Thiago Santos | Recife (PE)
Bombardeios, movimentações de blindados, rajadas de metralhadoras, cercos militares, contraofensiva, captura de inimigos e missões de reconhecimento. Soldados enfrentando e superando toda sorte de dificuldades como o cansaço, a fome e a sede, debaixo do frio cortante, em meio à neve carregada do inverno russo. Não é uma obra cinematográfica, mas o barulho do campo de batalha e a aflição da guerra transbordam de cada uma das páginas da fascinante obra A Neve em Chamas, de autoria do oficial de artilharia e escritor russo Iuri Bondarev (15 de março de 1924 – 29 de março de 2020).
Bondarev participou dos acontecimentos históricos que mais tarde o inspiraram a escrever. Ele também foi membro do Partido Comunista da URSS; se formou no Instituto de Literatura Máximo Gorki, em 1951; e foi ganhador de diversos prêmios por romances que escreveu sobre a guerra. Os eventos originais se desenvolveram no âmbito do 2º Exército de Guardas, durante a Batalha de Stalingrado, na Segunda Guerra Mundial.
O 2º Exército de Guardas entrou em cena após o cerco ao 6º Exército Alemão, em Stalingrado, em novembro de 1942. O cerco fazia parte da chamada Operação Urano. Em dezembro de 1942, esteve envolvido nos preparativos para a Operação Saturno, quando Stálin ordenou que o grupamento preparasse um ataque a Rostov. Em dezembro de 1942, entretanto, os planos mudaram. Os nazistas atacaram a Frente de Stalingrado.
Apesar dos rápidos avanços iniciais da ofensiva nazi, os soviéticos detiveram o inimigo no rio Myshkova. As divisões Panzer, de veículos blindados de combate alemães, foram paralisadas e sofreram pesadas baixas, mesmo antes da chegada da maior parte do efetivo do 2º Exército de Guardas.
Tendo demonstrado seu grande valor, o 2º Exército de Guardas foi então enviado à Frente de Stalingrado para deter a ofensiva do exército nazista.
O livro também destaca o papel desempenhado por Zoia Elaguina, enfermeira-chefe da bateria, encarregada dos cuidados com os feridos; rotinas de luta contra a indisciplina às vésperas dos combates decisivos; situações de mal-estar e tensão entre comandantes e comandados e entre os próprios oficiais; e todos os aspectos da rotina onde foram travados combates extraordinários descritos com riqueza de detalhes.
Indo para além dos relatos do campo de batalha, o autor nos faz conhecer ainda um pouco da atmosfera que permeava também o Estado-Maior: “Que pensa dos acontecimentos, camarada Bessonov?”, pergunta o próprio Stálin num diálogo com um dos generais do Exército Russo. Calmamente, o general responde: “Os últimos acontecimentos diante de Stalingrado, camarada Stálin, poderão marcar o início de uma ofensiva de grande envergadura…”. De fato, os acontecimentos memoráveis – que o autor se esforçou e conseguiu transmitir com particular talento – mudaram os rumos da história da humanidade.
Graças à disciplina e ao grande valor demonstrado pelo povo soviético, após duros ataques e encarniçada resistência, no dia 31 de janeiro de 1943 o quartel-general do 6º Exército Alemão transmitiu sua última mensagem: “Os russos chegaram na porta do nosso abrigo. Estamos destruindo nosso equipamento. Esta estação não transmitirá mais”. As tropas alemãs ocupantes da área em conflito finalmente se renderam ao Exército Vermelho.
Depois da derrota em Stalingrado, os alemães não ganharam mais nenhuma grande batalha. A Batalha de Stalingrado durou 199 dias e estima-se que os soviéticos perderam mais de um milhão de vidas.
Livro: A Neve em Chamas, Editora Progresso
Autor: Iuri Bondarev
Matéria publicada na edição nº 285 do Jornal A Verdade