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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

É preciso se organizar para parar a crise climática capitalista

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A cada dia torna-se mais claro que o aumento da frequência e o agravamento dessas tragédias “naturais” estão relacionados à contínua exploração de recursos naturais e à desenfreada devastação de ecossistemas importantíssimos para o equilíbrio atmosférico do planeta. Tais catástrofes são, portanto, sintomas de uma doença que assola o mundo inteiro: o modo capitalista de produção e regulação da vida social e econômica.

Raul Bittencourt e Wellington da Cruz | Rio de Janeiro


OPINIÃO – Neste últimos meses, grande parte da população de diversas regiões do Brasil foi chamada a se preparar para as extremas e “repentinas” elevações de temperaturas, acima dos 40°C e próximas dos 45°C, que ocorreriam em inúmeras cidades e que, por consequência, poderiam causar sérios danos à saúde. Ao mesmo tempo, o país ainda se recuperava dos graves estragos causados pelas chuvas e tornados que provocaram enchentes e deslizamentos de terra em cidades serranas e ribeirinhas na região sul, bem como, ainda neste momento, são registradas forte secas e estiagens na região norte (como na área da Amazônia, bioma que concentra 20% da água doce do planeta), sempre seguidas por queimadas, naturais ou provocadas pela expansão do agronegócio.

A mortandade de peixe e de mais de 150 botos em outubro no Lago Tefé, no estado do Amazonas, em razão do aquecimento de suas águas não é um evento isolado, tendo as mesmas causas dos alagamentos provocados tempestades na Região Sul, ou da onda de calor que assolou o Rio de Janeiro, onde a sensação térmica que alcançou 59,5º, matando diversas pessoas.

Segundo os meteorologistas, essa desorganização do clima seria reflexo direto e imediato do El Niño, fenômeno atmosférico que superaquece as águas do Oceano Pacífico, estimula a formação de nuvens e tornados e altera a direção e a velocidade dos ventos que movimentam as frentes frias e as massas de ar quente.

Conforme diversos centros de pesquisa vêm divulgando, o fenômeno climático do El Niño, que tem natureza cíclica, está se tornando cada vez mais frequente, sendo ainda fortalecida por outras influências climáticas mundiais que também estão se tornando recorrentes em pequenos intervalos de tempo, como o extremo aquecimento do Atlântico Tropical Norte, fruto do processo mais amplo de aquecimento global.

Em decorrência deles, o Brasil ainda passará por situações adversas semelhantes às encontradas em outros locais do mundo conhecidos pelas severas condições ambientais, tais como a Arábia Saudita, o Irã e o Iraque, países com grandes áreas desérticas no Oriente Médio. O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), em estudo divulgado em 14 de novembro, identificaram características de clima desértico no norte da Bahia, sendo é a 1ª vez que esta condição é encontrada no Brasil, bem como a tendência de aumento da aridez por quase todo o país, fruto do processo de aquecimento global.

Ou seja, ainda estão previstos diversos eventos com alto risco de causar prejuízos humanos e materiais, seja a partir de dificuldades no abastecimento de água e alimentos, seja em razão da destruição de casas e cidades, os quais estão tornando-se cada vez mais frequentes.

Capitalismo é o culpado pela crise climática

A cada dia torna-se mais claro que o aumento da frequência e o agravamento dessas tragédias “naturais” estão relacionados à contínua exploração de recursos naturais e à desenfreada devastação de ecossistemas importantíssimos para o equilíbrio atmosférico do planeta. Tais catástrofes são, portanto, sintomas de uma doença que assola o mundo inteiro, qual seja, o modo capitalista de produção e regulação da vida social e econômica.

O capitalismo, como sabemos, é caracterizado, entre outras coisas, pelo modelo agropecuário baseado em desmatamento, queimadas, latifúndios, monoculturas etc. Nas cidades, o modelo urbano é desigual, onde não existe saneamento básico mínimo e nem infraestrutura de transporte público coletivo seguro e sustentável e com um padrão de consumo que polui o meio ambiente.

Portanto, a exploração capitalista é a grande causa das aceleradas mudanças climáticas, que, apesar da sua previsibilidade, desafiam os modelos matemáticos e “surpreendem” as expectativas dos especialistas, que passaram a se deparar com a grande antecipação de problemas que eram esperados para ocorrer daqui a 30 ou 50 anos, colocando em estado de alerta a própria sobrevivência da maior parte das pessoas do mundo.

A crise climática global é tão ampla e evidente que até os meios de comunicação mais conservadores estão difundindo, com tom de alerta, as notícias a respeito desse tema, prenunciando as profundas consequências para a sociedade, chamando atenção para a necessidade de mudanças comportamentais. Claro que tentam capturar a narrativa dentro da lógica capitalista para vender “soluções” que objetivam o lucro e não a eliminação da causa da crise climática, o próprio sistema capitalista.

Por outro lado, está cada vez mais difícil para os terraplanistas e os negacionistas das mudanças climáticas ignorarem os impactos diretos e as explicações científicas de tais eventos, e com isto evitarem qualquer tipo de debate ou tentativa de alteração sobre o atual padrão de funcionamento das economias capitalistas, afinal de contas o combate ao aquecimento global passa por combater a estrutura econômica que o provoca.

Somente a organização da classe trabalhadora pode vencer a crise climática

Nesse contexto, uma luta emerge de imediato. Assim como ocorreu durante a pandemia do coronavírus (outra consequência das mudanças climáticas relatadas acima), a classe trabalhadora estará na linha de frente da manutenção da engrenagem social quando o calor insuportável, as inundações, os desmoronamentos, a fome e outras calamidades ocorrerem. Por esse motivo precisará estar devidamente esclarecida sobre todos os riscos e prejuízos que se apresentarão. Apenas com forte organização, para resistir aos desafios e conflitos que irão acontecer, o povo poderá sobreviver à brutalidade, e, com a unidade e a força das massas, impor as mudanças necessárias para superar as reais dificuldades impostas pelo sistema capitalista.

Todos os trabalhadores e trabalhadoras precisarão estar atentos e prontos para decretar a greve geral, não só por salários e melhores condições de trabalho, mas também para defender questões básicas de qualidade de vida e requisitos mínimos de saúde. Na prática, a situação imediata de temperaturas extremas deverá ter como resposta rápida e aguda a paralisação total das atividades e a exigência de que as vidas das pessoas sejam plenamente preservadas, com a garantia de que o Estado irá atuar celeremente com políticas públicas de alojamento de pessoas atingidas por chuvas, enchentes, secas, doenças, fome e outras situações, não só nas regiões afetadas diretamente mas também nos grandes centros urbanos das capitais e regiões metropolitanas.

Vivemos um momento de grandes desafios e a percepção da classe trabalhadora precisa se aguçar e se aprofundar diante das ameaças que, apesar de terem as mesmas origens de sempre, se apresentam de formas novas e ainda não totalmente compreendidas. A solução também é a mesma, a substituição do capitalismo pelo socialismo. O envolvimento dos trabalhadores e das trabalhadoras no debate em torno das mudanças climáticas define mais uma importante arena de luta pela sociedade que queremos construir, livre das formas de exploração econômica e politicamente emancipada.

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