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domingo, 28 de abril de 2024

Estado brasileiro não cumpre 19 das 20 metas do Plano Nacional de Educação

Não cumprimento das metas do PNE, que já eram recuadas, mostra descaso dos governos com a educação brasileira. de 2014 

Isis Mustafa e Letícia Scalabrini | Diretoras da UNE


EDUCAÇÃO – O Plano Nacional de Educação (PNE) para o decênio 2014-2024, instituído através da Lei nº 13.005/2014, chega em sua reta final de execução com quase nenhuma meta cumprida para o ensino básico e superior do país. Esse atraso demonstra o completo descaso dos governos com a educação pública democrática, de qualidade, acessível e emancipadora. 

A cada dez anos, o PNE estabelece metas e estratégias para a política educacional brasileira. Na ocasião da sua aprovação, os diversos setores da educação fizeram profundas discussões sobre o futuro do ensino no Brasil.

Apesar de ser um plano que indica parâmetros bastante tímidos, na última década não passou de letra morta no papel. A verdade é que os governos não empreenderam grandes esforços para cumpri-lo ou acompanhar seu desenvolvimento.

Segundo relatório do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação, somente uma das 20 metas foi cumprida: garantir o percentual mínimo da titulação em mestrado (75%) e doutorado (35%) dos professores do ensino superior. Ainda segundo dados da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, divulgados em 2023, cerca de 90% das metas do PNE não devem ser cumpridas até junho de 2024 e 13 metas estão, na verdade, em retrocesso. 

Essas metas se referem, por exemplo, à universalização da educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. A meta 01 objetivava atingir 50% das matrículas de 0 a 3 anos na educação infantil, mas chegamos em 2022 com uma porcentagem de apenas 37%.

No que tange à erradicação do analfabetismo, identifica-se que existe uma taxa de 20% de baixo aprendizado entre estudantes do 3º ano do ensino fundamental e faltam 6,6% para atingir a meta de alfabetização entre adultos. Segundo o IBGE, em 2022 ainda haviam 9,6 de analfabetos no Brasil.

Vale destacar as desigualdades regionais identificadas pelos pesquisadores: em quase todas as metas, a Região Norte tem taxas abaixo da média geral. Em Roraima, por exemplo, houve uma queda nas taxas líquida e bruta de matrículas no ensino superior em relação aos outros estados. As desigualdades se repetem na comparação entre brancos e negros, assim como entre unidades federativas e zonas urbanas e rurais.

Investimentos em educação abaixo da meta

A meta 20 do PNE determinava que o investimento público em educação pública deveria chegar a 7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019 e 10% ao final do prazo. No entanto, a taxa de investimento na educação em relação ao PIB ficou estagnada em apenas 5%.

Sem dúvida, os cortes orçamentários implementados ao longo do último decênio, principalmente através do Teto de Gastos do golpista Michel Temer, são fatores determinantes para o descumprimento das metas. Com a continuação dessa política com o Arcabouço Fiscal do Governo Lula, a educação seguirá com status de gasto e não de investimento. 

Não se pode deixar de observar que nos últimos anos a pandemia da Covid-19 e o descaso dos governos também foram fatores que colaboraram para os retrocessos e estagnações das metas. O fascista Jair Bolsonaro, enquanto governou o país, preferiu estabelecer seus próprios planos de educação com censura e políticas discriminatórias e excludentes, como a defesa do ensino domiciliar, implementação da militarização nas escolas e privatização/terceirização de setores do ensino. Tudo isso aliado aos interesses do mercado financeiro. 

Para que o Brasil saia das piores colocações mundiais em nível de educação de qualidade, será necessária intensa participação popular na avaliação do atual PNE e nas instâncias consultivas e deliberativas do Novo Plano Nacional de Educação, que deve ser aprovado no próximo ano. O governo deve convocar e ouvir os setores da educação (estudantes e profissionais da educação) e da classe trabalhadora e não se submeter aos interesses das empresas e dos financiadores da educação privada, pois educação pública e de qualidade não é mercadoria.

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