Não pensem os eleitores que o objetivo do golpe fascista era defender o patrimônio público ou evitar a corrupção. Muito pelo contrário. Pretendiam continuar no governo para seguir roubando a nação e o povo brasileiro, como fica claro nas várias tentativas realizadas pelo ex-capitão e seus puxa-sacos para se apossarem das joias dadas pelo governo da Arábia Saudita ao governo brasileiro.
Luiz Falcão | Comitê Central do PCR
EDITORIAL – Pelo respeito à realidade dos fatos, ao vigente Estado de Direito e ao que resta da moral burguesa, o ex-capitão Jair Bolsonaro deve pagar por seus crimes e ser preso pela segunda vez. Segunda vez, pois a primeira prisão do ex-capitão ocorreu em setembro de 1986, quando cometeu transgressão grave e infringiu seis artigos do Regulamento Disciplinar do Exército, ficando 15 dias encarcerado.
No dia 25 de janeiro de 1988, menos de dois anos depois dessa prisão, o ex-capitão foi condenado pelo Conselho de Justificação do Exército por ser autor de um plano para explodir bombas de dinamites nos quartéis.
Vendo essa ficha corrida, fica claro de onde partiu a ordem para promover os atos terroristas no dia 8 de janeiro de 2023, que destruíram obras de arte, cadeiras, portas, auditórios, espelhos e causou um prejuízo de mais de R$ 24 milhões aos cofres públicos, dinheiro suficiente para comprar 30 mil cestas básicas. Segundo o Dieese, o valor da cesta básica mensal em São Paulo (a mais cara do Brasil) foi de R$ 782,23 em março.
Estranhamente, os grandes meios de comunicação na campanha eleitoral de 2018 ocultaram do eleitorado esses crimes de Bolsonaro e o apresentaram como um homem pacífico, honesto e patriota. Nada mais distante da verdade como o povo brasileiro constatou na pele os quatro anos em que ele esteve na Presidência da República, isso graças ao Orçamento Secreto, que o permitiu comprar deputados e impedir o processo de impeachment.
No primeiro ano do governo, aprovou uma reforma da Previdência que, na prática, acabou com o direito do jovem trabalhador de se aposentar. Seus ministros eram todos autoritários, favoráveis à retirada dos direitos dos trabalhadores e defensores do trabalho escravo. Na Cultura, nomeou um nazista, que defendia a perseguição de judeus e comunistas e propagava as ideias de Hitler; na Educação, escolheu um ilustre desconhecido que odiava Paulo Freire e queria fechar as universidades públicas e para o Ministério do Meio Ambiente, nomeou um elemento com o objetivo de passar a boiada por terras indígenas e receber propinas dos contrabandistas.
No segundo ano, fez centenas de “lives” com o objetivo de fazer propaganda da cloroquina, medicamento usado para tratar a malária, como o remédio milagroso para a Covid-19. Sabia que era mentira, mas seu interesse era enriquecer seus amigos donos dos laboratórios farmacêuticos. Em conluio com seu ministro da Saúde, o general Pazuello, impediu, durante meses, a compra de vacinas, sendo responsável direto pela morte de 700 mil brasileiros e brasileiras. Liberou centenas de milhões para comprar leite condensado, cerveja e até viagra e prótese peniana para os militares, mas não comprou balões e cilindros de oxigênio para os hospitais do Amazonas e do Pará.
Como a brava gente brasileira foi às ruas denunciar que o Brasil tinha um presidente genocida, exigir vacinas e o auxílio emergencial para milhões de famílias que passavam fome, o ex-capitão mobilizou militares saudosos da ditadura militar, milicianos, empresários do agronegócio e milhares de ocupantes de cargos de confiança para, com dinheiro público, realizar motociatas ao estilo de Mussolini e promover comícios implorando por uma intervenção militar, cancelamento das eleições diretas (que sabia que iria perder), fechamento do Judiciário e do Congresso Nacional e defender a volta da tortura e da censura. Enfim, pretendia ser coroado imperador eterno do Brasil. Enquanto isso, os filhos do presidente enchiam as burras de dinheiro, compravam mansões e apartamentos. Já o ministro da Fazenda e o ajudante de ordens do presidente faziam remessas de dinheiro para o exterior.
De fato, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro preso pela Polícia Federal, no dia 3 de maio, por fraudar o sistema nacional de vacinação do SUS ao inserir dados falsos sobre as vacinas do seu ex-chefe e da sua própria família, tinha também em sua residência US$ 35 mil dólares em espécie e várias mensagens no celular sobre remessas de dinheiro para o exterior. Além desses crimes, o ajudante de Bolsonaro também está envolvido no roubo de joias pertencentes à União.
