Carolina Matos
SÃO PAULO – O mercado financeiro não tem o menor pudor em ignorar (e até mesmo lucrar) com os negativos impactos culturais e sociais da atuação de empresas de capital aberto. Um dia após o vídeo de um homem negro acusado de roubo e humilhado por seguranças de uma unidade do Assaí Atacadista viralizar nas redes sociais, as ações da empresa apareceram destacadas entre que as que apresentam alta na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. Ao longo do pregão, chegaram a estar nas dez maiores altas do dia, conforme consulta ao site InfoMoney.
“Vim aqui pra comprar e me chamam de ladrão”
O vídeo, que viralizou nas redes sociais na segunda-feira (09), mostra o momento em que o metalúrgico Luiz Carlos da Silva, um homem negro de 56 anos, foi obrigado a tirar a roupa em uma unidade do Assaí na cidade de Limeira, interior de São Paulo.
Ele foi abordado por dois seguranças da rede sob suspeita de roubo na última sexta-feira (06). As imagens mostram Luiz Carlos somente de cueca em um canto da loja. Em certo momento, ele grita aos funcionários: “eu vim aqui pra comprar alguma coisa e me chamam de ladrão”. Muitas pessoas que observavam o ocorrido criticaram a conduta dos seguranças e demonstraram solidariedade a Luiz.
A vítima contou que foi obrigada a tirar a camisa para provar que não tinha roubado nada. Diante do constrangimento, Luiz Carlos chorou muito e tirou também as calças para mostrar que dizia a verdade. Em entrevista ao portal Notícias de Limeira, declarou: “Pediram para eu tirar a camiseta, tirei. Eles (os seguranças) continuaram se olhando como se eu ainda tivesse alguma coisa na calça. Eles não pediram, mas eu tirei para mostrar que não tinha nada. (…) Começou a dar o desespero em mim, comecei a chorar mesmo. Não fui roubar nada de ninguém, não preciso, eu trabalho.”
Grandes empresas capitalistas ganham com racismo estrutural
A rede Assaí informou que demitiu o funcionário envolvido e que o segurança terceirizado que participou da abordagem foi afastado. Em nota, a empresa pediu desculpas e declarou que não adota e nem orienta abordagens constrangedoras a clientes. No entanto, sabemos que o caso de racismo em questão não está nem perto de ser pontual ou isolado.
Outras redes, como Carrefour e Big, também foram palco de abordagens racistas, humilhantes e truculentas. Diante desses casos, as grandes empresas simplesmente demitem funcionários envolvidos, como se eles não estivessem ali cumprindo exatamente a política estabelecida pelas próprias empresas. E enquanto não aguentamos mais ver nosso povo ser humilhado pela cor da pele e condição social, o racismo estrutural cai muito bem aos olhos dos grandes especuladores do mercado de ações.