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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Mário de Souza Prata, um estudante revolucionário

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Estudante de engenharia, Mário de Souza Prata foi presidente do Diretório Central dos Estudantes da UFRJ durante os primeiros anos da Ditadura Militar fascista. Militante do MR-8, Mário Prata lutou pela democracia e pelo socialismo no Brasil, sendo vítima da repressão do regime fascista. Hoje, sua memória é honrada nas lutas do DCE que carrega seu nome.

Alexandre Borges | Coordenador Geral DCE Mário Prata UFRJ


Mário de Souza Prata nasceu no Rio de Janeiro em 26 de setembro de 1945, na cidade de Cantagalo. Deu início a sua militância política no Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) ao ingressar na universidade, chegando a presidir o Diretório Central dos Estudantes da UFRJ, que hoje recebe seu nome como forma de homenagem. 

Foi estudante de Engenharia e certamente tinha sonhos muito parecidos com os nossos, de forma que lutava no movimento estudantil por uma universidade popular, aberta ao povo e contra a tirania que tinha se instalado no país pelos generais-ditadores. No entanto, o assalto à democracia feito pelos golpistas tirou de Mário Prata a possibilidade de realizar seus sonhos, o empurrando para a luta clandestina em 1969, ano em que foi decretada sua prisão preventiva pela “justiça” militar. 

Atuando na clandestinidade em defesa da democracia e lutando pelo socialismo, Mário Prata sofreu as privações que todos os revolucionários sofreram naquele período, com apenas 24 anos. Em 1971, aos 26 anos, foi tombado pela repressão. Na ocasião de sua prisão, estava com sua companheira de vida e organização, Marilena Villas-Bôas, que segundo o depoimento de Inês Etienne Romeu, foi levada à “Casa da Morte” em Petrópolis, e chegou ao Hospital Central do Exército já morta.

Porém, a crueldade da ditadura não foi apenas assassinar covardemente esse jovem estudante, mas a de tentar assassinar também suas memórias, a começar pelas evidentes contradições presentes nas versões “oficiais” do IML e da Polícia sobre seu óbito. A versão “oficial” diz que Mário e Marilena se envolveram em um tiroteio em Campo Grande, ao chegar no “aparelho” (termo utilizado para as residências que abrigavam os revolucionários na clandestinidade). Entretanto, segundo Suzana Keniger Lisbôa, relatora da Comissão especial da Lei 10.875/04, a história não é tão simples:

“O quê realmente aconteceu até hoje não se sabe. A nota oficial informa a morte de um major e de Mário e os ferimentos em Marilene, falecida posteriormente. A certidão de óbito, lavrada como “um homem”, informa que a morte se deu no dia 02 de abril, às 20.45, mas Mário foi encaminhado ao IML somente às 07.40 do dia seguinte, conforme documento obtido por Nilmário Miranda. Ou ainda às 11 horas, conforme informa o CIE. Identificado pelo Instituto Pereira Faustino ainda no dia 03 de abril, foi enterrado 20 dias depois sem identificação (fls. 27). O DOPS e a nota oficial atestam que a morte se deu no dia 03 de abril.”

E continua:

“Temos pelo menos uma certeza, a de que a morte de Mário Prata não está esclarecida, sendo certamente mais um dos ‘teatros’ macabros montados pelos órgãos de segurança da ditadura militar nos quais encenavam ‘tiroteios’, ‘atropelamentos’ e ‘suicídios’ para encobrir assassinatos sob torturas e execuções sumárias, como foi possível comprovar em 130 casos aprovados e citados no Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos.

Como em grande parte dos casos aprovados, a morte de Mário Prata apresenta vários elementos que recorrentemente foram apontados:

  1. contradição nas datas, horários e locais das supostas ocorrências;
  2. assinatura de legistas pouco confiáveis;
  3. desaparecimento de documentos comprobatórios da morte e das ocorrências;
  4. lesões, equimoses e ferimentos visíveis e não descritos nos laudos;
  5. enterro sob nome falso ou como desconhecido.

A dificuldade de obter a documentação necessária para provar definitiva e irrefutavelmente as circunstâncias da morte de Mário Prata pelos órgãos de repressão revela a persistência, passados mais de 30 anos, dos interesses em manter na sombra as cruéis formas de ação da ditadura militar.” 

A ditadura, no entanto, foi derrotada pelo povo brasileiro, mas não sem o sangue de muitas revolucionárias e revolucionários, verdadeiros patriotas que amavam o Brasil e a liberdade ao ponto de dedicarem o que tinham de mais precioso para livrar o país de uma sombra pesada e infame que durante 21 anos silenciou, desapareceu, torturou, estuprou e assassinou trabalhadores, jovens, crianças, sindicalistas, indígenas e revolucionários de todo o país.

Tombaram o corpo de Mário Prata, mas ele venceu a ditadura. De nada adiantou o enterrarem como indigente e o jogarem em uma vala comum, pois hoje seus assassinos são anônimos, mas seu nome é conhecido em todo o país como um herói do povo brasileiro. Honramos sua memória levantando bem alto a bandeira do DCE que carrega seu nome e levando seu exemplo de determinação em cada luta e manifestação por uma universidade popular e uma sociedade livre de opressões.

Por memória, verdade e justiça, nenhum passo atrás! Mário de Souza Prata, presente!

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