Incidente em Antares foi o último romance escrito por Erico Veríssimo, publicado em 1971, em pleno período de regime militar no Brasil. O livro aborda temáticas como a repressão, a chegada de indústrias estrangeiras e a luta popular. Veríssimo conseguiu passar pela censura e esse foi um dos livros mais vendidos no ano de seu lançamento.
Clóvis Maia | Redação PE
Em uma noite de sexta feira treze, sete defuntos acordam de seu sono eterno após seus enterros serem impedidos de acontecer. O motivo? Uma greve geral havia tomado conta de toda a cidade. Assim começa a história do último romance do escritor gaúcho Erico Veríssimo. O enredo chama logo a atenção, ainda mais por ter sido lançado em 1971, no auge da ditadura militar brasileira, além de ser uma grande denúncia de todas as atrocidades cometidas pelo regime como corrupção, tortura, censura, etc. Mais de 50 anos depois da sua publicação, esse livro precisa ser lido em todo o país.
Com fortes influências do chamado Realismo Fantástico (corrente literária original de nossa América Latina, criada como resposta aos regimes militares que por aqui se instalaram), especialmente Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, ganhador do Nobel de Literatura, Erico Veríssimo usou seu prestígio e experiência literária para “burlar” a censura imposta pelo regime, afinal, uma história sobre sete mortos que saem andando por uma cidade fictícia não poderia representar perigo, não é mesmo? Dividido em duas partes, o livro remonta a história do país usando o exemplo de duas famílias locais (Campolargo e Vacariano) passando pelo fim oficial da escravidão, pela era Vargas, até chegar ao período pré-golpe militar de 1964.
Na história, os sete mortos, proibidos de serem enterrados, decidem ir até a cidade para um acerto de contas e exigir das autoridades locais um enterro decente. De modo muito habilidoso, o autor traça por esses personagens críticas contundentes ao regime, à sociedade capitalista e faz uma defesa da liberdade e da democracia. Entre os personagens temos João Paz, militante comunista torturado e morto, bem ao estilo de como agia o regime militar brasileiro, Dr. Lázaro, médico local que forjava obituários, Cícero Branco, advogado do prefeito e arranjador das falcatruas e corrupções, e Dona Quitéria, esposa do homem mais rico da cidade, que se arrepende de sua condição de elite após voltar para a sua casa e se deparar com os parentes disputando nas tapas as joias que ela queria que fossem enterradas com ela.
Ou pelo prestígio do autor ou pela divisão bem pensada do romance, o livro conseguiu passar pela censura e se tornou um dos livros mais vendidos no ano de seu lançamento. Adaptado para a televisão e inúmeras vezes para o teatro, Incidente em Antares tornou-se uma das obras mais importantes de nossa literatura e documento fundamental para entender o regime de exceção que nosso país passou. Com mais de 30 trabalhos lançados, Erico Veríssimo nos deixou quatro anos após o lançamento do “Incidente”, vítima de um infarto, em novembro de 1975, mas deixando um legado de grandes obras e uma enorme contribuição para o nosso povo.
Muito bom o artigo, aproveito para complementar a informação: Em 1971, no auge da repressão imposta pelo regime militar, um livro provocava – sua campanha de lançamento destacava, em cartazes, a mesma frase da tarja que envolvia cada volume: “Num país totalitário este livro não seria publicado”. Fosse para não assumir publicamente o autoritarismo, fosse por não perceber o sentido político da ficção, a censura deixou o livro circular. A obra era Incidente em Antares. Seu autor, Erico Verissimo. Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/acervo/incidente-antares-este-livro-foi-publicado-434402.phtml