A insurreição de 1935 mostra que a revolução brasileira não tem nada de utópica, não é algo que só pode ser feito daqui há centenas de anos. A revolução é extremamente urgente e necessária e, acima de tudo, é possível!
Matheus Araújo
Natal (RN)
LUTAS DO POVO BRASILEIRO – “Lembrai-vos 35!”, gritam, sempre que podem, os reacionários, aqueles que ousam chamar a insurreição de 1935 de intentona comunista, que seguem até hoje inventando seus falsos heróis, contabilizando centenas de mortes que não ocorreram e que sempre estiveram do lado contrário ao povo brasileiro.
Nunca coisa concordo com eles: realmente nós devemos lembrar de 1935.
Em 1935, o povo brasileiro, assim como em quase todos os momentos da sua história, enfrentava uma grave crise política e ainda se recuperava de uma forte crise econômica. O povo sofria com vários atos antidemocráticos do governo Vargas. Naquela época, o Brasil era um verdadeiro barril de pólvora.
Em Natal, especificamente, o descontentamento vinha de vários setores da sociedade, em especial dos trabalhadores e militares, que se organizavam contra os ataques do governo Rafael Fernandes Gurjão, que tinha sido eleito em um processo bastante controverso, com várias acusações de golpe, realizando uma verdadeira caça aos seus rivais políticos.
No dia 23 de novembro, se inicia o processo da insurreição na capital potiguar, fruto de uma rebelião dos soldados do 21º BC, que acaba sendo liderada pela direção estadual do PCB e da ANL. Os militares revoltosos rapidamente tomam o poder do batalhão sem enfrentar grandes problemas. Em algumas horas, conseguem prender oficiais e soldados contrários à revolução. Com o apoio de vários militantes, trabalhadores e do movimento de mulheres, iniciam a ocupação de órgãos estratégicos.
Ali é instaurado um comitê popular e revolucionário, dirigido por um sapateiro e dirigente do partido comunista, além de um militar, um trabalhador dos correios, um professor e um policial civil. O comitê começa a governar estabelecendo o passe livre nos bondes, além de escrever e publicar o jornal A Liberdade, a imprensa dos revolucionários.
Em dois dias, os revolucionários organizam colunas divididas em três comandos que conquistam o poder de 17 cidades do RN, espalhando a revolução pelo interior do Estado, organizando os trabalhadores e militares para participar da revolução.
A revolta não estava planejada para iniciar naquela data. Começou como uma movimentação de soldados rebeldes do 21º BC, que acabou sendo dirigida pelos comunistas. A falta de centralização deu todas as oportunidades possíveis para o governo Vargas, com todo o aparato do Estado, esmagar os levantes que também ocorreram em Pernambuco e no Rio de Janeiro.
No dia 27, tropas da Paraíba e de Pernambuco tomam de volta o poder no Rio Grande do Norte. A maior parte da direção consegue ir para clandestinidade, centenas de civis e militares são presos pela polícia política de Vargas, sofrendo torturas e vários foram assassinados.
A burguesia, então, inicia uma forte agitação anticomunista. Começa a se propagar o termo “intentona” (que quer dizer tentativa frustrada). Se engana quem acha que fake news são novidades. Em 1935, a burguesia investe pesado em conseguir forjar diversas mentiras. Dizem que os comunistas mataram centenas de patriotas, inventam o mito do soldado Luiz Gonzaga, que nunca existiu de verdade e até hoje é o patrono da Polícia Militar no RN. Os responsáveis pela morte de diversos revolucionários ainda hoje nomeiam escolas e avenidas no Brasil inteiro.
A insurreição de 1935 é um grande exemplo de combatividade e luta do povo brasileiro, junto com outras tantas mobilizações e lutas. Vamos lembrar que somos o país de Canudos, do quilombo dos Palmares, da Cabanagem, da luta de Tiradentes, da luta contra a ditadura militar. Devemos lembrar com muito orgulho de todas essas experiências, educar o povo mostrando o que a burguesia sempre tentou esconder. Todas essas lutas históricas rebatem o mito de um povo acomodado.
Mas, acima de tudo, a insurreição de 1935 mostra que a revolução brasileira não tem nada de utópica, não é algo que só pode ser feito daqui há centenas de anos. A revolução é extremamente urgente e necessária e, acima de tudo, é possível!