Greve dos roteiristas de Hollywood denuncia o fracasso do capitalismo

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Greve dos roteiristas expõe contradições do capitalismo que, através da indústria bilionária do cinema, desmascara a ideia de democracia perfeita dos EUA.

Clóvis Maia | Redação PE


TRABALHADOR UNIDO – Se tem uma coisa que sustenta o imaginário capitalista e vende a imagem de um falso paraíso é a Indústria Cultural. Por meio do Cinema, as produções de Hollywood consolidaram o status dos Estados Unidos como o maior país do mundo, democracia perfeita ou terra das oportunidades.  

Os EUA criaram propaganda sobre seu ideal de vida e o exporta para todo o mundo ao longo das últimas décadas. Hoje, com uma economia em frangalhos, milhares de estadunidenses passando fome, morando nas ruas e saqueando supermercados, a tão famosa propaganda ideológica não tem sido suficiente para manter a mentira.  

Uma das grandes denúncias do fracasso desse ideal de vida americano foi a recente greve nos estúdios de Hollywood, no coração da Indústria Cultural do capitalismo, que sempre fabricou verdadeiras peças publicitárias sobre o ideal de vida capitalista para o resto do mundo. Iniciada pelos roteiristas em maio deste ano e seguida pelos atores em junho, a classe artística estadunidense mostrou um lado nada glamouroso da Indústria Cultural cinematográfica.  Ganhando salários de miséria, ameaçados pelo uso da inteligência artificial nas produções e sem acesso à direitos básicos, o Sindicato dos Roteiristas de Hollywood (WGA, em inglês) convocou sua base de mais de 11 mil filiados e decidiram cruzar os braços, sendo seguidos pelos SAG-AFTRA (Sindicato dos atores, dubladores e artistas de rádio e televisão). 

A última vez que atores e roteiristas tinham entrado juntos numa greve foi nos anos 80, justamente para garantir direitos trabalhistas.  Apesar da mídia tentar esconder a mobilização, sobretudo por meio do lobby do sindicato dos grandes estúdios e canais de TV (AMPTP, em inglês), artistas como Jamie Lee Curtis e Matt Damon, entre outros deram visibilidade aos atos de protesto, chegando a arrecadar 15 milhões de dólares em doações para ajudar os roteiristas em dificuldade durante a greve. 

Escritores como Neil Gaiman e George R. R. Martin, autor dos livros que inspiraram a série Game of Thrones, também decretaram greve e fortaleceram as mobilizações. Em seu blog pessoal, Martin chegou a dizer que essa era a greve mais importante de sua vida, ele que é sindicalizado desde os anos 80. Com a pressão das redes sociais e apoio em massa das categorias, os estúdios tiveram que ceder e negociar com os roteiristas o fim da greve, que foi anunciado neste dia 27 de setembro.  A dos atores continua, mas tem a tendência de seguir o mesmo caminho. 

A Indústria Cultural e a sede por lucros

Com a repercussão da greve, a extrema direita americana, claro, tentou deslegitimar a reivindicação, alegando, sobretudo, que os atores hollywoodianos ganham muito bem. A verdade é que uma série de trabalhadores dessa indústria são assalariados e, com a disputa entre Cinema e Streamings, a exploração atingiu os diversos ramos dessa categoria. Segundo dados levantados pelo The Guardian, a receita dos estúdios subiu 40% nos últimos dez anos, enquanto a média dos salários dos roteiristas, por exemplo, caiu 4%. 

Um grande exemplo dessa exploração são os chamados pagamentos residuais para atores e roteiristas, que ganham para escrever e atuar nos filmes e séries, mas pouco recebem (quando recebem) pelo uso posterior de seus trabalhos nos Streamings, que lucram com a reprodução dessas obras em suas plataformas de assinatura. 

Um exemplo que ajuda a entender o tamanho do lucro dessas empresas é o da Netflix. Presente em mais de 190 países, esse é o maior Streaming da atualidade e divulgou que obteve um lucro líquido de US$1,3 bilhão no 1° trimestre desse ano. O cinema arrecadou 26 bilhões de dólares só em bilheteria em 2022 (relatório da Gower Street Analytics) com filmes como Avatar: o Caminho da Água, que bateu, sozinho, US$1 bilhão em 2022. A Netflix, aliás, possuía 238,39 milhões de assinantes ao redor do mundo em junho deste ano. 

Difundindo a ideologia dominante

Numa sociedade, as relações econômicas vão determinar o seu caráter e seu perfil, sendo assim, a Cultura, o Direito, as leis e a educação serão reflexos desse sistema, difundido suas principais aspirações.  A Indústria cinematográfica hollywoodiana sempre fez questão de exportar essa ideologia, chegando até a esconder fatos históricos para manter sua narrativa.  É por esse motivo que a gente sempre se depara com um herói individual, solitário, pronto para ‘salvar o dia’ e resolver tudo sozinho, ou as grandes mentiras como a vitória dos EUA na guerra do Vietnã, ou os bandidos dos filmes serem sempre russos, norte-coreanos ou chineses. 

A propaganda capitalista de que ele é um sistema superior e infalível sempre foi a tônica da maioria das produções de sucesso internacional, coisa que a greve questionou todo o tempo, ou seja, a máquina de propaganda capitalista só produz mentiras e essas mentiras vão ficando cada vez mais evidentes quando vemos donos de grandes empresas como a Netflix,  Disney, Amazon, HBO, Universal Pictures, Warner Bros, FOX, Paramount e outros lucrarem explorando quem trabalha sem a garantia de mínimas condições de trabalho e renda para manter uma fábrica de propaganda mentirosa sobre um modelo social fadado, cada vez mais, ao fim.