UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sábado, 21 de dezembro de 2024

Sobre os atrasos

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Hendryll Luiz


SÃO PAULO – Ser comunista é ter que administrar o tempo melhor do que qualquer outra figura da sociedade. Nas nossas fileiras estão os mais pobres, trabalhadores dos centros caóticos, que também são moradores dos bairros mais distantes. Por conta disso o tempo se torna escasso e a falta de organização do tempo podem gerar frequentes atrasos.

A busca pela acelerada reprodução de capital no sistema capitalista se expressa na frase “tempo é dinheiro”. Nessa lógica, a burguesia tenta sugar ao máximo nossas energias aumentando as jornadas de trabalho e estendendo o trabalho até nossas casas. Pior ainda quando se é mulher, com a dupla ou tripla jornada. Parece não ter solução.

Mas G. Dimitrov, em 1946, já apontava que o problema era a solução quando dizia que “se pudéssemos aumentar o dia de 24 horas para 48 horas, ainda sim seria pouco” e também que “o único modo [de resolver a falta de tempo] é organizar inteligentemente e racionalmente nosso tempo.” 

Isso quer dizer que ter organização do tempo é imprescindível para o militante cumprir seus prazos, tarefas e chegar no horário em suas atividades e reuniões. Existem recortes e algumas situações saem do nosso controle, mas a esmagadora maioria dos casos não foge dessa organização do tempo. 

A crítica e a autocrítica como raízes da solução 

Se pergunte: “quantas vezes me atrasei essa semana? E nesse mês?” E se tiver uma recorrência a primeira coisa a se fazer para mudar essa situação é ser sincero consigo mesmo e com o partido, não buscar justificativas que possam passar o pano e polir seu erro.

Esse primeiro passo possibilita uma visão realista dos motivos que impulsionam os atrasos, possibilita a entrada verdadeira da ciência da crítica e autocrítica e, após isso, uma solução coletiva do problema. Digo “verdadeira”, pois uma forma de desconsiderar essa ciência é aguardar a próxima reunião para rediscutir o mesmo tema, na mesma falha, quando acontecer novamente.

Pode ser mais grave ainda, gerando mais danos para a organização inteira quando não discutimos os atrasos nas nossas reuniões. É necessário estar convencido de que precisamos melhorar a todo momento, tal como estamos convencidos que o sistema capitalista já não tem nada a nos oferecer além de exploração. 

O segundo passo é enxergar o esforço coletivo para cumprir a tarefa. Não podemos esquecer que a força da nossa organização proletária está na unidade de ação e de pensamento e que uma única disciplina deve cobrir todos os militantes da organização. 

Logo, o atraso se torna um grande problema, pois, se aceitarmos de forma passiva que o nosso tempo – mesmo que por alguns minutos – sobreponha o tempo do coletivo, dizemos em ações que o nosso tempo é mais importante que de todo o partido e toda causa da humanidade. Aceitamos o individualismo ao invés da moral revolucionária.

Ho chi Minh dizia sobre o individualismo que “por menos que reste ainda na pessoa, o individualismo espera a ocasião propícia para desenvolver-se e eclipsar a moral revolucionária, para impedir-nos a inteira devoção à luta pela causa revolucionária”.

A visão realista passa por entender quais são as distâncias reais a se alcançar

Quantos dias para terminar de ler tal texto? Quantos quilômetros ou horas de distância até a tarefa? Todas essas perguntas devem ser esclarecidas com antecedência e mais, o acúmulo histórico diz que nossa avaliação tem de ser a de que um comunista, contando sempre com a possibilidade de ocorrer imprevistos. Nós não podemos ser surpreendidos e ficarmos a reboque dos acontecimentos.

Ademais, a luta política vai além da desorganização pessoal, mas entendendo que a burguesia busca a todo custo roubar nossa atenção. Um exemplo disso é o algoritmo nas redes que rouba nossas informações e cria padrões de comportamento capazes de colocar na nossa tela aquilo que mais nos chama atenção. É preciso estar atento! 

Disciplina Revolucionária

Camaradas, precisamos dedicar um tempo específico para organizar nosso tempo e assim dar cabo de tantas atividades e da vida com a qualidade necessária. Devemos organizar horário para tudo: ir a museus, ter convívio com as pessoas ao seu redor, estudar, praticar exercício físico, etc. Todas essas coisas são atividades revolucionárias. Mas sempre parece que não temos tempo.

EmHá que se cuidar do Broto”, o companheiro Luiz Falcão faz uma reflexão sobre nossas prioridades: “Pois bem, se não temos tempo, então, a primeira coisa a fazer é refletir sobre o que estamos fazendo com o nosso tempo e que prioridades estamos estabelecendo em nossas vidas. Afinal, se existe algo que um revolucionário precisa ter é tempo para cumprir suas tarefas revolucionárias.”

O que daremos de nós hoje para que a revolução aconteça mais rapidamente? 

Devemos nos sentir parte fundamental desse processo, pois, como Bertold Brecht disse “o partido veste sua roupa, camarada, e pensa com a sua cabeça”, certamente se atrasa quando nos atrasamos.

O início de uma reunião, por exemplo, deve ser tão pontual quanto o teto. A hora de chegar é tão importante quanto a de sair. Quando atrasamos uma reunião estamos retirando a qualidade das nossas discussões, logo, tiramos a qualidade dos nossos trabalhos de massa, que por vezes ficam sem coesão por conta dessa falta de tempo na reunião.

Vemos aqui que a responsabilidade não é só individual, mas coletiva. A pontualidade ajuda a assegurar que todas as coisas sejam feitas e que saiam do papel.

Portanto, a crítica é fundamental e devemos criticar e apontar uma solução utilizando o ensinamento de Che, que dizia que deveríamos “endurecer sem perder a ternura”. Isso é, dar espaço para que o companheiro ou a companheira ou o coletivo tenha as condições necessárias para entender e fazer a sincera autocrítica, buscando sempre a melhoria.

Por fim, devemos zelar pela nossa segurança e a segurança dos nossos camaradas. Um atraso pode custar uma vida revolucionária nesse sistema capitalista e a pontualidade, além de ajudar a garantir a existência da nossa organização, é também uma arma contra os exploradores. 

Somente com uma disciplina revolucionária férrea, forjada no fogo da luta, tendo o tempo como aliado, poderemos combater os furos de organização que geram o atraso. Assim como combater os atrasos é fortalecer a disciplina revolucionária em todos os espaços da nossa organização.

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