O despejo do Projeto Meninos e Meninas de Rua, quilombo no centro comercial da cidade, é apontado por muitos como uma investida para aumentar a especulação imobiliária da cidade.
Vitor Theodoro | UP ABC
Victória Magalhães | MLB Estadual
Kananda Alves | Diretora do DCE UFABC
A cidade de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, possui uma das mais antigas histórias operárias do Brasil. Na primeira metade do século XX a região já possuía uma história de movimentação sindical e operária, acontecendo um dos mais antigos registros de greve, em 1902, e sendo criada uma União Operária de São Bernardo em 1918 e outra em 1928.
Por essa história, a cidade é considerada um dos berços da classe trabalhadora no Brasil, mas sofre atualmente com políticas fascistas principalmente por parte de seu prefeito, Orlando Morando (PSDB), que por tamanha fascistização está sendo denunciado na ONU por racismo institucional, devido ao seu constante ataque a população negra e periférica de São Bernardo.
Em toda sua gestão anti-povo, o tucano, que diz ter orgulho de ser “Italiano”, vem desmontando e atacando, sempre com muita truculência, o povo trabalhador e todas as iniciativas populares que visam o benefício da nossa classe e do povo preto. Não é à toa que, segundo o último censo, São Bernardo foi citada como a 4° cidade que mais mata pessoas periféricas do Estado de São Paulo.
Além disso, se acumulam à denúncia, o ataque constante à Batalha da Matrix, evento semanal cultural de batalhas de rima entre os moradores pretos e periféricos, e em contraponto, a realização por parte da Prefeitura de festas italiana, alemã e nipônica nos dias da Consciência Negra. O lema usado pelo Prefeito em seu primeiro mandato “Devolver São Bernardo para os São Bernardenses”, por sua vez, lembra muito o discurso de líderes supremacistas mundo afora que foram cobrados pela história.
Tornando o aparelho estatal uma arma contra o povo preto e pobre durante a pandemia, São Bernardo se tornou uma das cidades com maior número de população em situação de rua na metrópole paulista, atrás apenas de Osasco.
São inúmeros os ataques desta prefeitura ao povo, e o alvo da vez é o Projeto Meninos e Meninas de Rua (PMMR), que desde 1983 realiza no município um importante trabalho de acolhimento de crianças e adolescentes em situação de rua ou vulnerabilidade social e de valorização do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), além de servir como espaço político-cultural da cidade.
No projeto são oferecidas diversas atividades gratuitas, que vão desde aulas de percussão, dança e até formação em direitos humanos e cidadania para os mais velhos e cursinho popular preparatório para o ENEM. Um dos poucos sobreviventes da política nefasta e anti-povo de Morando, o Projeto já sofreu duas tentativas de despejo e passa agora novamente por esse risco após a Prefeitura conseguir derrubar na justiça uma liminar que impedia a remoção do espaço e afirma publicamente a intenção em conseguir efetivar seu ataque.
O que não está na conta do Prefeito é a organização popular. Por todo o trabalho social e político que o Projeto desenvolve nos mais de 30 anos de existência, o povo de São Bernardo, coletivos, partidos de esquerda e movimentos sociais já se colocam ao lado da defesa e resistência do Projeto. Gritando a palavra de ordem “O Projeto fica! O Orlando sai!“, as moradoras e moradores da cidade mostraram seu descontentamento com o despejo de quase mil crianças, adolescentes e adultos abraçados pela entidade.
No dia 02 de agosto, moradores e movimentos sociais fizeram um grande ato unificado contra os despejos, que caminhou pelo centro da cidade até a Câmara Municipal de São Bernardo exigindo que a base do Governo e o próprio prefeito recuem da decisão.
“Estamos enfrentando há 6 anos esse processo de perseguição, a perseguição de um quilombo urbano que é foco de cultura, educação popular e resistência. Enfrentar esse despejo significa enfrentar também o racismo institucional que é promovido por esse Estado”, relata Markinhus, coordenador do Projeto.
Roseli Simão, militante da Unidade Popular e moradora de São Bernardo há mais de 50 anos, relata com muita revolta os acontecimentos das gestões do prefeito fascista:
“Ele foi eleito com propagandas junto ao ex-presidente fascista Bolsonaro, e trabalha para continuar o legado criminoso dele, inclusive tendo um secretário de segurança envolvido no massacre do Carandiru e mantendo contratados policiais declaradamente nazistas durante seu mandato. Nos últimos anos, fechou e até demoliu vários espaços culturais da cidade, como teatros, bibliotecas, gibitecas, Casa do Hip Hop… E não para por aí, durante todo seu mandato, foi autor de dezenas de despejos, todos de maneira agressiva, usando força policial e bala de borracha. Agora foi a vez do Projeto Meninos e Meninas de Rua. São Bernardo do Campo é a 4°maior cidade do Estado de São Paulo e não temos nenhuma pesquisa ou levantamento que diga quantas pessoas negras existem na cidade, não existe política pública efetiva voltada para essa população. Depois de muita demanda popular e da acusação na ONU, o prefeito abriu uma Secretaria de Ações Antirracistas. Nós da cidade fundamos o Fórum Antirracista para lutarmos contra a política fascista da Prefeitura, acreditamos que a única maneira de garantir que as ocupações e os projetos populares, assim como a cultura negra continue existindo é com atos de denúncia e luta de toda a população, precisamos ocupar os espaços e ir para a rua!”
Sendo a 5° cidade com maior PIB do estado (Censo de 2018), São Bernardo reforça as lutas de classe e a regra da exploração burguesa, onde os trabalhadores são colocados apenas como mão de obra explorada e geradora de riqueza para a classe dominante, sem direito à cultura e bem-estar.
As atividades do prefeito provam que o fascismo não acabou e que temos muita luta a frente, não à toa fica explicita a necessidade de construir a Unidade Popular pelo Socialismo como o partido antifascista do Brasil.
O despejo do Projeto Meninos e Meninas de Rua, quilombo no centro comercial da cidade, é apontado por muitos como uma investida para aumentar a especulação imobiliária da cidade e limpeza étnica, provando que o compromisso da direita é com o lucro e a exploração. Como mostrado pelos São Bernardenses, o povo está disposto a lutar pelos seus direitos e pela sua emancipação, e o futuro é de luta e muita vitória, e para os fascistas, apenas a lata de lixo da história.