Indigenista brasileiro e repórter inglês foram mortos em 2022 por lutarem em defesa dos povos indígenas e do meio ambiente.
Raul Bittencourt | Rio de Janeiro
BRASIL – Nesta segunda (23), a Polícia Federal divulgou a identidade do mandate dos assassinatos do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, servidor da FUNAI, e do jornalista inglês Dom Phillips. Os dois foram mortos em junho de 2022, no Vale do Javari, no oeste do Amazonas.
A região abriga 26 grupos indígenas, sendo 19 deles isolados, a maior concentração do mundo. Ao menos 6.300 indígenas vivem sob constante invasão de traficantes, contrabandistas e outros grupos criminosos.
Segundo a PF, o mandante do crime foi Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como “Colômbia”, que está preso desde dezembro do ano passado e também é investigado por pesca ilegal, contrabando e tráfico de drogas.
“O cerco vai se fechando”
Bruno era servidor público federal de carreira, tendo ocupado o cargo de coordenador-geral de Índios Isolados da FUNAI. Em 2019, ele organizou uma grande operação contra quadrilhas de garimpeiros que invadiam a Terra Indígena do Vale do Javari, destruindo 10 balsas de mineração clandestinas e apreendendo ouro, armas e equipamentos. “O cerco vai se fechando”, afirmou Bruno Pereira ao saber que seria exonerado do cargo pelo governo Bolsonaro, 15 dias após a operação.
Eles não foram as únicas vítimas desses grupos criminosos. Maxciel Pereira dos Santos, colaborador da FUNAI, foi assassinado a tiros enquanto guiava sua moto na rua mais movimentada de Tabatinga (AM), em setembro de 2019, pouco tempo depois da exoneração de Bruno.
Atentados a trabalhadores, ativistas, lideranças comunitárias e bases da FUNAI se tornaram coisa comum a partir de 2019, com a posse de Bolsonaro. O então presidente da FUNAI, Marcelo Xavier, não agia para garantir a segurança das terras indígenas, dos grupos isolados, de servidores e colaboradores, e, através dessa inação, facilitava a ação de grupos criminosos.
O combate a grupos criminosos que saqueavam áreas protegidas, sejam elas de preservação ambiental, sejam terras indígenas, não era de interesse da cúpula do governo do genocida Bolsonaro, que repetiu em todo canto o mesmo enredo, desmonte das equipes técnicas, perseguição a profissionais, fechamento de bases militares que controlavam o acesso ao território e virtual cumplicidade com grupos criminosos.
Os crimes no Vale do Javari e o agora revelado genocídio Yanomami não são casos isolados, mas sim um projeto do governo Bolsonaro, que contou com a anuência do grande capital e dos militares.
A derrota do genocida nas urnas e a posse de Lula abriram espaço para a retomada do combate a essas quadrilhas que saqueiam o patrimônio brasileiro.
As Forças Armadas, ao invés de defender golpistas, devem ser utilizadas para a proteção desses brasileiros tão vulnerabilizados, de nossas fronteiras e das riquezas nacionais. Que esses crimes não fiquem impunes, que nunca se repitam. Sem anistia para os culpados!