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quarta-feira, 1 de maio de 2024

Como as privatizações fortaleceram as milícias no Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro foi um dos estados mais afetados pelas políticas de privatizações das últimas décadas. A venda das estatais pode ter ajudado as milícias a se fortalecerem e expandirem no estado.

Felipe Annunziata | Redação


BRASIL – Nos últimos 30 anos, o povo brasileiro sofreu com a onda neoliberal de privatizações que entregou nossas riquezas naturais, parques industriais estratégicos e serviços essenciais para o capital financeiro. Aqui mesmo, no Jornal A Verdade, denunciamos cotidianamente os efeitos desta política na piora das condições de vida da população.

No entanto, um efeito pouco conhecido é como as privatizações influenciaram diretamente na consolidação e fortalecimento das milícias do Rio de Janeiro. Não foram, evidentemente, a venda das nossas estatais quem criou as milícias, mas a ausência delas na economia do estado foi determinante para o processo.

A “milicianização” da economia do Rio de Janeiro

Comunicação, distribuição de combustíveis e transportes são alguns dos principais setores privatizados nas últimas décadas no Rio de Janeiro. Todas elas feitas com o argumento de que estes serviços iriam melhorar a vida do povo.

A privatização do serviço de telefonia, pelo governo FHC nos anos 1990, se deu logo antes da expansão dos serviços de internet no Brasil. Uma das características desta privatização foi a criação de monopólios nos serviços de telefonia móvel e fixa controlados pelo capital estrangeiro. 

No entanto, no Rio de Janeiro, os serviços de internet de banda larga em domicílio não conseguiram estabelecer estes mesmos monopólios na parte final da cadeia, isto é, na chegada da internet na casa das pessoas. Na capital e região metropolitana, cada bairro ou área conta com empresas de internet locais. 

A distribuição pelos domicílios é na prática descentralizada, apesar do sinal de internet ainda ser controlado pelos grandes monopólios. Este cenário é tão complexo, que recentemente 2 bairros da Zona Norte ficaram sem internet por 15 dias pois havia uma guerra entre grupos rivais que levou à explosão da estação provedora de internet.

Estas empresas locais são em sua maioria controladas ou atuam com autorização da milícia ou do tráfico. A exceção das áreas nobres do Rio e de Niterói, todos os demais territórios têm o mercado de internet monopolizado por estas empresas.

O mesmo acontece com o setor de combustíveis. Com o avanço da privatização dos setores de óleo e gás, as prefeituras do Rio e o governo do estado paralisaram a expansão da rede de gás encanado, levando este mercado a ser ocupado pelas revendedoras de botijão de gás.

Em cada bairro, as revendedoras também são controladas pelos grupos criminosos ou atuam em acordo com eles para não sofrerem represálias. Segundo o sindicato patronal das revendedoras de gás, em 2022, 80% dos botijões vendidos no estado do Rio eram de empresas ligadas à milícia.

Nos transportes nem se fala. Já é bem conhecido o controle de grupos criminosos sobre os serviços de vans no RJ. O serviço de vans teve grande ampliação depois das privatizações do metrô e trens urbanos. 

Este processo foi feito para paralisar a expansão da malha ferroviária do estado e garantir o controle das empresas privadas de ônibus do setor de transporte público. O que ocorreu na prática foi a união das empresas de ônibus com os grupos criminosos, que na prática dividem os territórios entre si para explorar este serviço.

Reestatização dos setores estratégicos pode reverter aumento da violência no RJ

Todos estes exemplos são provas da situação em que o estado do RJ está sendo jogado. Mesmo sendo mais comum associarmos o crime organizado ao tráfico de drogas, no estado do Rio ele avança agora sobre vários setores da economia, em aliança com a burguesia carioca. 

Hoje, os chefes das milícias e do tráfico se organizam para explorar da melhor forma a força de trabalho do povo do Rio. Se aproveitam de uma política local favorável a seus interesses, dado que o estado passou por décadas de governos privatistas e reacionários.

O próprio capital que estas facções acumularam, com décadas de tráfico de drogas e armas, é hoje usado para expandir sua atuação em outros setores da economia capitalista. Tudo isso, apoiado pelas crescentes privatizações em diversos setores.

A reestatização de todos estes serviços, estabelecendo um monopólio estatal, irá destruir uma importante sustentação econômica desses grupos. Portanto, lutar contra as privatizações é também lutar contra a violência urbana no Rio de Janeiro.

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