UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

domingo, 22 de dezembro de 2024

O Dia Nacional da Luta Antimanicomial e uma sociedade sem manicômios

Outros Artigos

O dia 18 de maio é marcado como o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, que foi responsável pela Reforma Psiquiátrica que lutou e ainda luta por uma sociedade que não exclua, violente e estigmatize pessoas que não correspondem ao o que é decidido como racional e produtivo aos loucos.

Ana Kanashiro, Gabriela Onias e Marcela Andrade Serrano


BRASIL – Entre os anos de 1930 e 1980, o Brasil passou pelo momento histórico chamado holocausto brasileiro que ocorreu em Barbacena-MG. Homossexuais, prostitutas, pessoas em situação de rua, pessoas com deficiência mental etc., naquela época consideradas como desprezíveis pela sociedade, eram enviadas para hospitais psiquiátricos (manicômios) em uma clara atitude de higienismo social e eugenia.

Os pacientes eram submetidos a inúmeros tipos de violência como choques elétricos, muitos não possuíam roupas e passavam os dias nus. Também a fome e pneumonia foram outras consequências dos maus tratos pelo qual as pessoas eram submetidas. Estima-se que 60 mil pessoas morreram no hospital colônia de Barbacena e, após denúncias realizadas no III Congresso Mineiro de Psiquiatria, o hospital foi fechado.

Com a Reforma Psiquiátrica no Brasil os tratamentos oferecidos em manicômios e hospitais psiquiátricos caracterizados por violências, privações e moralidade passaram a ser desassociados às políticas públicas em saúde. O modelo de atenção psicossocial apareceu como principal substituto ao modelo asilar predominante até aqueles dias.

Houve uma transformação no cuidado com as pessoas em sofrimento psíquico pensando a produção de práticas territorializadas e multidisciplinares, ou seja, que não se desenvolvessem tratamentos de isolamento desses sujeitos e que se buscasse pensar um cuidado que atendesse às demandas biopsicossociais dos loucos.

A luta antimanicomial exige equipamentos públicos preparados para atender as necessidades da população (Foto: Arthur Nathan Ferrari).

Na tentativa de renovar os espaços de atenção e cuidado a essas pessoas foram criados serviços conhecidos como “substitutivos” definidos pela Lei Nacional Nº 10.216/01 e, que depois de alguns anos, foram sendo transformados ou reafirmados. São dispositivos estratégicos no processo desinstitucionalização, e alguns deles e suas principais características são:

Centro de Atenção Psicossocial: espaço intermediário entre o hospital e o território, tem como principal função a tentativa de integração do sujeito com a sua comunidade e a cidade; para isso faz uso de ferramentas tais como a psicoterapia, atividades culturais e artísticas e tratamentos medicamentosos. É um ambiente que acolhe pessoas em sofrimento mental severo ou persistente, pessoas que fazem ou fizeram uso abusivo de substâncias psicoativas e crianças e adolescentes com transtornos mentais.

Centro de Convivência e Cooperativa: espaço que estimula a convivência em comunidade e a participação em oficinas culturais e artísticas. Fica localizado dentro de parques e praças públicas e é pensado para todo o tipo de pessoa, desde pessoas com transtornos mentais, com deficiências, idosos, crianças e adolescentes, pessoas em situação de rua e a população que habitualmente frequenta esses espaços públicos. Busca a ampliação de horizontes para a comunidade e a melhoria da qualidade de vida de sujeitos marcados pela marginalização.

Residência Terapêutica: espaço de moradia dentro da cidade que trata de mobilizar vida e cotidiano; são casas com no máximo 8 moradores e estes devem ter um histórico de internação de longa permanência e vínculos familiares frágeis.

Ponto de Economia Solidária e Cultura: espaço de incentivo à geração de renda e discussão sobre o trabalho para pessoas que estão em situação de vulnerabilidade social. Ele é atrelado a um embate político de afirmação da potencialidade das pessoas as quais o capitalismo sempre negou seu valor. Dentro desses pontos são desenvolvidos diferentes projetos de geração de renda que façam sentido aos sujeitos ali presentes.

A luta antimanicomial é uma luta revolucionária

O dia 18 de maio é marcado como o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, que foi responsável pela Reforma Psiquiátrica que lutou e ainda luta por uma sociedade que não exclua, violente e estigmatize pessoas que não correspondem ao que é decidido como racional e produtivo aos loucos.

Porém, é importante ressaltar que a lógica manicomial não está presente apenas nos manicômios, ela também se reproduz através de como enxergamos e tratamos os loucos ou até como os profissionais da saúde entendem o que é o tratamento para este grupo. Ou seja, ainda há muitos manicômios e práticas manicomiais para serem combatidas nos dias de hoje.

Por isso, no dia 18 de maio, diversos atos ocorrem no país para ressaltar a importância dessa luta. Esses atos são compostos por usuários dos serviços de saúde mental, trabalhadores da saúde, estudantes e aliados. É um ato onde os loucos, aqueles que foram excluídos e silenciados, ocupam as ruas se mostrando presentes em uma sociedade que insiste em trancafiá-los.

A luta antimanicomial é a luta pela construção de formas de tratamento que não se baseiam na violência, por serviços públicos que incentivem a participação ativa desse grupo historicamente excluído na sociedade lutando pelos direitos à liberdade, ao cuidado e à participação social.

Ser antimanicomial é ser anticapitalista, tendo em vista que os excluídos sempre foram aqueles que não correspondiam às regras de produtividade do capital e não geravam lucro aos donos da produção. Poder lutar contra essa lógica é reafirmar que sim, há outros modos de viver igualmente legítimos nessa sociedade.

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes