A farsa do autocuidado individualista do capitalismo

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Como alternativa ao caos coletivo dos últimos anos, diversas ações individuais de autocuidado têm sido promovidas como solução utópica para as mazelas do capitalismo, sempre deixando de lado a preocupação com o coletivo.

Laryssa Ferreira | UJR


MOGI DAS CRUZES (SP) – Constantemente esbarramos em debates acerca do “novo normal” estabelecido após o período árduo de pandemia enfrentado pelo nosso povo. É indiscutível que vários são os hábitos que carregamos oriundos, sobretudo, do período de isolamento social, sendo mais gritante o crescimento do uso das redes sociais que atingira o porcentual de 23% em comparação com o período pré-pandemico, segundo o relatório de visão geral global digital.

Desamparados devido às políticas genocidas orquestradas pelo ex-presidente fascista e sua corja, que além de contribuírem para o aumento do número de mortos por Covid-19 trabalhando contra a ciência, especialmente contra a vacina, não apontaram também nenhuma política pública de como lidarmos essa a de isolamento, passamos a ficar mais tempo frente às telas.

Seja pela angústia de não ter garantia alguma do que aconteceria com os nossos, pelo próprio tempo “ocioso” devido ao desemprego ou pela tentativa de socializarmos durante a quarentena, tudo isso resultou num cenário que nos torna hoje o terceiro país do mundo que mais acessa as redes.

Se você é um desses usuários, deve ter se esbarrado em um termo que se popularizou grandemente ao ponto de não ser mais exclusivo da internet: o autocuidado. Como alternativa ao caos coletivo dos últimos anos, diversas ações individuais têm sido promovidas como solução utópica para as mazelas do capitalismo.

Algumas são realmente proveitosas e são fundamentais para a preservação das nossas vidas, mas, como tudo que desvia a culpa do sistema frente a miséria que nos é imposta, o tal “autocuidado” tem cumprindo novos papéis: lucrar através de falsas soluções milagrosas, reforçar padrões machistas, culpabilizar o povo trabalhador pela sua infelicidade e, principalmente, nos afastar da luta revolucionária.

Enquanto víamos o Jornal A Verdade denunciar a fome que se alastrava no nosso país, o crescente desemprego proposital para manutenção da miséria, os inúmeros despejos feitos pelos criminosos governos de direita (mesmo com a posição contrária do STF), víamos também que os bancos batiam recordes de lucro, o número de ricaços crescia e alguns parasitas chegavam perto dos trilhões de riquezas roubadas do nosso povo. Assim, ficou difícil não adoecer mentalmente.

Enquanto os movimentos sociais combatiam essa situação através da luta pela vida digna, o capital também fazia sua parte ao promover a ideia absurda de que “se você está infeliz, provavelmente é culpa sua”.

Como resultado, houve um boom de charlatanismo essencialmente individualista disseminado entre a nossa classe. Vários eram aqueles (privilegiados, em sua maioria) que relatavam como “superaram” a tristeza com rotinas de autoafirmações e agradecimentos. Os exercícios físicos, historicamente incentivados pelos comunistas, paulatinamente foram promovidos em conjunto com a glamourização de transtornos alimentares e a mercantilização de chás caríssimos que tampouco fazem bem para saúde em geral.

Também não demorou para cereja do bolo ter destaque: o discurso da vez era “tirar um tempo para si” como forma de “autocuidado”. Diferente da solitude saudável que é essencial para ficarmos bem, as grandes mídias ressaltavam a importância de literalmente nos isolar, como se o coletivo fosse o maior vilão da nossa saúde mental.

Como ter uma boa noite de sono quando chegamos a trabalhar mais de doze horas por dia? Como ter uma alimentação saudável quando só um gás de cozinha custa em média R$120,00? Como se exercitar em casa quando nos negam uma? Pois bem, o capitalismo é podre, violento e sorrateiro.

É óbvio que, para uma vida saudável física e mentalmente, precisamos nos cuidar, por isso, organizações como a União da Juventude Rebelião (UJR) tem promovido trilhas, atividades sobre a conscientização do abuso de drogas e orientando o conjunto da sua militância a buscar terapia.

Aqui destaca-se uma diferença fundamental do papo “gratiluz”, das rotinas de limpeza do corpo e pílulas milagrosas: o caráter político indissociável da luta por uma vida melhor. Está correto o cuidado e a responsabilidade do coletivo da militância com a sua saúde física e mental, mas sabemos que isso não resolve o problema que é intrinsecamente social.

É uma tarefa difícil não ceder ao individualismo que o autocuidado capitalista promove, fomos educados para seguir tais desvios, afinal, é extremamente proveitoso para os capitalistas que nos isolemos e que lutemos para resolver primeiro o nosso e depois, caso dê, pensar no outro.

Portanto, precisamos estar sempre atentos reforçando a nossa convicção, nos forjando cotidianamente nos espaços coletivos das nossas organizações, não nos afastando da luta revolucionária ou muito menos buscando formas de escape para o nosso sofrimento.

Que esteja claro, as redes sociais promovem um estilo de vida que não cabe a nossa classe, apenas a adoece. Não é coincidência que seu uso em excesso provoca inúmeros danos e, na realidade, coopta o tempo que poderíamos estar cuidando de nós de forma efetiva: de uma forma comunista!

Não podemos esquecer que o pessoal também é político! Para cuidar de nós e cuidar dos nossos precisamos lutar pela derrubada desse sistema vil e decadente e pela construção do socialismo, onde o lucro não ditará a sociedade e teremos uma vida que supera o simples sobreviver.