142 anos do nascimento de Lima Barreto, um revolucionário na literatura

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O dia 13 de maio é conhecido nacionalmente como o dia da abolição da escravidão oficial no Brasil. Porém esta data também marca o nascimento de um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, o revolucionário e contundente Lima Barreto. 

Gabriel GB | Redação Rio


LUTAS E HEROIS DO POVO – Nascido em 13 de maio de 1881, Afonso Henriques de Lima Barreto foi um jornalista e escritor brasileiro que dedicou toda sua obra a retratar as condições em que vivia o povo pobre, em especial a população negra, durante os primeiros anos da república.

Ele foi filho de João Henriques de Lima Barreto, operário tipógrafo, mulato nascido liberto, e de Amália Augusta Barreto; professora, filha de uma mulher negra que havia sido escravizada. Lima desde muito cedo viveu a dualidade de ter por um lado o contato com os livros e o incentivo a educação, que vinha por parte de sua família, e a realidade de ter presenciado o 13 de maio de 1888. Tendo naquele momento exatos 7 anos, o garoto pôde sentir na pele que a abolição não libertou, pois a opressão racial e a miséria fizeram parte de toda a sua vida. 

Após a morte de sua mãe, o escritor assistiu o pai se entregar ao álcool, cena até hoje muito comum em famílias negras, e teve de assumir as contas de casa desde muito cedo. Em 1902, Lima Barreto abandona o curso de engenharia na Escola Politécnica e se torna servidor público na Secretaria de Guerra, assumindo o sustento da família.

Sua experiência convivendo com a hipocrisia dos militares ditos patriotas e sua inclinação às teorias revolucionárias, greves e mobilizações que iam surgindo no Brasil servem de inspiração para sua grande obra “Triste fim de Policarpo Quaresma”. Mas não parou por aí.

Denúncia da exploração que vivia o povo

Como um homem negro, vindo do seio da classe trabalhadora, o autor de “Triste Fim” dedicou diversos artigos em jornais, crônicas e outras obras para denunciar a elite burguesa brasileira, como vai escrever em seu texto “Ajuste de contas”, que data de 11/05/1918: 

Houve homens que, por sua generosidade pessoal, pelo seu procedimento liberal, pelo conjunto de suas virtudes privadas e públicas e alguns mesmo pelo seu sangue, deviam ser abolicionistas; entretanto, eram escravocratas ou queriam a abolição com indenização, sendo eles mais temíveis inimigos da emancipação, por não se poder suspeitar da sua sinceridade e do seu desinteresse. É que eles tinham como artigo de fé que a propriedade era inviolável e sagrada; e, desde que o escravo era uma propriedade, logo…”

Lima não poupava palavras em suas obras quando denunciava que eram os burgueses, classe que nada produz, que controlava o Estado, que por sua vez utiliza, ainda nos dias de hoje, do aparato repressivo para manter o povo na pobreza. Em carta aberta ao presidente da república, ainda em 1918, ele escreve:

Não são mais só os militares que aspiram à ditadura ou a exercem. São os argentários de todos os matizes, banqueiros, especuladores da bolsa, fabricantes de tecidos, etc., que, pouco a pouco, vão exercendo, coagindo, por esta ou aquela forma, os poderes públicos, a satisfazer todos os seus interesses, sem consultar o da população e dos operários.”

Uma vida inteira de luta

Por ter tomado a decisão de estar ao lado do povo e utilizar sua obra como amplificador do grito daqueles que não tinham voz ao invés de reforçar os ideais burgueses e satisfazer a elite intelectual da época, Lima pagou muito caro. Todos os seus romances foram autopublicados, pois os grandes editores não aceitavam o conteúdo combativo de sua obra. Lima também foi negado 3 vezes na Academia Brasileira de Letras, espaço ocupado pelos “imortais” de nossa literatura. 

Não foi apenas na arte que teve de lutar. Após tantas frustrações, Lima também se entregou ao álcool, foi internado por diversas vezes em hospícios, onde escreveu o inacabado “Diário do Hospício”, em que retrata a luta de classes e o racismo presente nos manicômios e nos processos de internação. 

Lima Barreto faleceu prematuramente no dia 1 de novembro de 1922, pobre e ignorado pelos grande acadêmicos da época. Porém sua obra não foi esquecida. O Movimento Negro e todos aqueles que defendem uma literatura a serviço da classe trabalhadora o fazem imortal. Viva os 142 anos de Lima Barreto!