Conheça a história dos estudantes do curso de Ciências Sociais que realizaram lutas e resistiram bravamente contra a repressão após o golpe militar fascista de 1964.
Maria Eduarda Costa e Pedro Barbosa | Rio de Janeiro
LUTAS E HERÓIS DO POVO – A luta dos estudantes foi linha de frente contra a Ditadura Militar Fascista, imposta pelo golpe de 1964. A repressão criou a Lei Suplicy de Lacerda, que retirou legalmente a representatividade das entidades estudantis e restringia e determinava o que os estudantes poderiam debater dentro das universidades.
Nada disso foi suficiente para que parasse o movimento estudantil em todo país. Em 1968, na cidade do Rio de Janeiro, realizaram a passeata dos cem mil e quando era proibido esse meio de mobilização. Nesse ano, foram às ruas denunciando as torturas e censuras com enormes faixas como “Abaixo a Ditadura! Povo no poder!”
O governo, por sua vez, torturou e assassinou diversos estudantes que lutavam pelo fim da Ditadura Militar, entre eles, os comunistas. Ocorreu a criação da organização Comando de Caça aos Comunistas (CCC) que liderava manifestações de caráter anticomunista, delatava estudantes e contava com a participação de policiais do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social).
Memória, verdade e justiça
Muitos comunistas e estudantes deram suas vidas pelo fim da ditadura. Entre eles, podemos destacar os estudantes de Ciências Sociais. Este é um curso que carrega o legado e a memória desses estudantes, como acontece no Centro Acadêmico de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que leva o nome da estudante e comunista Maria Célia Corrêa.
Maria Célia era estudante de Ciências Sociais na antiga Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi), onde hoje se encontra o atual Instituto de Ciências Sociais e Filosofia (IFCS). Maria Célia trabalhava como bancária e era militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Em 1971, mudou-se para a região do Araguaia e lá foi vista pela última vez. A estudante foi assassinada pelo Exército e é considerada como uma desaparecida política, pois os seus restos mortais não foram entregues aos seus familiares até hoje, não permitindo que lhe fosse feito nem ao menos um sepultamento.
Outra desaparecida política é Ísis Dias de Oliveira, estudante de Ciência Política da USP (Universidade de São Paulo), que utilizava o codinome de Fátima durante o período de repressão. A militante,que era da Ação Libertadora Nacional (ALN) e do Partido Comunista Brasileiro (PCB), morava no Rio de Janeiro clandestinamente e em 1972 foi presa pelo DOI/CODI. Depois disso, nunca mais foi vista por amigos ou familiares. Sua família foi enganada diversas vezes pelo Exército e privada de entrar no local que Ísis supostamente estaria.
Em 2014, a Comissão da Verdade revelou a partir de investigações que Ísis foi torturada e assassinada na Casa da Morte em Petrópolis, um centro clandestino organizado pelo exército, que tinha como objetivo torturar e matar aqueles que se organizavam contra a ditadura.
Outro grande exemplo de lutador que também era estudante de ciências sociais Emmanuel Bezerra, militante do Partido Comunista Revolucionário (PCR). Emmanuel foi estudante de Sociologia na Fundação José Augusto, presidente da Casa dos Estudantes, foi delegado e organizou a bancada potiguar para o 30° Congresso da UNE, em Ibiúna. Nesse mesmo congresso, teve seus direitos políticos e estudantis cassados pela ditadura militar, que proibiu todo e qualquer tipo de atividade política em escolas e universidades quando exercidas por estudantes e acabou sendo preso por seis meses.
Entretanto, Emmanuel resistiu e seguiu sua atividade revolucionária. Após diversas ações, Emmanuel acabou sendo preso e submetido a inúmeras torturas do órgão de repressão política do exército, o DOI/Codi, e mesmo diante delas nada contou para seus algozes, assim como o seu glorioso companheiro e herói do povo: Manoel Lisboa.
Tendo as suas mortes deturpadas pela mídia burguesa, já que a mesma era controlada por pelos agentes da ditadura, foram criminalmente resumidas à uma troca de tiros causada pela reação de Emmanuel Bezerra no momento em que teria se encontrado com Manoel Lisboa.
Estudantes perguntavam: “Cajá está sendo torturado e você vai à aula?”
Muitos estudantes também sobreviveram e venceram às repressões da Ditadura. A ação de denunciar os órgãos de repressão e o regime ditatorial em vigor era muito comum e importante.
Um dos casos é o de Edival Nunes Da Silva, conhecido também como “Cajá”. Cajá foi estudante de Sociologia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), integra a Comissão de Justiça e Paz e é militante do Partido Comunista Revolucionário (PCR). Cajá foi preso em 1978 e submetido às mesmas torturas que todos os companheiros citados acima.
Sua prisão teve enorme repercussão, tendo causado uma onda de greves que começaram em Pernambuco e se espalharam por todo o Brasil, onde diversas faixas em que a seguinte pergunta era feita: “Cajá está sendo torturado e você vai à aula?”. Essa ação e movimentação feita pelos estudantes, ocasionou a mobilização de outros setores da sociedade e, com isso, conseguiram salvar a vida do companheiro Edval Nunes Cajá.
É nítida a importância dos estudantes pelo fim da Ditadura Militar Fascista. Os estudantes de ciências sociais que se comprometeram com a luta enfrentaram corajosamente todas as atrocidades desse período, mesmo que isso lhes custasse a vida.
O dever atual dos estudantes e movimentos sociais é o de buscar meios de espalhar a verdade sobre esses casos. É preciso manter viva a memória de todos aqueles que foram covardemente assassinados pela Ditadura Militar Fascista e principalmente lutar para que seja feita a justiça para todos aqueles que sofreram nas mãos de seus torturadores, e que os mesmos sejam punidos por todos os seus crimes cometidos.