Segundo O Globo (08/05/2023), outro coronel do Exército, Elcio Franco, principal integrante do Ministério da Saúde na gestão do general Pazuello, enviou a seguinte mensagem do seu celular para Ailton Barros, ex-major e amigo de Bolsonaro, orientando o passo a passo para promover o golpe de Estado após a derrota de Bolsonaro nas eleições: “O Freire não vai. (General Freire Gomes, comandante do Exército). Você vai esperar que ele tome à frente nesse assunto, mas ele não pode impedir de receber a ordem. Ele tá com medo das consequências, pô. Ele ter insuflado? Qual foi sua assessoria? Ele tá indo para prior hipóteses. E qual é a pior hipótese?”.
Ailton Barros, então responde a Elcio Franco: “É preciso convencer o general Pimentel. Esse alto comando de merda que não quer fazer as pô, é preciso convencer o comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia a prender o Alexandre de Moraes. Vamos organizar, desenvolver, instruir e equipar 1.500 homens”.
Fascista queria roubar joias
Não pensem os eleitores que o objetivo deste golpe fascista era defender o patrimônio público ou evitar a corrupção. Muito pelo contrário. Pretendiam continuar no governo para seguir roubando a nação e o povo brasileiro, como fica claro nas várias tentativas realizadas pelo ex-capitão e seus puxa-sacos para se apossarem das joias dadas pelo governo da Arábia Saudita ao governo brasileiro.
Vejamos: em outubro de 2021, Jair Bolsonaro tentou, de forma irregular, passar na alfândega joias de ouro e diamantes avaliadas em R$ 16,5 milhões. As joias foram escondidas na mala de um assessor do Ministério das Minas e Energia e não foram declaradas. Se o fossem, teriam de pagar impostos e todos ficariam sabendo da sua existência. Durante a inspeção no aeroporto, a mala foi aberta e o tesouro, descoberto e apreendido.
Ao se aproximar da data de deixar a Presidência e da sua fuga para a Flórida, em 30 de dezembro de 2023, Bolsonaro fez de tudo para retirar as joias retidas. No dia 29 de dezembro, de 2022, o sargento Jairo Moreira da Silva disse que recebeu ordem do tenente-coronel Mauro Cid, o ajudante do ex-capitão para pegar um avião e ir até Guarulhos retirar as joias que ainda estavam retidas na alfândega.
Em depoimento no dia 5 de abril, Bolsonaro confessou que conversou pessoalmente com o ex-chefe da Receita Federal Júlio Cesar Gomes sobre as joias que estavam retidas, porém, não esclareceu o motivo de tanto interesse na liberação delas ou qual o destino seria dado aos diamantes. O Superintende da Receita declarou também que enviou ofício para a Receita Federal, em São Paulo, mandando liberar as joias de maneira imediata e entregá-las ao sargento Jairo Moreira.
E tem mais: uma parte das joias que o honesto ex-presidente se apossou de forma imprópria e criminosa, não foram entregues ao Patrimônio da União, mas sim escondidas na fazenda do seu amigo Nelson Piquet, ex-piloto de Fórmula 1.
Os crimes do ex-capitão, entretanto, não param por aí. Após quatro anos na Presidência, os ricos ficaram mais ricos, mais de R$ 4 bilhões, em 2021, foram enviados, de forma ilegal, para o exterior, e o povo comeu o pão que o diabo amassou. Com efeito, o fascista deixou como herança 33 milhões de brasileiros passando fome; 14 milhões de desempregados; 30% da população brasileira na pobreza; salário mínimo congelado; e aumentou a dívida pública do Brasil em mais de R$ 2 trilhões.
Apesar de todos esses crimes, deputados da extrema-direita, donos das empresas de agronegócio e chefes das maiores milícias do país defendem que os crimes do genocida fiquem impunes. O Brasil não puniu nenhum dos torturadores e assassinos da ditadura e o resultado é o que vimos no dia 8 de janeiro: generais e coronéis no Palácio Planalto ajudando um bando de terroristas.
Simplesmente por retirar uma lata de leite do supermercado, qualquer trabalhador desempregado é preso, mas nada acontece com aquele que recebe dos cofres públicos mais de R$ 50 mil por mês, rouba joias do país, promove atentados terroristas e faz planos para explodir bombas nos quartéis. É preciso acabar com a impunidade no país. Lugar de ladrão, é na cadeia.
Editorial publicado na edição impressa nº 271 do Jornal A Verdade