Hoje se completam 153 anos da primeira experiência revolucionária dos trabalhadores no poder: a Comuna de Paris. Foram 72 dias de heroísmo, de coragem, de abnegação, de organização e de trabalho. A classe operária havia provado ao mundo que uma outra sociedade é possível. Conheça um pouco desta história.
Carlos Alberto Coutinho | São Paulo
LUTAS DO POVO – Em fevereiro de 1848, a classe operária parisiense coloca um ponto final na Monarquia de Julho (domínio da burguesia financeira) e dá vida à Segunda República francesa, sob a direção dos burgueses republicanos, que, em junho daquele mesmo ano, traem e promovem o massacre dos mesmos operários que haviam participado da Revolução.
O objetivo dos burgueses com a Revolução de Fevereiro de 1848 era acabar com o domínio exclusivo da aristocracia financeira, que o exercia na França desde 1830. Eles queriam que as demais facções da burguesia (industrial, comercial e latifundiária) tivessem seu lugar no poder político. Os trabalhadores que haviam feito a Revolução de Fevereiro com suas próprias mãos ficaram a ver navios e todas as suas principais vitórias foram por água abaixo.
“Não restou alternativa aos trabalhadores: ou morriam de fome ou partiam para a briga. Eles responderam, no dia 22 de junho, com a gigantesca insurreição em que foi travada a primeira grande batalha entre as duas classes [burguesia e proletariado] que dividem a sociedade moderna” (Karl Marx em As lutas de classes na França – 1848 a 1850).
Os burgueses venceram aquela batalha. A derrota colocou a classe operária da França na defensiva, o que permitiu a constituição da República burguesa. Com a derrota dos revolucionários em junho, a burguesia consolidou seu domínio pleno, o que não trouxe nenhuma melhoria material às classes oprimidas, em especial à maior classe da França naquele período, os camponeses.
Em dezembro de 1848, Luís Bonaparte foi eleito presidente da República pelo voto de protesto dos camponeses. Defendendo a ordem, a religião, a família e reivindicando-se sobrinho e herdeiro de Napoleão Bonaparte – primeiro imperador da França (1804 a 1815) –, Luís Bonaparte conciliou com a burguesia e reprimiu violentamente a massa do povo, ao mesmo tempo em que preparava seu golpe de Estado, que veio a se confirmar em 02 de dezembro de 1851, com aval de todos os burgueses, como “um golpe preventivo para impedir um novo ascenso do movimento revolucionário”.
A queda do Império e o novo ímpeto revolucionário
O Segundo Império francês deu à burguesia a “tranquilidade” que tanto exigia para que seus negócios prosperassem. Com a repressão brutal dos camponeses, dos operários e de povos de outras nações do mundo, a economia francesa adquiriu proporções inimagináveis.
Em 17 de julho de 1870, o Império Francês declarou guerra ao Reino da Prússia. A França é derrotada, Luís Bonaparte é enjaulado por Otto von Bismarck e os operários da capital declaram a Terceira República.
Os burgueses e seus representantes públicos, vendo o perigo de uma nova Revolução no horizonte, assinam acordos humilhantes de rendição com a Prússia. O proletariado parisiense não os aceitou e se prontificou a defender a capital. Os burgueses, que haviam clamado à França que a guerra era uma questão nacional, demonstraram que, na verdade, mais importante do que qualquer vitória militar sobre a Prússia, era garantir a vitória militar sobre a classe operária francesa.
“No mesmo passo em que o progresso da moderna indústria desenvolvia, ampliava e intensificava o antagonismo de classe entre o capital e o trabalho, o poder do Estado foi assumindo cada vez mais o caráter de poder nacional do capital sobre o trabalho, de uma força pública organizada para a escravização social, de uma máquina do despotismo de classe” (Karl Marx em A guerra civil na França).
As medidas da Comuna
É nesse cenário, que a classe operária novamente se levanta. Desta vez mais organizada ao ponto de tomar o poder na capital francesa, proclamando a Comuna de Paris, em 18 de março de 1871. A Comuna de Paris se inicia com as mulheres operárias acompanhadas de seus filhos. Elas tomam a colina Montmartre para impedir que os canhões da Guarda Nacional parisiense fossem capturados pelo Exército da França. Dava-se início à primeira experiência de governo autônomo da classe trabalhadora e dos oprimidos no mundo.
A massa do povo de Paris, tendo a classe operária em sua vanguarda, suportou a guerra, a fome e a traição, até que resolvem tomar o próprio destino nas mãos. “Logo nos primeiros dias, ficou claro que a máquina administrativa sabotava as ações do Governo Revolucionário e que era preciso organizar um novo tipo de Estado que garantisse o poder popular” (A Verdade, nº 52).
O Exército e a Polícia foram abolidos, o carreirismo político destruído, os altos salários extintos, a Igreja não influenciava mais a educação, a contradição entre os poderes executivo, legislativo e judiciário foi superada. Todos os cargos públicos eram eleitos por voto direto e os eleitos tinham cargos revogáveis a qualquer momento. Ao invés de representantes charlatões da burguesia, os representantes da Comuna eram os próprios trabalhadores. Ela reorganizou as fábricas que os burgueses haviam emperrado para aumentar a crise econômica, organizou as cooperativas livres dos patrões, gerenciadas unicamente pelos operários.
A Comuna abriu as portas dos palácios para todos aqueles que viviam nas ruas. Acabou com o regime de prostituição pública que era mantido em Paris para os homens burgueses e para a polícia e concedeu indenização a todas as mães e viúvas por conta da guerra. Abriu as portas das escolas e universidades, entregou gratuitamente todos os materiais pedagógicos aos professores e proibiu sua venda, acabou com os alugueis escorchantes que pesavam sobre os ombros dos pequenos comércios e extinguiu impostos abusivos. A Comuna de Paris foi o governo autônomo de toda a classe trabalhadora.
“Eis o verdadeiro segredo da Comuna: era essencialmente um governo da classe operária, o produto da luta da classe produtora contra a classe apropriadora, a forma política enfim descoberta para se levar a efeito a emancipação econômica do trabalho” (Karl Marx em A guerra civil na França).
A Revolução está morta? Viva a Revolução!
Os burgueses voltaram sua fúria contra os trabalhadores que ousaram tomar para si aquilo que lhes era de direito. Para desmoralizar e destruir a Comuna, de tudo fizeram: desde a interceptação de cartas que iam e vinham de Paris para o resto da França, até a execução sumária de todos os prisioneiros políticos. A imprensa burguesa contou todas as mentiras possíveis para evitar que o exemplo arrastasse toda a França para a Revolução e, quando os trabalhadores de outras regiões ousaram se levantar, foram massacrados sem piedade pelo Exército burguês.
Foram 72 dias de heroísmo, de coragem, de abnegação, de organização e de trabalho. A classe operária havia provado ao mundo que uma outra sociedade é possível. Uma sociedade livre de exploração e opressão, onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos.
Se 153 anos atrás, os trabalhadores e as trabalhadoras demonstraram que o socialismo é possível, hoje, o mundo nos mostra que o socialismo é – não apenas – possível, mas absolutamente necessário.
VIVA OS 153 ANOS DA COMUNA DE PARIS!
PELO PODER POPULAR E PELO SOCIALISMO!