É impossível ser cristão e explorar o povo: resposta à Igreja Universal

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MERCADORES DA FÉ. Ao contrário da Universal, Jesus lutou contra a acumulação de riquezas e pela felicidade dos pobres (Imagem: Reprodução)

O verdadeiro motivo das lideranças da Igreja Universal publicarem um artigo criminoso em seu jornal é o desespero. Depois de três anos apoiando o governo genocida de Bolsonaro, Edir Macedo & cia. não sabem como sair da armadilha que criaram. 

Felipe Annunziata | Redação Rio


OPINIÃO – Ontem (24), foi publicado no jornal “Folha Universal”, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), um artigo intitulado “5 motivos que mostram que é impossível ser cristão e ser de esquerda”. Mostrando sua verdadeira face reacionária, a organização liderada pelo milionário bispo Edir Macedo, suspeito de envolvimento em esquemas de corrupção e sonegação, tenta se utilizar da sua mídia para enganar a população.

No artigo, a IURD lista cinco motivos que, segundo ela, definiriam o cristianismo e seriam opostos a cinco supostos princípios da esquerda. Com um monte de mentiras e difamações, o artigo basicamente diz que os cristão são moralmente obrigados a serem de direita e defender o capitalismo.

As 5 mentiras contadas pela Igreja Universal

No primeiro motivo, a igreja do bispo Macedo afirma que eles “defendem a família”, enquanto a esquerda “incentiva a liberdade do uso de drogas” e o fim da família “convencional”. Nada mais mentiroso. Nenhuma organização de esquerda incentiva consumo de qualquer droga. Na realidade existe uma diversidade de opiniões na esquerda sobre a questão da legalização das drogas. Inclusive, as primeiras campanhas massivas feitas pelo poder público contra o alcoolismo, por exemplo, foram na antiga União Soviética, inspirada pelo ideal socialista que todos devem ter acesso à vida digna e com saúde.

Quanto à defesa da família “convencional”, a esquerda de verdade defende a liberdade de todas as pessoas constituírem suas famílias, independente de orientação sexual ou identidade de gênero, e todas elas devem ser reconhecidas pelo Estado. Nada tem a ver com a liturgia do casamento das igrejas.

No segundo motivo, a Universal diz que o cristianismo se opôs ao Império Romano, que oprimia cristãos, enquanto que a esquerda produziu “ditaduras que oprimiram o povo”. De fato, Cristo e os primeiros cristãos foram contra os romanos, pois esse império espoliava os povos de todo o Mediterrâneo com altos impostos e trabalho escravo. O que a IURD chama de “ditaduras que oprimiram o povo”, na verdade foram governos revolucionários que por décadas garantiram uma vida digna para seus povos, o fim do desemprego, do analfabetismo e da exploração do homem pelo homem. 

O sr. Edir Macedo se diz contra a opressão, mas sua igreja defende um criminoso [o fascista Bolsonaro] responsável pelo fim do direito de se aposentar e a morte de mais de 620 mil pessoas por uma doença para a qual já há vacina. Contraditório, não?

Bispo Macedo e Bolsonaro: IURD é uma das maiores apoiadoras do governo do ex-capitão (Foto: Reprodução)

O terceiro motivo é um dos mais absurdos. Aparentemente, os editores da “Folha Universal” nunca leram a Bíblia direito. Segundo eles, o “princípio básico do cristianismo é a existência de Deus e a entrega a Ele”, ao passo que a esquerda teria por princípio negar a existência de Deus. 

A própria Universal entra em contradição com a Bíblia, que afirma com todas as letras que Jesus defendia o amor como principal mandamento, ou seja, como “princípio básico” (ver I Jo 4:20-21). Por outro lado, a esquerda nunca impôs nenhuma visão religiosa a ninguém. 

Na realidade, a esquerda defende a liberdade religiosa, inclusive a de se não ter religião nenhuma e ser ateu. Ao contrário dos pastores da Universal, não perseguimos pessoas, como os candomblecistas e umbandistas, simplesmente por terem sua fé. 

O quarto motivo elencado pelo grupo de pastores milionários da Universal é que supostamente a Bíblia diria que “o que está à esquerda” é errado, citando, para isso, passagens do Evangelho de Mateus e do Livro de Eclesiastes. Além de serem passagens tiradas de contexto de livros escritos há mais de 2 mil anos (prática comum usada pela Universal para extorquir fiéis), a IURD mente, uma vez que naquela época sequer existiam os conceitos políticos de esquerda e direita. 

Usando-se desse falso argumento, a igreja do sr. Macedo se justifica dizendo que a “esquerda combate a Igreja porque ela abre os olhos da população quanto ao que é certo e errado”. Será que é isso mesmo? O que de errado a Universal denunciou nos três anos de governo Bolsonaro? As rachadinhas, a corrupção, o negacionismo, a defesa de assassinato e tortura de inocentes? Não. Sobre isso a IURD calou-se. Aliás, quando foi lucrativo pro bispo Macedo, ele e seu sobrinho Marcelo Crivella não cansavam de tirar fotos ao lado de Lula e ministros do PT. O próprio Crivella foi ministro do governo Dilma.

Marcelo Crivella, o bispo-prefeito, sendo levado preso pela polícia acusado de corrupção (Foto: Reprodução)

Finalmente, o último “argumento” acusa a esquerda de “precisar do conflito para se manter”, e termina com a sentença de que “quem instiga o ódio é o diabo”.

Porém, basta ir a um culto da Universal ou assistir a um dos muitos programas de rádio ou TV pagos com as contribuições dos fiéis para perceber que quem instiga o ódio na sociedade são os pastores milionários da Universal e outras denominações com suspeitas de corrupção. Afinal, são esses mercadores da fé alheia que se usam do púlpito para defender o corrupto, violento, defensor da ditadura e da milícia Jair Bolsonaro. Aparentemente, os pastores da Universal andam mais perto do diabo do que eles imaginam…

Padre Júlio Lancellotti, exemplo de verdadeiro cristão (Foto: Reprodução)

Lideranças da Igreja Universal não representam população cristã

O verdadeiro motivo das lideranças da Igreja Universal publicarem um artigo criminoso em seu jornal é o desespero. Depois de três anos apoiando o governo genocida de Bolsonaro, Edir Macedo & cia. não sabem como sair da armadilha que criaram. 

Como justificar perante uma fé que defende o amor acima de tudo a defesa de um governo de ódio e morte? Como justificar para seus fiéis, em sua maioria trabalhadores pobres e desempregados, o apoio a um governo que arrocha os salários, aumenta o desemprego e acaba com o direito à aposentadoria? Como justificar o apoio a um governo racista e machista para milhões de fiéis, muitos deles mulheres negras?

A mentira virou a nova arma daqueles que dizem pregar a verdade. E a Universal maneja bem essa arma, acusando os outros daquilo que ela faz. 

Ainda bem que do lado de cá, do lado de quem realmente defende a vida e o amor ao próximo, temos cristãos como o Padre Júlio Lancelotti, Frei Gilvander Moreira, Pr. Henrique Vieira, Frei Betto e tantas outras lideranças católicas e evangélicas que tentam pôr em prática os princípios de Cristo: o amor, a fraternidade e a comunhão.