Desmonte da educação superior pública atinge a UNESP e ataca seu Instituto de Artes com tentativa de fechamento de cursos por parte dos próprios diretores e precarização da estrutura.
Kay Lins e Alice Wakai | São Paulo
EDUCAÇÃO – Após anos de sucateamento das universidades públicas pelo governo fascista de Bolsonaro, que chegou a cortar mais de R$ 1 bilhão em verbas, o ensino superior público sofre novos ataques. Desta vez é o Instituto de Artes da UNESP de São Paulo. Seus cursos de Teatro, Artes Visuais e Música estão sendo ameaçados de serem fechados pela diretoria.
Em outubro do ano passado, em reunião ordinária do Conselho Universitário (órgão máximo de administração da UNESP), o diretor do Instituto, Wagner Francisco Araújo Cintra deixou clara suas intenções e questionou abertamente: “por que é que existem os cursos de artes nesta universidade?”.
Complementou ainda: “porque se não for interesse, não tem problema nenhum. A gente fecha os cursos!”.
Na ocasião, o reitor Pasqual Barretti lamentou a fala e disse que em visita recente à unidade, essa questão não foi levantada pelo diretor. Como se não bastasse, Wagner ainda tentou aprovar o fechamento do curso de Licenciatura em Arte-Teatro em reuniões extraordinárias e sem representação dos estudantes.
Antes mesmo desses ataques, o Instituto já sofria de dois problemas críticos. O primeiro problema seria a disputa pelo terreno do Instituto, que pertence em parte ao governo estadual e em parte ao metrô de São Paulo. Este impasse tem favorecido o projeto de gentrificação do governo fascista de Tarcísio.
Sem que haja qualquer participação da população nas discussões, o atual Governador pretende entregar a região à iniciativa privada para construir outros estabelecimentos comerciais e de serviços, tais como rede de hotéis em ruas passando por dentro do campus.
“É importante lembrar que este problema poderia ser facilmente resolvido, já que a UNESP possui outro prédio no bairro do Ipiranga, que já sediou o IA por décadas e atualmente abriga o Instituto Confúcio”, explica um estudante da universidade.
O segundo problema crítico seria a falta de recursos, que contribuiu para a precarização da moradia estudantil e da alimentação dos estudantes. A instituição não disponibiliza restaurante universitário, além de ter problemas também na distribuição de bolsas e na falta de professores.
Atualmente, os cursos de Bacharelado e Licenciatura em Teatro do Instituto contam com apenas onze professores efetivos. Quatro deles estão contratados de forma temporária e outros dois estão ocupando cargos administrativos na diretoria e vice-diretoria.
Há ainda os professores substitutos, que têm contratos de no máximo um ano e sem possibilidade de prorrogação. Em muitos casos são os próprios estudantes de pós-graduação que assumem as disciplinas. Todo esse déficit compromete o cumprimento da carga programática dos cursos.
Algumas turmas já estão com apenas dois dias de aula durante a semana, além de projetos de pesquisa e extensão que estão parados. Wagner, que poderia utilizar a influência política de seu cargo para conseguir mais contratações de professores e profissionais técnicos, prefere atacar a educação e agir pelo fechamento dos cursos.
Mas se faltam recursos para alunos, professores e funcionários manterem seus estudos e trabalho na instituição, sobra luxo e dinheiro para a reitoria e aproveitadores. Recentemente, a reitoria anunciou sua mudança para o bairro da República, despendendo R$ 70,5 milhões de reais na reforma do novo prédio, evidenciando o verdadeiro motivo deste desmonte.
A importância da Arte no Brasil
Toda manifestação cultural é política à medida que expõe as condições reais e o modo de vida dentro de uma sociedade. A arte, portanto, cumpre importante papel no enfrentamento daquilo que oprime a classe trabalhadora, o capitalismo.
Não é à toa que durante os 21 anos de ditadura militar fascista, a produção cultural brasileira foi duramente perseguida e censurada. Da música ao cinema e da literatura às artes plásticas, diversos artistas foram presos, torturados, assassinados e exilados.
Temos grandes exemplos que devemos honrar em nossas memórias, como o primeiro Centro Popular de Cultura (CPC), organização formada por artistas de esquerda e associada à União Nacional dos Estudantes (UNE). O CPC produzia uma arte popular revolucionária para discutir e superar os problemas do capitalismo
Além do CPC havia o grupo teatral Arena, que buscava valorizar a cultura nacional e popularizar o teatro com peças apresentadas em fábricas, escolas, sindicatos e outros espaços. Ambos os movimentos foram perseguidos e interrompidos brutalmente pelos militares inimigos do povo, que inclusive chegaram a incendiar a sede da UNE.
Também não foi sem propósito que nos últimos anos o setor sofreu grave desmonte promovido pelo genocida Bolsonaro. Segundo dados do Mobile – Movimento Brasileiro Integrado pela Liberdade de Expressão Artística – foram registrados 211 casos de censura e desmonte institucional do setor cultural.
Vimos também a diminuição e sucateamento de órgãos importantes, como a Agência Nacional de Cinema (Ancine) e o Ministério da Cultura. Mesmo após a derrota do fascista nas urnas, os ataques à cultura não cessaram. Basta lembrar da destruição de diversas obras do patrimônio artístico nacional, promovida por criminosos golpistas no dia 08 de janeiro em Brasília.
Tanto nos anos de ditadura militar quanto durante o governo Bolsonaro, a classe artística e setores da Cultura resistiram ao fascismo e não será diferente agora! Precisamos organizar nossa luta pelo não fechamento do Instituto de Artes da UNESP, mas sim pelo aumento imediato de investimentos na qualidade do ensino superior público e pela defesa da cultura nacional e popular! Fora, Wagner!