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domingo, 22 de dezembro de 2024

A revolução brasileira passa pelo relacionamento com o povo cristão

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OPINIÃOCristo ao lado dos povos oprimidos. (Foto: reprodução/Jornal A Verdade)

Logo, o cristianismo que hoje é a religião mais professada pelo povo brasileiro, vive numa disputa de narrativas, onde nos textos bíblicos se encontram histórias antigas de povos em busca da justiça e libertação, e posteriormente uma apropriação dos poderosos com intuito de domesticar os povos a obedecerem suas vontades. A Igreja Católica protagonizou diversos massacres em nome de Deus, a Igreja Evangélica posteriormente não fez diferente, mas em ambas sempre existiram os expoentes que se negavam a aceitar o subjugo dos poderosos da fé, vide Francisco de Assis, Dorothy Stang, Martin Luther King, Pedro Casaldáliga, João Cândido, Desmond Tutu, Ariovaldo Ramos, e todas e todos cristãos que resistiram à Ditadura Militar no Brasil.

Erick Padovan

As eleições de 2018 escancararam o alinhamento majoritário das igrejas evangélicas e católicas ao projeto fascista/ capitalista capitaneado por Bolsonaro e militares, porém esse alinhamento reacionário do cristianismo hegemônico, especificamente no Brasil, já existe há um tempo.

Importante em primeiro lugar lembrar as origens da fé cristã, que tem a crença histórica no judaísmo hebreu e na figura de Jesus, filho de Deus, como exemplo de vida no mundo. Este que nasceu pobre, na região da Palestina, marginalizado pelo Império Romano, e com sua família se encontrando como refugiada do poder romano. A chegada de Jesus causou grande alvoroço social na época, e assustava os poderosos (do Império e da religião judaica) que temiam que ele fosse um novo líder político, pois suas práticas de defesa dos oprimidos e anúncio de boas novas, de um novo mundo, sem injustiças, faziam “tremer na base” os que se fundamentaram na opressão do homem pelo homem, especialmente por meio da escravidão. Jesus e seus discípulos lutaram incessantemente pela libertação dos cativos e não demorou para que o Império Romano caçasse aquele que ousava se opor ao regime tirano, assassinaram Jesus após horas de tortura, como diz Frei Betto “Jesus não morreu de alguma doença, deitado numa cama, nem de desastre de camelo em uma esquina de Jerusalém. Foi preso, torturado, julgado por 2 poderes políticos e morto pelo Estado”.

Mas a fé que se seguiu mesmo após o assassinato de Jesus, se ampliou mais e mais, com suas origens que reivindicavam a libertação do povo hebreu escravizado no Egito (com a liderança de Moisés) e o exemplo de vida de Jesus na libertação dos oprimidos da época. E esse grupo, que posteriormente ficou conhecido como de cristãos, seguiu representando grande ameaça ao poder romano. O cristianismo primitivo carregava consigo grandes preceitos morais de coletividade, justiça, amor, resistência e esperança, fazendo com que mesmo sob o poder dos assassinos de Jesus e do seu povo, os cristãos resistissem e aumentassem suas comunidades. E a tática do Império, que era de massacrar os cristãos, passou a ser de legalizar a fé cristã e, posteriormente, adotá-la como religião oficial do Império Romano, de maneira oportunista, deixando de lado suas tradições religiosas politeístas.

Foi a partir desse momento, com a “conversão” de Constantino, que na verdade utilizou a religião como trampolim para ganhar apoio popular, e com a adoção oficial da religião pelo Estado feita por Teodésio, que a história cristã deu uma guinada dos oprimidos para os opressores. O Império Romano que passou a reivindicar o cristianismo, não praticava a mesma moral dos cristãos primitivos, e o que se seguiu foi o que conhecemos hoje de Roma, um governo genocida e sanguinário. Essa é a origem do que conhecemos por “igreja” – a fusão do Estado com a religião, diferentemente da concepção cristã pré-deturpação de que Igreja é o agrupamento de dois ou mais que cressem em Deus e colocassem em prática seus preceitos, não necessariamente os templos suntuosos.

Logo, o cristianismo que hoje é a religião mais professada pelo povo brasileiro, vive numa disputa de narrativas, onde nos textos bíblicos se encontram histórias antigas de povos em busca da justiça e libertação, e posteriormente uma apropriação dos poderosos com intuito de domesticar os povos a obedecerem suas vontades. A Igreja Católica protagonizou diversos massacres em nome de Deus, a Igreja Evangélica posteriormente não fez diferente, mas em ambas sempre existiram os expoentes que se negavam a aceitar o subjugo aos poderosos da fé, vide Francisco de Assis, Dorothy Stang, Martin Luther King, Pedro Casaldáliga, João Cândido, Desmond Tutu, Ariovaldo Ramos, e todas e todos cristãos que resistiram à Ditadura Militar no Brasil.

A luta dos cristãos é muito próxima à luta dos revolucionários e estas devem andar juntas, sempre que possível, em busca da revolução- vide diversas revoluções que contaram com apoio de pessoas de fé (não necessariamente apoio das instituições religiosas) como a Revolução Sandinista, a Revolução Cubana, entre outras.

É tarefa dos revolucionários estarem atentos também as contradições capitalistas que assolam a comunidade cristã, que a maior presença religiosa entre o povo mais pobre do país. Que possa ser levada a criticidade, combatido o fundamentalismo religioso e relembrada as boas novas praticadas por aqueles que estiveram nos primórdios da fé cristã e os que resistiram durante toda a história.

Eliseo Diego, poeta cubano disse em entrevista a Frei Betto (livro Paraíso Perdido – 2015) “No capitalismo não se nega Deus filosoficamente, mas na prática, no modo como se idolatra o dinheiro”.

 

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