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terça-feira, 1 de julho de 2025

A luta histórica dos operários do ABC Paulista

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Nos anos 1970, operários do ABC desafiaram a ditadura com greves massivas, conquistando 63% de reajuste. Hoje, frente à precarização do trabalho e ameaças golpistas, urge retomar a combatividade operária por uma nova greve geral.

Redação SP


É uma realidade dos trabalhadores das grandes indústrias das cidades do ABC Paulista ouvir nos corredores das fábricas, nas conversas da pausa do almoço, que a condição de trabalho está ficando pior: menos opções de empregos, trabalhos mal remunerados, jornadas cada vez mais exaustivas – como é o caso da jornada 12×36 e a escala 6×1 –, além da ameaça diária do desemprego.

É dito que os trabalhadores podem fazer pouco frente a essa situação, e impera o sentimento de descrença e impotência. Parte dessa perspectiva vêm de sindicatos que abandonaram a luta política, se afastaram da base e institucionalizaram a luta. Mas será que sempre foi assim? É necessário resgatar o passado para saber a verdade, entender o presente, e intervir no futuro.

Exemplo de combatividade durante a ditadura

Em 1978, a ditadura militar fascista (1964-1985) era o regime vigente no país, período caracterizado por grande repressão e violência, restrições dos direitos civis e liberdades individuais. As condições de trabalho eram marcadas pela exploração da mão de obra, pelo arrocho salarial e pela repressão aos sindicatos, enfraquecendo direitos trabalhistas e reduzindo o poder de compra dos trabalhadores.

Porém, mesmo em um cenário tão restrito, esses foram anos em que ocorreram grandes levantes dos operários: em maio de 1978, por exemplo, houve a primeira grande paralisação na Scania de São Bernardo do Campo (SP), seguida por greves em 27 outras empresas que seguiram o exemplo desses ferramenteiros, que reivindicavam 20% de aumento salarial e liberdade sindical.

Inauguraram, a partir dessa luta, uma nova política nos sindicatos da região, que passaram a defender a independência frente ao governo, firmando os antagonismos de classes e combatividade como características primordiais. Foi a partir dessas condições que em 1979, deflagrou-se em assembleia dos três sindicatos dos metalúrgicos do ABC uma grande greve geral, com protagonismo de impressionantes 200 mil trabalhadores e trabalhadoras, que paralisaram por completo a produção das principais indústrias automobilísticas da região (Volkswagen, Ford, Mercedes-Benz e Scania), reivindicando um reajuste salarial de 78,1%.

A greve, mesmo enfrentando forte repressão e intervenção federal, conquistou ao seu final um reajuste de 63%, a maior conquista salarial daquela época, além de transformar o ABC paulista num centro político do país, tendo um papel crucial na resistência e enfraquecimento da ditadura no Brasil. Nas décadas seguintes, ainda houve uma série de lutas dos operários junto ao sindicato, como a conquista da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) a partir de 1995 e extensas campanhas salariais que firmaram o piso salarial da categoria acima da média comparado a todo país e outros setores.

Olhar para o passado para transformar o presente e o futuro

Como já dizia Karl Marx “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Seis décadas após o golpe militar fascista, organizações fascistas, em conluio com a alta cúpula das Forças Armadas, organizou um plano para dar um golpe de Estado, tentando impor novamente um regime militar ditatorial, aprofundando a precarização do trabalho, com a continuação da retirada de direitos já provocada pela reforma trabalhista – como o aumento das terceirizações e da informalidade, a autorização de demissões em massa, horas extras não remuneradas e jornadas de trabalho extenuantes como a já citada 6×1.

O aprofundamento da política neoliberal, antipovo e contra a soberania nacional, alinhada aos interesses dos capitalistas, fortalece também a desindustrialização da região. Exemplo disso foi a saída da Ford em 2019, após 52 anos de produção, deixando de empregar 3 mil trabalhadores. Outra evidência se expressou nas últimas eleições municipais, com o candidato apoiado por Bolsonaro defendendo que São Bernardo do Campo deveria se tornar um polo logístico e abandonar a política de investimentos nas indústrias.

Diante de um cenário de retrocessos, perdas de direitos e precarizações cada vez mais intensas das condições de trabalho, é urgente que a classe operária retome sua história de lutas e conquistas. A experiência dos metalúrgicos do ABC que enfrentaram com coragem a repressão brutal da ditadura militar nos anos 1970 mostra que só a organização dos trabalhadores pode restaurar nos sindicatos o ímpeto para a luta e combatividade.

É preciso também reconstruir a confiança nos sindicatos a partir da base através de campanhas de sindicalização e preparar o caminho para uma nova greve geral que enterre de vez a desumana escala 6×1, garanta a prisão de Bolsonaro e dos generais fascistas e reivindique um aumento de 100% no salário-mínimo. Cabe aos trabalhadores honrar a memória de suas lutas passadas, defendendo o presente e construindo um sistema livre da exploração do homem pelo homem, o sistema socialista.

 

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