Desmatamento não para de aumentar sob o governo de Bolsonaro. Somos possivelmente a última geração a poder defender essa luta antes que seja tarde demais. A luta ambiental é uma luta revolucionária!
Gabriella Massafera, Ketelyn Silva, Vinicius Bastos – Estudantes da UFABC e militantes da UJR
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Segundo o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), o mês de fevereiro teve o maior nível de desmatamento da Amazônia para este mês, desde 2015. Os alertas de desmatamento abrangeram – um aumento de 62% em relação ao mesmo mês do ano passado.
O tema tem elevada significância para o Brasil, visto que o setor pecuário – carro-forte do agronegócio nacional – é um dos principais contribuintes ao aquecimento global. Não apenas a pecuária bovina é responsável pela maior parte da emissão de gases-estufa, como o metano (CH4), como são as empresas de grandes fazendeiros e latifundiários os principais responsáveis pela expansão das queimadas.
Vale lembrar que o uso das queimadas é uma fundamental ferramenta de limpeza do campo para a criação de gado. Com frequência, latifundiários costumam empregar pessoas nas estações chuvosas para realizar o desmatamento ilegal de áreas preservadas afim de incendiá-las no período de estiagem.
Evidenciamos esses processos com cada vez mais frequência e intensidade – na Floresta Amazônica, no Pantanal, no Cerrado e no MATOPIBA (região de transição entre o Cerrado e o Agreste nordestino). E cada vez mais evidencia-se o desmonte dos órgãos de fiscalização e preservação, tal qual a perseguição dos servidores públicos responsáveis pelo combate aos responsáveis por esses atos criminosos.
Crimes ambientais como os rompimentos das barragens nas cidades de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, que resultaram juntos nas mortes de 281 pessoas e acarretaram na contaminação de ecossistemas inteiros, mostram claramente o descaso do capitalismo para com a natureza e a vida humana na sua manutenção da produção de riquezas para o capital privado.
Ademais, não podemos esquecer como os interesses privados não apenas ameaçam os interesses do povo, mas também estabelecem alvos específicos para semear ataques e massacres. O capital privado ameaça e afronta, diariamente, a própria sobrevivência de muitas populações e povos periféricos do Brasil.
São os povos e as comunidades originárias – caiçaras, quilombolas e indígenas – que se encontram sob constante ataque. Seus povos têm suas terras ameaçadas por garimpeiros, por latifundiários e por mineradoras que buscam sua expulsão para a exploração econômica de seus territórios.
Cada vez mais, os cenários nacional e internacional trazem à tona questões referentes ao manejo ambiental das autoridades e de grupos econômicos. Durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 26), diversos movimentos sociais evidenciaram a falta de ação e a hipocrisia burguesa em seus governos e suas empresas frente às crises climáticas.
A falsa ideia de “sustentabilidade” ou “capitalismo verde” não responde à contradição central no atual debate ambiental. Contradição expressa pelo fato de que o capitalismo não é capaz de solucionar os desastres climáticos, porque o mesmo é o sistema de manutenção e expansão dessas crises e desastres ambientais.
A sustentabilidade sob o capitalismo é uma falácia por negar a inerente violência do modelo exploratório do capitalismo – como se fosse possível preservar enquanto se explora incessantemente a terra, as florestas e os povos. Os interesses desse sistema de produção não são e nunca serão os do nosso povo.
Em meio a esse cenário, a luta de classes se expressa cada vez mais no debate climático. São os países periféricos e o povo pobre os mais afetados pelos desequilíbrios ambientais decorrentes da produção econômica das potências imperialistas.
Devemos olhar com indignação e revolta à expansão de guerras hídricas, ao imperialismo que descarta lixo em países pobres, aos crimes ambientais de grandes mineradoras e garimpos, ao aumento dos períodos de seca e ao desaparecimento de nações insulares em decorrência do aumento dos níveis dos oceanos.
Não serão convenções e conferências burguesas que solucionarão o abismo climático ao qual a produção capitalista nos levou, serão os povos e movimentos organizados sob a vanguarda de partidos revolucionários. Não conquistaremos o mundo novo pela simples cobrança de empresas e Estados burgueses, mas da organização para implementação de um novo programa verdadeiramente ecológico e popular.
Somos possivelmente a última geração a poder defender essa luta antes que seja tarde demais. Afinal, a luta ambiental é uma luta revolucionária! E a luta em favor da justiça ambiental deve ser, necessariamente, uma luta pelo socialismo – a verdadeira e a única solução para a catástrofe climática.