Estudantes da UFABC e voluntários inauguram Cursinho Popular em Mauá para oferecer alternativa a juventude na preparação para o vestibular.
Diogo Leme | São Caetano do Sul
EDUCAÇÃO – No dia 02 de agosto teve início a aula inaugural do Cursinho de Formação Popular de Mauá para o vestibular, idealizado por estudantes da Universidade Federal do ABC.
O Cursinho se localiza na área central do município e seus docentes são voluntários que possuem um contato prévio com a educação popular em diferentes projetos. A aula contou com a presença de cerca de 35 alunos, além da participação do secretário de educação de Mauá e também do prefeito, os quais demonstraram apoio ao projeto.
Ademais, também esteve presente a Associação Regional dos Estudantes Secundaristas do grande ABC (ARES-ABC), a qual realizou uma intervenção política conjuntural no tocante à realidade daqueles estudantes.
Em 2022, o número de inscritos para o Enem foi o segundo menor desde 2005, com cerca de 3,4 milhões de inscritos; enquanto que em seu ápice os dados chegaram a cerca de 8,7 milhões de inscritos em 2014, segundo o Jornal da UNESP.
A evasão ao vestibular caracteriza um cenário político-social no Brasil de elitização do acesso ao ensino de qualidade devido à uma gestão burguesa da educação, que visa retirar somente o lucro, não havendo qualquer preocupação com a qualidade e com o acesso.
E é dentro desse vão imenso entre os estudantes pobres e as universidades onde atuam os cursinhos de formação popular.
O jornal A Verdade, presente na aula inaugural, entrevistou Ana Leite, representante da ARES-ABC, para que possamos ter um panorama melhor sobre o que são os vestibulares sob a ótica de quem o vive, os estudantes:
JAV – Qual é a visão da ARES sobre o vestibular?
Ana Leite – A gente entende que os vestibulares são ferramentas não de inclusão às universidades, como nos propagandeiam, mas sim de exclusão de uma imensa maioria, visto que para os 4 milhões de estudantes inscritos, apenas 200 mil vagas são disponibilizadas. Isso nos mostra que o vestibular é uma peneira dos estudantes pobres e quem tem acesso à educação hoje é a elite do nosso país.
JAV – Para a ARES, qual é a importância dos cursinhos populares?
Ana – Nós promovemos e apoiamos os cursinhos populares como um meio de popularizar o acesso às universidades e estimular o debate político entre os estudantes presentes para que se articulem em realmente mudar a realidade da educação no Brasil.
A aula foi estruturada em cima dessas informações para que os alunos participantes tenham em mente qual é a realidade social que circunda o objetivo comum de todos ali – o vestibular.
Além disso, foram realizados mapeamentos de dificuldades específicas de cada aluno e atividades de interação, as quais revelaram angústias em relação ao futuro dos estudantes que estavam presentes, deflagrando o conflito existente entre o desejo dos pré-vestibulandos com a realidade prática, que é a de sucateamento e de elitização do mercado de trabalho, fazendo com que muitas vezes um curso seja retirado de opção por medo de se receber um salário baixo futuramente, ou até mesmo de nem ao menos haver vagas para exercer tal profissão.
Esse medo não é irracional, mas na verdade está completamente embasado na realidade do país, visto que, por exemplo, uma pesquisa realizada pelo Nube (Núcleo Brasileiro de Estágio) com 8.465 brasileiros concluiu que no ano de 2020, 5 em cada 10 formados ficaram sem trabalhar.
O que pode-se extrair com a inauguração vitoriosa do Cursinho de Formação Popular no município de Mauá é de que somente com a mobilização do povo trabalhador em seus respectivos espaços – dentro do espaço acadêmico nesse caso, reiterando ainda a luta política dentro das universidades contra o intelectualismo burocrático imobilista – é que torna-se possível a mudança de uma realidade prática.
Nesse sentido, a emancipação da educação só ocorrerá quando o acesso ao ensino for pleno, gratuito e de qualidade. Essa perspectiva não se encontra dentro do horizonte capitalista, devido a sua natureza predatória de aparelhamento da educação e extração máxima de lucro sobre qualquer que seja a instituição social.
Portanto, é somente na superação do sistema capitalista – isso é, no socialismo – é que cursinhos populares não necessitarão mais existir, pois todas e todos terão acesso a uma educação verdadeiramente acessível e de qualidade.