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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Cursinhos populares como alternativa para a juventude trabalhadora

Os Cursinhos trabalham no tensionamento entre ensinar o conteúdo formal exigido nos vestibulares e o ensino crítico, em diálogo com a vida das alunas e alunos, e com a sociedade; permitindo que se entendam enquanto sujeitos políticos e rompendo com a lógica de mercantilização do conhecimento.

Tiago Lourenço


SÃO PAULO – O ensino superior, a universidade, é o que busca grande parte da juventude trabalhadora após concluir o ensino médio, na esperança de melhorar as condições de vida. Mas quais são os mecanismos de acesso a esse sonho? No caso do Brasil são os vestibulares, exames de seleção que trazem questões, em geral, sobre todo o conteúdo abordado no ensino médio. Em particular, as universidades públicas, que deveriam servir aos estudantes da rede pública, são as mais difíceis de entrar.

Apesar de parecer uma filtragem justa das limitadas vagas das universidades, dando mais chances aos que supostamente se esforçam mais, se levarmos em consideração a extrema desigualdade que divide o Brasil e que se reflete na educação do povo: escolas sem infraestrutura, funcionários mal remunerados, governo fascista que faz continuamente ataques a educação (R$ 3,2 bilhões cortados do MEC esse ano), falta de acesso a internet, etc., e se lembrarmos que em muitas das famílias brasileiras os jovens precisam trabalhar desde muito cedo para ajudar nas despesas de casa, contas, aluguel ou comida,  tendo que dividir o tempo de estudo com o de trabalho, vamos descobrir que vestibulares são filtros sociais, barrando o povo pobre do acesso ao ensino e permitindo a entrada apenas dos filhos das elites, que têm tempo e condições de se dedicar aos estudos, e que podem pagar cursinhos preparatórios que custam mais de um salário mínimo. Consequência: a juventude pobre, preta e periférica, afastada do ensino superior público, é empurrada para universidades particulares, muitas de péssima qualidade e que dão mais dívidas do que diplomas.

Os Cursinhos Populares, Movimentos Sociais de Educação Popular, se colocam como alternativas na preparação para os exames. A maioria desses cursinhos são gratuitos, construídos por militantes e voluntários, e funcionam em espaços “emprestados”, geralmente de escolas ou universidades públicas. No Cursinho Popular Laudelina de Campos, as aulas acontecem aos sábados, numa escola estadual no Ipiranga, bairro da zona sul de São Paulo, desde 2010, e recebem cerca de 200 estudantes por ano. Já o Cursinho Popular Carolina de Jesus, que funciona no Capão Redondo, também em uma escola da rede pública, aos sábados, recebe cerca de 800 estudantes por ano. O que dá o caráter de Popular desses movimentos é a luta pela construção de Poder Popular, pela democratização da educação e pelo fim do sistema capitalista. Os Cursinhos trabalham no tensionamento entre ensinar o conteúdo formal exigido nos vestibulares e o ensino crítico, em diálogo com a vida das alunas e alunos, e com a sociedade; permitindo que se entendam enquanto sujeitos políticos e rompendo com a lógica de mercantilização do conhecimento. Inspirados nos ensinamentos de Paulo Freire, paralelamente às aulas de resoluções de exercícios, redação, matemática, química, etc, são feitos círculos de debates sobre questões políticas e sociais, como machismo, cotas raciais, exploração animal, crise climática, entre outras. Nesses espaços, os estudantes encontram uma relação diferente com a construção do conhecimento, desde compreender que a sua vivência e compreensão do mundo também são saberes importantes e de se sentirem livre para falar, opinar e questionar, até a construção do próprio movimento, participando de plenárias, propondo atividades, etc.

Segundo Dennys, 21 anos, ex-aluno do Cursinho Laudelina, “o cursinho foi um lugar de entender que eu poderia sim, entrar na universidade! Ideia essa que eu não acreditava, por entender que a universidade era um sonho muito distante de se alcançar. O ‘Lauds’ me fez criar a consciência que o afastamento da minha periferia dos estudos e dos espaços como a universidade, são um projeto que nos deixa inertes e nos faz desacreditar dos nossos sonhos. Os cursinhos são lugares de resistência, de aprender, mas também repassar experiências. Construam e participem de cursinhos populares. Mas o principal, não deixem de sonhar!”. Dennys entrou no curso de Filosofia da Unifesp, e deu continuidade à luta popular, agora filiado à Unidade Popular pelo Socialismo (UP).

Assim, os Cursinhos Populares são focos de resistência, atuando na luta contra a hegemonia do sistema capitalista, nas trincheiras da Educação Popular, contra a transformação da Educação em mercadoria (acessível apenas aos mais ricos) e em reprodutora de consenso (reforçando a ideologia burguesa que permite a manutenção desse sistema de crueldade). Esses movimentos são fundamentais para apoiar um projeto político de uma sociedade mais justa e mais bonita para todas e todos, e representam, muitas vezes, a única alternativa viável para os filhos do nosso povo vencerem a difícil barreira dos vestibulares.

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