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terça-feira, 30 de abril de 2024

Nova diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Urbanitários de Santos vai à luta contra a privatização da Sabesp

Eleição ocorreu em novembro e presidente concedeu entrevista ao JAV sobre as ações da nova gestão

Maíra Dias | MLC Baixada Santista


TRABALHADOR UNIDO – O Sintius foi criado em 1942 sob a demanda de valorização dos trabalhadores que desbravaram as áreas alagadas onde a ocupação humana crescia junto com as crises sanitárias. Isso, em uma época em que a Baixada Santista enfrentava graves crises sanitárias que causaram a morte de milhares de pessoas.

Epidemias de febre amarela e varíola no século XVIII comprometeram os trabalhos do porto que era o principal exportador de café do Brasil. As transformações urbanas ocorreram por motivações advindas das crises sanitárias, quando marinheiros e imigrantes evitavam o destino ou subiam a serra em busca de locais mais saudáveis para viver. Fugiam do lugar que no século XIX ficou conhecido como Porto Maldito ou Porto da Morte.

Em novembro, mês que o governador fascista do estado de São Paulo, Tarcisio de Freitas, se viu obrigado a decretar dois pontos facultativos por causa das gloriosas greves de trabalhadores e trabalhadoras do Metrô, CPTM, Sabesp, professores e Fundação Casa, ocorreu também a eleição da nova gestão do Sintius.

O novo presidente Tanivaldo Monteiro Dantas, 61 anos, conversou com o Jornal A Verdade.

Confira a entrevista a seguir.

A Verdade: Camarada, apresente sua história, a história da chapa 3 e quais são as pautas da luta deste mandato.

Tanivaldo: Ingressei na Sabesp em agosto de 1982 e sempre estive envolvido nas mobilizações e lutas da categoria. Por esse motivo, ocorreu de forma natural a minha participação nos anos 1990 como diretor de base e, posteriormente, no Departamento de Fundo de Greve, de Organização Sindical e de Formação e Política Sindical da entidade até 2015. Em razão dessa experiência acumulada, também exerci o cargo de coordenador nacional do Departamento Profissional dos Urbanitários da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria (Deparurb/CNTI).

A construção da chapa 3 foi uma resposta à necessidade do movimento sindical se fortalecer novamente, após o enfraquecimento provocado pelas mudanças nas leis trabalhistas e previdenciárias nos governos Temer e Bolsonaro e da importância de um maior envolvimento das entidades nas lutas pelas pautas sociais e de interesse dos trabalhadores.

O que também contribuiu para a formação dessa chapa foi a falta de atuação e de resposta da diretoria anterior em relação às demandas e às expectativas da categoria. De forma gradual, começou a crescer a insatisfação e o clamor da base por uma alternativa. Já tínhamos um grupo na Sabesp com a experiência acumulada de manter um sindicato forte e atuante na sociedade e com credibilidade junto aos companheiros e às empresas.

Um grupo de diretores da área de energia da gestão anterior estava insatisfeito com os rumos do Sintius e fizemos uma composição que conseguiu mesclar a experiência e a juventude e saiu vitoriosa nas urnas.

Quais foram as dificuldades no processo de eleição e posse da direção do sindicato?

Nunca passamos por um processo de transição de diretoria tão difícil ao longo desses quase 82 anos de atividades do Sintius. A judicialização para impedir a posse de uma chapa eleita democraticamente foi uma situação nova e vergonhosa à categoria. Essa situação atrasou a posse da nova diretoria em alguns dias, mas a Justiça do Trabalho reconheceu a soberania do voto dos trabalhadores e respeitou a Constituição Federal, que veta ao poder público a interferência e a intervenção na organização sindical.

Quais são os próximos passos do Sintius na luta contra a privatização da Sabesp?

O setor de saneamento é estratégico para o desenvolvimento do País. Por esse motivo, ele sempre despertou a cobiça da iniciativa privada. O novo marco legal do saneamento definiu que, até 2033, 90% da população deverá estar contemplada com coleta e tratamento de esgoto e 99% ter acesso à água potável. No caso da Sabesp, em 2021, a empresa já havia informado à Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp) que teria condições financeiras de atingir a universalização. Por esse motivo, não podemos aceitar que a Sabesp seja entregue de bandeja para a iniciativa privada. Em 1º de dezembro, quando tomaríamos posse, ingressaríamos com uma ação civil pública para impedir que a Prefeitura firme um aditivo contratual ou um novo contrato de prestação de serviços com a Sabesp, caso a companhia seja privatizada. Como fomos impedidos de assumir o Sintius na data prevista, entrei com uma ação popular, pois entendemos que o prejuízo ao erário será enorme. Afinal, o Município é o titular do direito ao saneamento e as conquistas financeiras e de investimentos dos contratos assinados poderão ser deixadas de lado. Agora, enquanto instituição, vamos procurar meios para a gente fortalecer essa luta junto à classe política local e fazer esse enfrentamento em outras cidades. A privatização da Sabesp representará o aumento da tarifa, a precarização dos serviços, a demissão de trabalhadores com muito conhecimento técnico e o aumento da terceirização. Vamos intensificar essa mobilização junto ao movimento sindical e à sociedade para tentar barrar esse processo.

Na sua perspectiva, como você enxerga a relação entre as dificuldades que ocorreram no processo de eleição e posse de vocês com a criminalização e prisão daqueles que lutaram contra a privatização da Sabesp na ALESP?

Não podemos jamais compactuar com o uso da segurança ou das forças policiais para impedir o acesso ou restringir mobilizações populares e de trabalhadores. As prisões arbitrárias de militantes e dirigentes sindicais na Alesp ocorreram em razão da insatisfação dos encaminhamentos que foram feitos nas discussões sobre o projeto de lei que autoriza a privatização da Sabesp. Esse processo ocorreu de uma forma acelerada e sem o diálogo necessário que o tema exige. Repudiamos a violência da PM nesse episódio. Em relação à nossa eleição, foi lamentável a atitude tomada pela diretoria anterior ter contratado uma empresa de segurança privada para restringir o acesso de associados e dos integrantes da nossa chapa nos dias que antecederam a nossa posse. Foi uma atitude fascista. Passada a disputa eleitoral, precisamos pensar no futuro. Vamos fortalecer o nosso trabalho nas bases e buscar a unidade entre a categoria e a diretoria para avançarmos cada vez mais nas nossas conquistas. Pretendemos estar mais presentes no Vale do Ribeira. Resgataremos a credibilidade e o espírito de luta que o Sintius sempre teve no movimento sindical.

Baixada Santista organizada contra as privatizações e a criminalização das lutas populares

Diversas forças políticas da Baixada Santista estão organizadas em uma comissão permanente contra as privatizações da Sabesp, da CPTM e do Metrô e contra a criminalização das nossas lutas populares.

Após as prisões políticas de Hendryll e Lucas a união de sindicatos, partidos, movimentos sociais, estudantes e sociedade civil se fortaleceu ainda mais e estão acontecendo reuniões semanais para a construção de um ato regional na primeira quinzena de janeiro de 2024.

Para participar é só entrar em contato pelo email:  [email protected]

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