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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Inflação corrói salário dos trabalhadores

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FOME. Voluntários distribuem comida à multidão no Rio de Janeiro (Foto: Reprodução/EFE)

Apesar de o governo Bolsonaro se esforçar para jogar a responsabilidade pelo descontrole da inflação nos outros, a maioria do povo tem certeza de que a culpa é do ex-capitão. Segundo pesquisa divulgada pelo Datafolha, em março, 75% da população afirmam que Bolsonaro é o principal responsável pelo aumento do custo de vida. 

Heron Barroso
Redação Rio


BRASIL – Se fosse preciso resumir em uma frase a atual situação da economia brasileira, esta seria: “está tudo caro”. Nas lojas e supermercados, prateleiras cheias contrastam com sacolas vazias e pessoas indignadas com o aumento assustador do custo de vida.

Em 2021, a inflação no Brasil foi de 10,06%, segundo o IBGE, bem acima do objetivo fixado pelo Banco Central de 3,75%. Essa é a maior taxa desde 2015, e não para de subir mês a  mês. Em fevereiro, a cesta básica registrou aumento em todas as 17 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). São Paulo é a cidade onde a cesta é mais cara (R$ 715,65), seguida por Florianópolis (R$ 707,56) e Rio de Janeiro (R$ 697,37). No nordeste, Fortaleza é a capital com o maior valor (R$ 609,60).  

Embora estejamos apenas em abril, os economistas acreditam que já não é possível, para o governo, controlar a inflação neste ano. “O controle da inflação está perdido desde o começo do ano. Agora, ainda mais. Desde o começo de 2022, se imagina uma inflação alta. Para o próprio Banco Central, o controle neste ano já está praticamente fora do horizonte”, afirma o economista Alexandre Schwartsman, sócio da consultoria Schwartsman & Associados.

Esse aumento nos preços das mercadorias e serviços atinge em cheio o bolso daqueles que vivem do próprio trabalho. “Toda vez os produtos estão mais caros. A bandeja do peito de frango está custando quase 20 reais; o café, que era nove, agora é 18 reais. Assim não tem salário que chegue”, reclama a diarista Antônia Moura da Silva, 59 anos. 

Dona Antônia tem razão. No ano passado, o poder de compra dos trabalhadores despencou, tendo o menor valor em relação à cesta básica desde 2005, de acordo com o Dieese. 

A lista dos produtos que mais aumentaram os preços nos últimos 12 meses é longa, com destaque para a cenoura (83,42%), o café (61,19%), o açúcar (43,77%), o fubá de milho (31,76%), o tomate (31,33%), a batata-inglesa (23,49%) e o frango (29,85%). Não bastasse, no final de março, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos divulgou um novo reajuste de quase 13% no valor dos medicamentos, que entrou em vigor no último dia 1º de abril. 

Maioria culpa governo pela inflação

Apesar de o governo Bolsonaro se esforçar para jogar a responsabilidade pelo descontrole da inflação nos outros, a maioria do povo tem certeza de que a culpa é do ex-capitão. Segundo pesquisa divulgada pelo Datafolha, em março, 75% da população afirmam que Bolsonaro é o principal responsável pelo aumento do custo de vida. 

Para tentar conter a inflação, o governo vem elevando a taxa básica de juros, a Selic, que já está em 11,75% ao ano. Porém, o principal resultado dessa política é o aumento da dívida pública e do endividamento das famílias, já que o crédito oferecido pelos bancos fica mais caro. 

Segundo levantamento da Instituição Fiscal Independente (IFI), elevar a taxa Selic em 1% significa R$ 53 bilhões a mais de pagamento de juros da dívida aos bancos e especuladores. Ao mesmo tempo, o endividamento da população atingiu o maior patamar em 12 anos, afetando 76% das famílias brasileiras.

A verdade é que, no governo Bolsonaro, tudo aumenta, menos o salário dos trabalhadores. Em 2022, o salário mínimo foi reajustado abaixo da inflação pelo terceiro ano consecutivo. O valor atual de R$ 1.212 é quase cinco vezes menor que o salário mínimo ideal para atender às necessidades de uma família de quatro pessoas que, segundo o Dieese, deveria ter sido de R$ 6.012,18 em fevereiro.

Aumento da fome

Outros vilões bem conhecidos da inflação foram os combustíveis. Devido à privatização da Petrobras e à política de preços da companhia, que expõe o país às flutuações do preço do petróleo no mercado internacional e às variações do dólar, o etanol subiu 62,23%, a gasolina 47,49% e o diesel 46,04%, sem falar do botijão de gás, que ficou 36,99% mais caro no último ano.

Sem dinheiro para comprar gás, é comum nos bairros pobres ver famílias usando álcool para cozinhar. “Eu não tenho opção: ou compro o gás ou a comida”, explica o catador de latinhas Weverton Santos, de 30 anos, morador da periferia de Maceió (AL). Em consequência do aumento no valor do botijão, cresceu também a quantidade de pessoas vítimas de acidentes domésticos enquanto cozinham na lenha. Segundo os médicos, esses ferimentos causam uma dor insuportável e levam meses para sarar completamente. 

