Cotidiano de luta
Beatriz Caroline – São Paulo
Estudo com o meu povo:
a realidade.
Leio-a
dentro do circular lotado,
nas filas dos bandejões,
na sala de aula às altas horas da noite,
no exaustivo caminho a pé,
que o único itinerário que chega no ponto aqui é a luta.
Quando a frota de ônibus não dá conta
e nem garantia nenhuma pro estudante que mora longe,
a grande maioria fica sem acesso.
Se nem pra casa o circular tá levando,
ficar parado é seguro?
É desgastante.
Como vêm falar em retorno?
A universidade voltou pra quem é filho da classe dominante –
pra essa minoria que viveu a pandemia no recesso,
que tá voltando pra casa de carro e dizendo “espera…”
que vai ficar melhor no futuro.
Pra quem é da base,
enfrentar esse caminho é bem diferente:
A gente encontra saindo da aula,
e vai passando por dentro da universidade,
até romper os seus limites
Aí do lado de fora – segue na rua!
Não é bem só pra chegar no Metrô Butantã.
A gente não sobrevive no dia a dia pra morrer na praia.
Se não tem como essa universidade ser popular
tem movimento pra organizar com a comunidade
fazendo o que já tá na nossa prática,
nas brigadas do A Verdade!
A gente é a continuidade
dos alunos e professores que hoje têm um memorial na praça do relógio.
E se seguimos aqui,
depois de anos de tortura,
depois da perseguição,
depois do ensino remoto,
e do vírus – que levou os nossos,
é pra avançar ainda mais passos;
Pela nossa política de ação,
de provar cotidianamente – em cada universidade,
a verdade da afirmação
sobre o movimento de massas:
que ainda existe luta estudantil organizada,
as palavras convencem
mas o exemplo arrasta!