Ex-governador teve vida marcada pela luta em defesa da democracia, soberania nacional e da educação. Contra o golpismo e o imperialismo, pegou em armas, estatizou empresas e construiu escolas.
Felipe Annunziata | Redação Rio
BRASIL – Hoje (22), completam-se 100 anos do nascimento do ex-governador Leonel Brizola. Uma das maiores lideranças nacionalistas e democráticas do Brasil no século XX, Brizola teve sua trajetória marcada pelo enfrentamento ao golpismo, pela defesa da soberania nacional e da educação pública.
Nascido na cidade de Carazinho (RS), Brizola foi governador do Rio Grande do Sul entre 1959 e 1963 e duas vezes governador do Rio de Janeiro (1983-1987 e 1991-1994). Durante seus governos, defendeu a universalização da educação pública básica e as empresas estatais.
Enfrentamento ao golpismo das Forças Armadas
Em 1961, enquanto governava o Rio Grande do Sul, o líder trabalhista distribuiu armas para a população para evitar que um golpe militar impedisse a posse do presidente legítimo João Goulart. Antes, ele já havia estatizado empresas do ramo da energia que antes eram controladas por multinacionais estadunidenses.
Quando ocorreu o golpe militar de 1964, Brizola foi um dos principais defensores de que Jango pegasse em armas contra a ditadura militar fascista que se impunha no Brasil. Com a desistência e saída do aliado do Brasil, ele vai para o exílio durante 15 anos, de onde faz a denúncia dos ataques da Ditadura ao povo brasileiro.
Defesa da educação pública, gratuita e universal
Brizola foi um dos primeiros políticos brasileiros a defender abertamente a educação pública universal. Seus governos no RJ e no RS foram marcados pela construção de milhares de escolas. No Rio, o projeto ficou conhecido pela construção dos CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública), que implantou junto com o educador Darcy Ribeiro e o arquiteto comunista Oscar Niemeyer.
Até a promulgação da Constituição de 1988, no Brasil a educação não era considerada uma obrigação do Estado. As escolas públicas eram frequentadas apenas por algumas pessoas das classes médias e poucos filhos e filhas de trabalhadores tinham acesso ao ensino.
Essa situação ocorria pois, até 1988, o voto era proibido para analfabetos. As oligarquias locais impediam a expansão do ensino de forma a controlar os eleitores nas eleições. Com a construção das escolas, Brizola enfrentava os interesses dessas elites reacionárias.
O reformista mais radical
Leonel Brizola não foi um revolucionário. Na realidade, ele sempre defendeu reformas estruturais do capitalismo brasileiro. No entanto, ao contrário de muitos personagens sociais-democratas de ontem e de hoje, nunca se iludiu com a conciliação com as elites reacionárias.
Defensor da unidade latino-americana, se solidarizou com a luta revolucionária em Cuba, no Chile e em outros países da nossa região. Enquanto esteve nos governos sempre criticou a posição das potências imperialistas e fez uma das principais oposições dentro da institucionalidade às políticas neoliberais do governo federal na década de 1990.
De fato, o ex-governador, enquanto pôde, enfrentou os grandes monopólios do imperialismo norte-americano, defendeu a ampliação da democracia no Brasil, a soberania nacional e o direito à educação. Sem dúvida, foi um dos grandes nacionalistas e patriotas de todo o século XX em nosso país.