‘Ritmo, Poesia e Revolução’, álbum de estreia de MC Demo, é lançado em 2023. A valorização da cultura popular deve fazer parte do processo revolucionário, especialmente quando esta é guiada pelos ideais comunistas.
Chico Mello | Recife
CULTURA – Construir uma cultura transformadora, a serviço da educação popular e que faça evoluir a consciência proletária é uma das tarefas fundamentais dos que lutam por uma sociedade livre e justa. As artes formadas nos movimentos sociais como as batalhas de Rap, por exemplo, representam o desenvolvimento dessa consciência, decorrente da luta contra a exploração e a violência capitalista. Foi neste cenário que Jailson Davi, o MC Demo, concebeu sua militância na cultura e lançou o seu primeiro álbum ‘Ritmo, Poesia e Revolução’ em que ele dedica “aos que lutam pelo socialismo, em especial os marxistas-leninistas do Brasil”.
O ‘Demo’, que vem de Democracia, é conhecido há mais de 15 anos de atuação no Rap, trajetória que começou nas batalhas de Olinda e Recife, aprofundando nas passeatas em defesa da educação pública, contra o aumento das passagens, onde o artista iniciou sua militância como diretor de cultura da União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (Uespe). A música também esteve presente nas coletas de assinaturas em apoio à legalização da Unidade Popular pelo Socialismo (UP) onde Jaílson se destacou em Pernambuco entre os maiores coletores de assinaturas.
Ritmo reativo, poesia subversiva, revolução coletiva
O trabalho se concretizou durante a pandemia de Covid-19, produzido por Matheus Carvalho, músico e produtor cultural do sertão pernambucano, que participa dos vocais na música Jogo do Bicho, além dos rappers GB Montsho, do Rio de Janeiro, na faixa Em resposta à impunidade, e Davi Perez, de Santa Catarina, em Coração Vermelho, um manifesto musical para a resistência, um chamado para a luta.
Com espírito de revolta na entonação e rebeldia nas letras, Demo combate o racismo, denuncia a fome e a devastação capitalista da natureza, fortalece a luta pela moradia, pelo poder popular e celebra a vida de heróis do povo brasileiro nas 15 faixas do álbum. Demo diz que “a proposta é de instigar as massas à luta partidária com a agitação e propaganda do socialismo, inflamar a militância, manter a alma revolucionária viva, sem guerra entre povos, nem paz entre as classes”, a fim de ser consciente das magnitudes, variedades e dificuldades do papel principal do Partido na construção da “arte que deve temperar as massas com consciência de classe para a construção do socialismo”, como já disse Enver Hoxha, revolucionário albanês.
Mãos do Proletariado, música de abertura, Falha na Matrix e Manoel Lisboa defendem o socialismo científico, além do resgate pelo Direito à Memória, Verdade e Justiça e combate ao fascismo com punição aos torturadores de ontem e de hoje. Decapita, Genocida, Genocídio Yanomami e Em resposta à impunidade são crônicas dos últimos quatro anos de governo fascista de Jair Bolsonaro, exigindo punição exemplar do ex-capitão e de seus cúmplices. Os beats (batidas e melodias eletrônicas) do Rap e do Trap trazem o som do lamento, rebeldia e resiliência da periferia, herdando timbres e ritmos do Hip-hop, que influenciou gerações de crianças, jovens e adultos das margens metropolitanas precarizadas.
Valorizar nossa cultura popular
Artistas como Demo têm o objetivo de traduzir na cultura popular a força coletiva e os diversos papéis que o ser humano assume na busca pela liberdade, afirmando a própria vida como uma atividade de criação, assimilando a evolução da consciência proletária e das expressões artísticas às lutas e esforços feitos pelo nosso povo e pela vanguarda revolucionária, além de reforçar que o artista é fruto da luta popular, nascido no meio do povo.
Com a produção cultural nas mãos da classe dos ricos, vemos estes recorrendo a explicações fantasiosas dos fenômenos da natureza e da sociedade, a fim de conservar a classe oprimida em superstições e preconceitos, aliená-la de sua força social com ideologias individualistas, meio a tantas outras formas de afastar o povo trabalhador de sua natureza humana e coletiva. Já a cultura artística popular amplia suas características inovadoras e alcança um nível expressivo das relações e espírito humanos quando incorpora um conteúdo revolucionário e é guiada pelos ideais comunistas.
O povo trabalhador, com sua ideologia revolucionária, com sua ciência de vanguarda na luta de classes, com o socialismo, constrói o caminho do poder popular com sua consciência de classe, algo que é expresso na cultura popular. Demo reafirma essa necessidade por uma nova sociedade, socialista, onde a cultura se desenvolve de forma pura e profundamente humana, seguindo a transformação revolucionária da nação passo a passo, acumulando as qualidades históricas do povo.
A arte vive no conjunto do povo, exprime os problemas das pessoas, suas alegrias e tristezas, suas vitórias e derrotas, sentimentos e experiências. MC Demo assimila isso a seu trabalho, representando os esforços da militância artística em semear a cultura revolucionária no campo, na cidade, nas periferias, favelas e fronteiras, e que será colhida na autodeterminação dos povos, livres de exploração, na sociedade socialista.