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sábado, 2 de novembro de 2024

Familiares denunciam assassinato de jovem no Rio de Janeiro

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VIDAS NEGRAS IMPORTAM – Em manifestação, familiares e trabalhadores pedem justiça para Emily e Rebeca. (Foto: Reprodução/Extra)
“Para a manutenção da opressão sobre o povo trabalhador interessa também esta divisão em territórios, dominados por diferentes grupos. Mas, é necessária a reflexão das moradoras e moradores de favelas de que são todas e todos iguais na divisão de classe e que a união e organização são a única saída para evitar mais tragédias como esta.”
Esteban Crescente

RIO DE JANEIRO (RJ) – Mais uma tragédia deixou indignados os moradores da Favela de Acari, no Rio de Janeiro. Na noite do dia 28 de janeiro, o entregador de farmácia Douglas de Oliveira, 20 anos, foi capturado e assassinado por traficantes da Favela do Cafua, que disputam o controle de território com a facção que domina Acari.

Os funcionários do estabelecimento onde Douglas trabalhava deram falta do empregado no fechamento de caixa. Estabeleceram contato com a família perguntando pelo jovem, e logo entraram em estado de tensão quando receberam informações de moradores da região onde Douglas foi capturado e um vídeo mostrando a tortura do rapaz.

Durante três dias, mãe, pai, tias, irmãos, esposa e sogra tentaram encontrar o corpo, inclusive indo até a Favela do Cafua para tentar convencer os traficantes locais a entregarem o corpo de Douglas, mas foi em vão. A esta altura o desejo de justiça, para saber quem efetuou a execução, já não era o principal para a família, que apenas queria o direito de enterrar o corpo do jovem.

O caso foi denunciado na 39ª DP no dia 29 de janeiro. Além disso, a família divulgou o caso em redes sociais e veículos de grande imprensa. No quarto dia após o desaparecimento, o corpo foi encontrado, após ser avistado por moradores do entorno do Rio Acari, já distante do local original da morte. Na verdade, a chuva da noite anterior fez subir o nível do rio, deslocando o corpo de onde estava. Neste mesmo dia nascia o segundo filho de Douglas.

O entregador deixou esposa e dois filhos, além de dezenas de amigos que o admiravam. Dona Selma, sua sogra, disse que “ele era um tipo de genro diferenciado. Nunca vi um genro que pedia a benção à sogra. Um ótimo rapaz, fazia tudo que pedíamos”.

Opressão de Classe e Raça na Sociedade Brasileira 

A morte de Douglas é mais um assassinato de um jovem negro e trabalhador no Rio. Dados do Atlas da Violência 2020 mostram que jovens negros têm 2,7 vezes mais chances de ser assassinado que um não negro. Grande parte dos assassinatos se dá por intervenção direta do Estado (polícia), de milícias ou de facções em disputa.

Tudo isso ocorre, também, em um contexto de extrema desigualdade imposta ao povo morador das favelas e ausência de políticas de Estado que não sejam a opressão policial e a força das armas.

Importante lembrar que a maior parte dos lucros com tráfico de armas ou drogas não fica nas favelas. Aliás, nem um dos produtos é feito no território, mas traficado de outras regiões. Quem realmente lucra com o tráfico é uma elite de ricos capitalistas, que também fica imune ao resultado da violência decorrente desta disputa comercial. Morando em bairros nobres ou ocupando posições importantes nos poderes judiciário, legislativo e executivo – e também nas Forças Armadas –, essa elite é a verdadeira controladora do narcotráfico em nosso país. 

Para a manutenção da opressão sobre o povo trabalhador interessa também esta divisão em territórios, dominados por diferentes grupos. Mas, é necessária a reflexão das moradoras e moradores de favelas de que são todas e todos iguais na divisão de classe e que a união e organização são a única saída para evitar mais tragédias como esta.

Direitos Sociais e Trabalhistas 

A família de Douglas, infelizmente, não conseguirá acabar com a dor da perda. Mas a legislação trabalhista ampara esposa e filhos na forma de benefícios previdenciários, os quais estão relacionados à sua condição de assalariado de carteira assinada. Este fato, por mais simples que pareça, mostra a importância da conquista deste direito por gerações anteriores da classe trabalhadora em luta pela CLT. A mesma CLT que vem sendo duramente atacada por recentes governos, inclusive pelo atual governo Bolsonaro, na tentativa de destruir, via reformas, direitos como a pensão por morte.

O acompanhamento psicológico, funerário e jurídico da situação da família também pode contar com alternativas, mesmo que com grandes dificuldades. O gabinete da deputada estadual Renata Souza (PSOL-RJ) é um dos apoios para a família nessas questões. O fato de Renata ser atualmente presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, e moradora da favela da Maré, fortalece a sensibilidade com o tema, mostrando a importância dos direitos humanos e de representações políticas com origem na classe trabalhadora. 

Com isso, concluímos que a luta por direitos sociais pode ajudar a amenizar o problema e fortalecer a batalha maior pelo fim de tamanha barbaridade contra vidas da classe trabalhadora em nossa sociedade.

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