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domingo, 8 de dezembro de 2024

50 anos do Ilê Aiyê: símbolo do poder negro e resistência na ditadura militar

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Com letras que exaltam a ancestralidade e a força do povo negro, o Ilê Aiyê continua a ecoar resistência e a arrastar multidões nas avenidas de Salvador.

Fênix Boa Morte e Augusto Matheus | Salvador (BA)


CULTURA – O Ilê Aiyê é o primeiro bloco afro de carnaval do Brasil, do iorubá significa Nossa Casa ou Nossa Terra. O grupo formado em 1 de novembro de 1974, na Ladeira do Curuzu, no bairro da Liberdade em Salvador, revolucionou o carnaval baiano, trazendo o protagonismo negro através da valorização da beleza afro-brasileira, uso de tecidos e adereços de matriz africana, presença do ritmo percussivo dos terreiros de candomblé num momento em que os blocos tradicionais não admitiam pessoas negras em suas fileiras.

O grupo foi fundado com inspiração nos movimentos de luta dos negros por direitos civis, Black Power e Panteras Negras dos Estados Unidos, e também as guerras de libertação contra o imperialismo que aconteciam no continente africano. Houve uma tentativa de registrar o bloco com o nome Poder Negro, porém a polícia federal impediu por acreditarem ser negativo, tratava-se do período da ditadura militar fascista em nosso país.

Em 1975, no primeiro desfile, contando com 100 pessoas, o Ilê foi escoltado pela polícia, sendo considerados rebeldes e subversivos, visto que o uso de adereços de matriz africana e penteados afros eram reprimidos, chegando ao nível de agressões e prisões.
A resistência do Ilê desafiou a ditadura militar e o apartheid velado que existia naquele momento. Inspirou o surgimento de diversos blocos afro nos anos seguintes, como o Olodum, Muzenza, Malê Debalê, etc.

Com diversas ações sociais na Liberdade – um dos bairros mais populosos e negros da cidade – o bloco que por muito tempo foi sediado dentro do terreiro Ilê Axé Jitolu, possui uma profunda relação com a comunidade, movimentando a economia do bairro, formando a sua juventude e apresentando uma perspectiva de vida para além da violência oferecida pelo Estado.

O Ilê Aiyê, em seus 50 anos de existência, cumpriu um papel que as escolas e a mídia burguesa por muito tempo tentaram esconder. Com letras que contam a história do continente africano e exaltam a força e as lutas do povo negro, o bloco ascendeu a autoestima de uma população explorada e oprimida, que pôde se reconhecer enquanto herdeiros de um povo livre.

É impossível não se encantar ao ver o Ilê saindo da periferia e tomando a avenida todo ano durante o carnaval, não apenas pela beleza de seus instrumentos e vestes, mas pela multidão de pessoas que o Mais Belo dos Belos arrasta cantando músicas que são verdadeiras palavras de ordem. Da ditadura aos dias de hoje, o Ilê Aiyê é um verdadeiro movimento de massas para inspirar os revolucionários.

“Olha, que bloco é esse?
Eu quero saber
É o mundo negro
Que viemos mostrar pra você”

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