Atentados dos grupos milicianos no último dia 23 são prova da falência da política de morte da segurança pública do Rio de Janeiro.
Felipe Annunziata | Redação
BRASIL – Mesmo com 50 mil policiais nas ruas, um orçamento anual de 15,9 bilhões de reais e armas de grosso calibre e carros de guerra blindados, a polícia e o governo do Rio de Janeiro não conseguiram impedir facções de milicianos de atacarem dezenas de bairros da Zona Oeste do Rio.
2,6 milhões de pessoas se viram reféns de ataques de quadrilhas organizadas que queimaram ao menos 35 ônibus e uma composição da linha de trem urbano. Só ontem, mais de 18 mil crianças foram impedidas de irem à escola e milhares de trabalhadores tiveram que se locomover a pé em várias regiões da cidade. O motivo divulgado pelas facções e o governo estadual dos ataques seria uma retaliação a morte pela polícia do sobrinho do miliciano Zinho.
As últimas semanas no Rio têm sido marcadas por escândalos policiais e operações de guerra. Na semana passada, uma operação de quase uma semana da PM no Complexo da Maré deixou mais de 20 mil estudantes sem aulas e dezenas de Clínicas da Família fechadas.
Ao mesmo tempo, várias operações da Polícia Federal contra policiais corruptos foram deflagradas. No dia 19, 4 policiais civis da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas foram presos sob a acusação de negociarem um caminhão com 16 toneladas de maconha com uma das principais facções do estado.
No dia seguinte, em outra operação, a PF realizou buscas contra outros 4 policiais civis, incluindo um delegado, Renato dos Santos Mariano. A motivação teria sido o desvio de cerca de 280 quilos de cocaína apreendida.
O “acerto” das milícias com os governos
Todas estas notícias fazem parte de uma estrutura conhecida no Rio como “acerto”, isto é, o acordo entre forças policiais do Estado, traficantes, milicianos e políticos locais. As relações entre as polícias e o crime organizado no Rio são bem antigas, como afirmou o ex-delegado da Polícia Civil do RJ Hélio Luz, em entrevista publicada na edição nº 280 do Jornal A Verdade.
Essa prática possibilitou que as milícias se expandissem rapidamente na capital fluminense. Segundo o Grupo de Estudos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense, cerca de 57% do território do Rio de Janeiro é controlado pelas milícias.
Estes grupos criminosos paramilitares são compostos por policiais e bombeiros e controlam o acesso a vários serviços em muitas regiões. Eles também participam ativamente da vida política do estado, apoiam candidatos a vereadores e deputados e exercem grande influência nos comandos das polícias.
A situação chegou a tal ponto que o governador fascista Cláudio Castro (PL) não conseguiu nem mais manter seu secretário de Polícia Civil. Deputados estaduais ligados ao presidente da ALERJ, Rodrigo Bacellar (PL), forçaram o governo a nomear o comentarista de TV Marcus Amim para o cargo. A troca ocorreu no dia 19, no mesmo momento das operações contra a corrupção na Polícia Civil.
A nomeação se deu pois os deputados estariam insatisfeitos com as operações da PF contra a corrupção policial e portanto seria necessário manter o controle sobre o aparato policial estadual.
As falsas soluções para a violência no Rio
Fato é que menos de 1 semana após a nomeação do novo secretário, a cidade se viu refém de novo da vontade das milícias. Enquanto o orçamento da segurança é 15,9 bilhões de reais, o da saúde é de apenas 10 bilhões e a educação de 9 bilhões.
Dia após dia, a população fluminense se vê sob um regime de opressão e cumplicidade entre o Estado e os grupos criminosos. Ao contrário do que se propagandeia na mídia e no governo, não existe interesse em acabar com o cenário de violência generalizada no Rio. Afinal, quem vai querer abrir mão de tantos bilhões de reais, mais as licitações de novos materiais bélicos, propinas sob drogas e armas apreendidas.
O Rio vive hoje sob o jugo de uma estrutura criminosa de exploração do dinheiro e da força de trabalho do povo. Em cada área da economia e da vida política do estado é visível a mão dos grupos milicianos. Aqui, o fascismo se alimenta dessa relação espúria.
As 2 operações da Polícia Federal mostraram, sem dar um tiro e matar ninguém, que a saída é justamente desmantelar esta indústria da morte e não fortalecê-la. Sem muito esforço, vimos uma pequena fração de até onde vai a corrupção das milícias no Rio de Janeiro.
É preciso que se rompa completamente com qualquer conciliação com os fascistas e as oligarquias do Rio de Janeiro, o que o governo federal ainda não demonstrou disposição em fazer. O que se tem proposto, no entanto, é mais do mesmo: colocar mais policiais, mais armas de guerra e mais dinheiro nesta indústria da morte.