Rafael Freire
Redação do Jornal A Verdade
BRASIL – Este 07 de setembro foi marcado pelos atos do Grito dos Excluídos e pelos atos golpistas convocados por Jair Bolsonaro e a extrema-direita. A diferença fundamental entre estas duas ações? Na primeira, o povo organizado em luta pela vida, pela democracia e pelo Fora Bolsonaro. Na segunda, as elites econômicas e o próprio governo financiando setores fascistas em prol de mais um golpe de Estado.
A 27ª edição do Grito dos Excluídos contou com atos nos 26 estados e no Distrito Federal, totalizando quase 200 cidades. Em São Paulo, foram cerca de 50 mil pessoas. Em Recife, Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, foram 20 mil manifestantes em cada cidade. Em Salvador, 10 mil e em Fortaleza, 5 mil. Brasília, Belém, João Pessoa, Florianópolis e Porto Alegre (estas duas últimas sob muita chuva), tiveram 2 mil pessoas nas ruas, cada.
Olhando para estes números, e diante do cenário de medo disseminado dias antes por fake news nas redes digitais (com ecos em setores atrasados da esquerda), a realização dos atos pelo Fora Bolsonaro foi uma grande vitória dos setores populares mais combativos, que não fogem à luta. Houve até parlamentares dos partidos legalistas de centro-esquerda que clamaram abertamente para a desmobilização do Grito dos Excluídos.
“Quem estava com medo de as manifestações da esquerda serem um fracasso, olharam para o lado errado. Fracasso foram as manifestações da extrema-direita. E eu falo isso principalmente pelo financiamento impressionante que houve de uma parte dos grandes empresários, latifundiários, banqueiros, que pagaram pela realização dos atos em todo o Brasil, especialmente os de São Paulo e de Brasília. Eles ainda têm uma base social que os sustenta, mas estão enfraquecidos, perdendo popularidade a cada dia”, afirma Leonardo Pericles, presidente nacional da Unidade Popular (UP).
De fato, para quem antecipou que colocaria, só na Av. Paulista, mais de dois milhões de pessoas, o ato convocado por Bolsonaro foi um fiasco, além de mais do mesmo. Defensores da ditadura militar e de um novo golpe de Estado, do “saneamento das instituições”, do fechamento do STF, etc. Segundo estimativa do Instituto DataFolha, compareceram ao ato apenas 6% do previsto.
Já na opinião de Vivian Mendes, presidente da UP em São Paulo, o ato popular no Vale do Anhangabaú foi muito importante. “A campanha de desmobilização foi enorme. Chegamos a receber vídeos ameaçadores nos grupos de mensagens. Os bolsonaristas investiram muito em criar um clima de terror na cidade. Apesar disso, tivemos um ato muito cheio e muito combativo. Ter feito uma manifestação no mesmo dia foi fundamental para não permitir que essa tática fascista de impor medo e paralisar a sociedade tivesse êxito”.
O Brasil de Bolsonaro
O Brasil conta hoje com mais de 585 mil mortos por Covid-19 (em números oficiais); com o desemprego e uma hiperinflação jogando milhões de brasileiros na fome, na mendicância, no desalento; com um Congresso Nacional vendido ao presidente para aprovar todo tipo de medida antipovo, antitrabalhador (privatizações de estatais, Reforma Administrativa, mais retiradas de direitos da CLT). Enquanto isso, a família Bolsonaro segue acumulando riqueza e escândalos de corrupção. Os filhos do presidente compram mansões e o povo na periferia é despejado de casa por não poder mais pagar o aluguel, o gás de cozinha e a feira da semana.
Sobre corrupção, merece registro que Fabrício Queiroz (amigo do presidente Jair e ex-funcionário do seu filho Flávio), aquele mesmo do esquema das rachadinhas na Alerj, foi ovacionado na manifestação golpista do Rio de Janeiro, tratado como ídolo, com direito a muitas fotos, de sorriso aberto e sem máscara. Retrato perfeito do Brasil planejado por Bolsonaro e seus apoiadores.
Segundo pesquisa do Instituto Atlas Político, divulgada no último dia 06 de setembro, 64% da população brasileira desaprova o Governo Bolsonaro. Dentro deste contingente, os jovens entre 16 e 24 anos têm índice de 73% de reprovação. Estes números dão uma amostra de como o presidente genocida se encontra isolado hoje. Mas isso não é suficiente para que ele caia de maduro. Falta mais luta de rua, falta uma greve geral da classe trabalhadora que paralise a produção até que a velha elite do país e os generais não consigam mais segurá-lo no cargo.
“O desafio agora é dar continuidade aos atos. Dia 14, por exemplo, haverá em Brasília um ato importante contra a Reforma Administrativa e, no dia 16, a articulação Povo na Rua realizará mais uma grande assembleia virtual para pautar a convocação de novos protestos nacionais. É preciso ter unidade de todas as forças de esquerda e dos movimentos para seguir na luta contra o golpe, sem aliança com a direita liberal nem ilusões de uma ‘frente ampla’. Os setores reacionários, mesmo com o fracasso dos atos do dia 07, não se deram por vencidos. Continuam avançando na sua pauta golpista. E um golpe, como a História nos mostra, só pode ser derrotado com povo na rua, mobilizado, organizado, com o objetivo de derrotar o golpe e de avançar na construção de uma democracia realmente popular”, finaliza Leonardo Pericles.