais do seu compromisso com a organização. Então, precisaremos ser nós a andar em direção a esses preciosos camaradas e dar-lhes mais acompanhamento, mais assistência, confiar-lhes mais tarefas importantes, e ajudá-los a estabilizar sua vida financeira, profissional, emocional etc. Os responsáveis por esses companheiros devem cuidar disso como uma de suas tarefas principais.

É preciso também buscar os informes e a situação dos camaradas que são ainda muito jovens e inexperientes. Em geral, estão sob a influência de pessoas mais velhas e provavelmente não tem ainda uma noção precisa dos riscos à saúde física e mental. Também desconsideram o grande risco de criminalização imposto pelo hipócrita estado burguês, que lota os presídios de pobres pegos com pequenas quantidades de drogas e deixam livres os traficantes ricos que são pegos com helicópteros cheios de cocaína.

A luta de classes é implacável. Se manifesta em cada aspecto da vida social, e nesse sentido não é diferente. No capitalismo, os comportamentos são julgados e punidos de maneira completamente diferentes de acordo com a classe social a que se é pertencente. Não à toa, Lênin afirmou em discurso pronunciado no III Congresso do Komsomol:

“Negamos a moral extraída de um conceito alheio à humanidade e alheio às classes. Afirmamos que se trata de um logro, de uma chantagem e de entorpecimento da mente dos operários e camponeses em defesa dos interesses dos latifundiários e capitalistas. Afirmamos que nossa moral se acha totalmente subordinada aos interesses da luta de classes do proletariado. Nossa moral decorre dos interesses da luta de classes do proletariado.”

Sendo assim, é preciso lutar. Lutar para ser realmente livre. Livre não do ponto de vista burguês, apenas tendo em consideração o seu indivíduo. Mas livre do ponto de vista proletário, conscientes das necessidades e interesses do partido e da revolução. Portanto, não devemos colocar a personalidade de um ou de outro como algo dado e imutável. Todos nós estamos construindo nossa personalidade e melhor o faremos se tivermos mais consciência da realidade, se não fugirmos dela e se subordinarmos nossa personalidade à luta do povo.

Contribuiremos enormemente para libertar milhões e milhões de homens e mulheres de seus vícios, se derrubarmos esse sistema injusto e desigual, que nos quer entorpecidos. Mas para destruirmos de vez o capitalismo, precisaremos de uma vanguarda que esteja disposta a se modificar ainda debaixo dessas difíceis condições e que seja capaz de dirigir uma massa imensa de pessoas de maneira absolutamente consciente e disciplinada. Vejamos o que diz Stálin em 1906, em polêmica com os anarquistas, quando se referiu à coincidência entre os interesses pessoais e os interesses sociais na luta pelo socialismo. Em sua obra “Anarquismo ou Socialismo?”, José Stálin escreveu:

“O marxismo e o anarquismo acham-se estruturados sobre princípios inteiramente diferentes, apesar do fato de que ambos se apresentam na arena de luta sob a bandeira socialista. A pedra fundamental do anarquismo é o indivíduo, cuja libertação, segundo prega, representa a condição principal da libertação das massas, da coletividade. Segundo o anarquismo, é impossível a libertação das massas enquanto o indivíduo não se libertar, em vista do que decorre a sua palavra de ordem: ‘tudo para o indivíduo!’. Entretanto, para o marxismo a pedra fundamental são as massas, cuja libertação, segundo sua opinião, é a principal condição de libertação do indivíduo. Isto é, segundo o marxismo, impossível libertar o indivíduo antes de se libertar as massas, em vista do que decorre a sua palavra de ordem: ‘tudo para as massas!’”.

Por fim, é necessário dizer que todos estamos envolvidos nessa questão. Não podemos deixar que essa fenda esteja aberta em nossa organização e se oferecendo como um local propício para a burguesia nos golpear. É preciso fechar essa fenda. É preciso cuidar de nossa segurança. É preciso realizar uma severa autocrítica. Do contrário, estagnaremos como militantes e como partido.

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