Da mesma forma, outra dor, igualmente insuportável, vem sendo sentida por um número cada vez maior de pessoas em nosso país: a barriga vazia. Já são 19 milhões de brasileiros que não  sabem como conseguirão – ou se conseguirão – o próximo prato de comida. Ao todo, 116,8 milhões de pessoas estão em risco de deixar de comer por falta de dinheiro.

O problema é tão grave, que muitos profissionais de saúde relatam que, nos últimos meses, têm percebido um aumento no número de pessoas que dão entrada nos postos de saúde acreditando que estão doentes, quando, na verdade, estão famintas. “Todas as semanas, atendo mais ou menos cinco pacientes dizendo que estão doentes, mas, quando examinamos, notamos que, na verdade, não é doença, é fome”, disse uma médica que trabalha na unidade de saúde de Sobradinho, cidade-satélite do Distrito Federal, em entrevista ao site do jornal El País.

Com o aumento de preço dos alimentos, população tem diminuído quantidade de produtos da lista de compras do mês (Foto: Reprodução/EFE)

Uma economia a serviço dos ricos

Mas por que viver no Brasil está tão caro, se nosso país é um dos maiores produtores de arroz, feijão, carne, frango, frutas, soja, milho, café, açúcar e petróleo do mundo? Por que os trabalhadores, que produzem tantas riquezas, ganham mal, precisam passar pela humilhação da fila do osso e muitos não têm sequer uma refeição por dia garantida? 

Os economistas burgueses afirmam que essa crise é passageira e que, com o tempo, a economia voltará a crescer e os preços se estabilizarão. Outros dizem que o aumento dos alimentos, do gás, do aluguel, das contas de água e luz e do transporte é culpa da pandemia e, agora, da guerra na Ucrânia. Buscam, dessa maneira, impedir que os trabalhadores e o povo pobre percebam o verdadeiro motivo de tamanha desigualdade social e injustiça: o modo de produção capitalista.

Nesse sistema, as fábricas, as terras, as máquinas, os prédios, os transportes, enfim, todos os meios de produção são propriedades privadas de um punhado de ricaços. Por isso, todos os produtos fabricados pelos trabalhadores e todos os alimentos produzidos pelos camponeses e pelos operários agrícolas se destinam à venda, ao mercado, para que o patrão lucre e fique mais rico. Ou seja, no capitalismo, os alimentos não são produzidos para alimentar as pessoas, mas para enriquecer a burguesia e, por isso, ela sempre arruma uma desculpa para aumentar os preços das mercadorias consumidas pelos trabalhadores.

Como acabar com a inflação

Emergencialmente, um governo que seja realmente comprometido com o povo precisa reverter o desmonte da Petrobras, reestatizar as refinarias e gasodutos privatizados e controlar o preço da gasolina, do etanol, do diesel e do gás de cozinha. O mesmo deve ser feito em relação à Eletrobras e à tarifa de energia paga pela população. 

Quanto ao preço dos alimentos consumidos pela maioria dos trabalhadores, deve-se criar estoques públicos de alimentos e fortalecer a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Além disso, é fundamental aumentar os impostos sobre as exportações e impedir que o agronegócio continue mandando para fora do país a maior parte da produção nacional de alimentos enquanto o povo brasileiro passa fome. Essa é a proposta da Unidade Popular (UP) e de seu pré-candidato à Presidência Leonardo Péricles. 

Porém, essas são medidas apenas paliativas. Para acabar de uma vez por todas com a inflação e a consequente miséria do povo o único caminho é transformar o atual modo de produção, colocando em seu lugar um novo sistema econômico: o socialismo. 

No socialismo, as terras não serão mais dos latifundiários e dos magnatas do agronegócio; as fábricas e lojas não pertencerão mais aos patrões; os bancos serão unificados num único banco público, arrancando dos banqueiros e especuladores todo o poder que hoje possuem; as forças armadas, que defendem a manutenção do atual sistema, serão substituídas por um exército popular; a economia será planificada e todas as riquezas produzidas pelos trabalhadores serão repartidas entre todos, e não haverá mais ricos nem pobres. Dessa forma, as crises ficarão para trás, a riqueza social crescerá mais rapidamente e o governo revolucionário dos trabalhadores, à frente do Estado socialista, porá fim ao desemprego, à carestia e à fome. 

Para conquistar essa nova sociedade, é necessário muita luta e organização. Os trabalhadores da cidade e do campo, os moradores das favelas e bairros pobres, a juventude, as mulheres, enfim, todos que não suportam mais tanta exploração e sofrimento precisam se unir e enfrentar o poder dos ricos. Não será um luta fácil, mas a vitória virá, pois somos a maioria do povo contra uma ínfima minoria. Como diz a música, “o povo quer só o que é seu”.

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