É na escola onde os estudantes passam a maior parte de seu tempo, logo, além de conhecer bem os problemas desse espaço, eles também são os principais afetados pelos mesmos. Nesse sentido, quando estão indignados e buscam por melhorias, os estudantes organizam um potente instrumento de luta: o grêmio estudantil.
Isabella Gandolfi | Diretora da UBES
JUVENTUDE – A organização dos estudantes secundaristas sempre desempenhou um papel fundamental em nosso país. Mobilizações importantes ficaram marcadas na história, desde a passeata por justiça para Edson Luís, até as mais recentes jornadas de luta contra o Novo Ensino Médio. Dessa maneira, inúmeros direitos foram conquistados para a juventude, como, por exemplo, a meia-entrada, o passe-livre, as eleições diretas e muitos mais. Essas mobilizações e conquistas foram possíveis a partir da consolidação de entidades representativas dos estudantes secundaristas, a nível regional, estadual e nacional, que fortaleceram a luta em defesa do ensino secundário. Entretanto, para que uma entidade estudantil ou movimento de luta secundarista funcione de maneira ativa e democrática, é imprescindível a atuação ao lado dos grêmios estudantis.
O papel do grêmio estudantil
É na escola onde os estudantes passam a maior parte de seu tempo, logo, além de conhecer bem os problemas desse espaço, eles também são os principais afetados pelos mesmos. Nesse sentido, quando estão indignados e buscam por melhorias, os estudantes organizam um potente instrumento de luta: o grêmio estudantil.
O grêmio é uma representação, regulamentada por lei, dos estudantes de uma instituição de ensino secundária, dentro e fora dela. São sócios do grêmio estudantil todos os estudantes matriculados naquela unidade e são os estudantes que elegem sua diretoria através de seu voto. Ele tem o papel de defender os direitos de todos discentes e lutar para que o ambiente escolar seja um espaço acolhedor e que garanta a permanência daqueles que ingressam. Desta forma, lutas internas por mais infraestrutura, contra casos discriminatórios, entre outras, podem ser desempenhadas com mais qualidade, além de organizar atividades que tornem a escola mais atrativa, como shows de talentos e torneios esportivos.
Lutas internas e externas
O grêmio, diferentemente das entidades gerais, presencia naturalmente o cotidiano de seus sócios. Por consequência, uma ligação profunda é estabelecida e o movimento estudantil consegue intervir com mais rapidez na realidade dos estudantes naquele local. Mas o grêmio não vai conseguir resolver, por si só, todas as demandas apresentadas, o que evidencia que certos problemas vão além dos limites da escola. Nesse caso, torna-se necessário recorrer às formas de lutas externas, como passeatas, reuniões com representações gerais, etc.
Apesar da luta interna e específica serem consideradas as bases das lutas estudantis, não podemos colocar como principal as lutas internas em detrimento das lutas externas – nem vice e versa. O mesmo vale em relação às lutas reivindicatórias e às lutas políticas. Portanto, os grêmios estudantis devem escolher as formas de luta mais adequadas a partir da necessidade concreta de cada momento, tendo sempre em perspectiva a fortificação do movimento.
Uma boa gestão do grêmio
A força do grêmio está principalmente na participação dos estudantes e são esses quem vão decidir se estão satisfeitos ou não com a gestão eleita. O grêmio fala por todos e é, por isso, que suas decisões devem ser tomadas democraticamente por meio de consultas, assembleias, reuniões da diretoria, etc. Além disso, para priorizar o compromisso com os estudantes e para garantir sua independência frente às direções, governos e empresas, é indispensável que haja autonomia financeira, uma política historicamente adotada pelos movimentos sociais combativos. Afinal, como diz o ditado popular, “quem paga a banda, escolhe a música”.
A diretora da entidade vai representar pessoas diferentes e, portanto, também deve se preocupar em planejar atividades amplas, que atendam diversos interesses. Por esse motivo, o Movimento Rebele-se lançou um plano de sete atividades a serem realizadas semestralmente em cada local de atuação: uma atividade cultural; uma atividade esportiva; uma reunião com os representantes de turma; um boletim informativo; um debate; um cineclube; e uma luta reivindicatória. Cumprindo esse planejamento, é possível conquistar uma grande referência entre os estudantes e realizar uma gestão combativa e consequente.
Por último, o que também define um bom grêmio estudantil é a capacidade de desgastar o atual sistema que constantemente ataca nossas escolas, encontrando, no fogo dessas lutas, novos companheiros e companheiras que acreditem na mudança e juntem-se na construção de um mundo novo. Diante disso, é urgente a organização de grêmios estudantis que realizem boas gestões para conquistarmos, juntos, a educação que os estudantes brasileiros merecem.
Em cada escola, um grêmio, em cada grêmio, uma luta!