A atividade aconteceu na sede da Associação de Moradores de Acari, na Zona Norte da cidade, e contou com a presença de cerca de 30 moradores de treze comunidades onde o movimento organiza seus núcleos de base.
Juliete Pantoja
Coordenadora do MLB-RJ
LUTA POPULAR – O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) realizou no último domingo (30/01) seu 1º Encontro de Moradores de Favelas do Rio do Janeiro. A atividade aconteceu na sede da Associação de Moradores de Acari, na Zona Norte da cidade e contou com a presença de cerca de 30 moradores de 13 comunidades onde o movimento organiza seus núcleos de base.
Nem mesmo a chuva que caia na cidade desde a noite anterior foi capaz de desmotivar a atividade, que iniciou com um acolhedor café da manhã coletivo e a recepção feita pela companheira Elza Maria, da Coordenação Nacional do MLB.
Elza é moradora da ocupação Vito Giannotti, localizada no Morro do Pinto, área central do Rio de Janeiro. Segundo ela, o objetivo do encontro foi trocar experiências e conhecimento sobre a realidade das favelas, além de debater os rumos da luta nesses territórios. “Sabemos a importância que tem organizar a luta nessas comunidades, pois é lá que grande parte dos trabalhadores moram, enfrentando todos os dias as consequências do abandono do Estado”, disse.
O Encontro de Favelas do MLB também contou com a participação de diversas lideranças, entre elas o presidente da Unidade Popular no Rio de Janeiro, Esteban Crescente, morador da favela de Acari, que falou sobre a importância da organização popular nos territórios das favelas. “O Poder Popular pelo qual lutamos será obra da classe trabalhadora e do povo pobre. Por isso, organizar os moradores das favelas é fundamental para ganhar o conjunto da classe para essa luta”, afirmou.
Também moradora de Acari, Jéssica Raul reforçou a necessidade das organizações populares se conectarem com a realidade local, falando a sua língua e reconhecendo a cultura desenvolvida nas favelas, que não é feita só de potências não desenvolvidas, mas que é produzida e expressada de diversas formas.
Enfrentamento à violência nos territórios
Um tema central no debate sobre as favelas é a questão da segurança pública. Para o histórico militante de direitos humanos Deley de Acari, presente no encontro, esse debate deve ser enfrentado com seriedade pelos partidos e organizações comunitárias e passa por exigir controle através da participação popular no orçamento do Estado, permitindo a construção de oportunidades de emprego e educação para os mais jovens.
Deley também relatou um pouco da história de Acari. Segundo ele, “desde 1982 a comunidade é atendida pela mesma oferta na potência da rede elétrica, o que nos dias atuais provoca constantes quedas de luz como resultado do aumento do número de famílias e do próprio desenvolvimento do comércio local”. Para Deley, os jovens estudiosos de Acari deveriam cursar Economia nas universidades e falar sobre tudo isso, em especial sobre a economia gerada na própria favela, e não só sobre a violência, que é o assunto principal nas teses de mestrado e doutorado que a descrevem.
Nesse sentido, Juliana Alves, diretora da Associação de Moradores do Morro Vital Brazil, em Niterói, e militante do MLB, acredita que “a favela precisa ser disputada para a consciência coletiva”, citando como exemplo o trabalho do Partido dos Panteras Negras, que atuou nas periferias dos EUA entre as décadas de 1960 e 1980, organizando ações de enfrentamento à fome, além de construir escolas e postos de saúde comunitários para atender a população negligenciada pelo governo.
Agenda de lutas
O encontro debateu um pouco das demandas e pautas de lutas a serem tocadas pelo MLB nesses territórios. Em Niterói, o movimento desenvolverá atividades junto ao Movimento de Mulheres Olga Benario para cobrar a reabertura da creche do morro Vital Brazil, fechada há sete anos, deixando sem assistência dezenas de crianças e pais que não têm com quem deixar os filhos para trabalhar.
Outras lutas estão sendo planejadas pelos núcleos de base do MLB nas três favelas do Complexo da Maré. Josivan Gomes, morador de uma dessas comunidades, ressaltou a necessidade de promover cursos profissionalizantes e oportunidades de emprego para os moradores da favela. “A juventude da Maré precisa de capacitação e incentivo para o primeiro emprego”, defendeu.
Falta de oportunidade de trabalho e formação também estiveram presentes na fala de Maria Alice, da comunidade da Mangueira, que fez questão de ressaltar que as mulheres negras são as principais atingidas pelo desemprego. “Além disso ser resultado da herança da escravidão, se perpetua nos dias de hoje, quando as mesmas mulheres negras, moradoras das periferias, quase sempre só encontram trabalho com baixa remuneração e muito esforço físico”, disse, numa fala que foi uma verdadeira aula para todos os presentes.
Para o companheiro Renan Carvalho, da Coordenação Estadual do MLB-RJ e morador do morro São João, “fechamos a atividade com chave de ouro, com muitas novas ideias de atividades que podem ser realizadas pelos núcleos, movimentos parceiros e lideranças comunitárias que entendem, assim como o MLB, que só com luta e organização popular é possível construir justiça social de fato”.
Nas próximas semanas, o MLB, em conjunto com a UP e a Articulação Povo Na Rua, vai promover grandes manifestações nas periferias contra a fome e a carestia, pelo Fora Bolsonaro e pela derrubada imediata desse governo genocida.