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quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

A não representação da mulher negra na mídia

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No dia 16 de setembro, a Globo estreia o seriado “Sexo e as negas”, de autoria de Miguel Falabella. O autor sugere que o programa é uma paródia ao seriado estadunidense “Sex and the City”. No lugar de Nova York, a versão brasileira tem como cenário a cidade alta de Cordovil, subúrbio carioca. No lugar de quatro mulheres brancas bem sucedidas, estão as negras Tilde (Corina Sabbas) uma operária, Zulma (Karin Hills) camareira, Lia (Lilian Valeska) costureira e Soraia (Maria Bia) é cozinheira.

Nem mesmo foi ao ar e o programa já recebe críticas contundentes do movimento de mulheres negras, que o consideram racista e machista. Indo na contramão do que deveria propor uma emissora que se utiliza de concessão pública, o programa reforça uma série de estereótipos a cerca da mulher negra como sua associação à pobreza, a empregos mal remunerados e à hiperssexualização de seus corpos.

É claro que existem mulheres negras camareiras, costureiras, mas também há as advogadas, arquitetas, professoras, ou seja, “a realidade da mulher negra vai além desses estereótipos que o Miguel Falabella vai reportar”, afirma Gabi Porfírio, no episódio 1 do programa “#As nega real”, iniciativa do Blogueiras Negras.

Para além da representação negativa da mulher negra na mídia, o seriado é escrito por um homem branco e narrado por uma personagem branca – Jesuína, interpretada pela atriz Cláudia Jimenez, dona de um bar onde as amigas se encontram para discutir seus problemas e de onde saem para trabalhar e se relacionar. Esses dois elementos acabam por tirar o protagonismo das mulheres negras, enquanto autoras e narradoras de suas próprias histórias. Dizer, portanto que “Sexo e as negas” é um seriado protagonizado pro negras não cabe nesse contexto.

Na coletiva de imprensa do seriado, Falabella tentou se explicar: “eu já vi as críticas na internet. Só no Brasil as pessoas falam do programa antes de assistir. Eu escolhi esse nome como uma prosódia do jeito carioca de falar, inclusive por isso não tem o ‘r’ em negras. Por esse motivo também tinha que ser eu mesmo falando o nome no final da vinheta. As pessoas precisam encarar com humor. Mas é isso, as pessoas têm que protestar mesmo. Este país precisa de protestos”.

Menos de uma semana da estreia do seriado, já há boicote organizado na internet e a Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial recebeu três denúncias de racismo contra o programa. A Secretaria se comprometeu a averiguas as denúncias e notificará a emissora, se julgar necessário. No Facebook, a página intitulada Boicote Nacional ao programa “Sexo e as negas” da rede Globo, estimula as pessoas a não assistirem ao programa e recebe depoimentos de mulheres negras que revelam suas profissões e afirmam não serem representadas pelo programa.

Em tempos nos quais todos os dias temos notícias sobre racismo, é louvável as mulheres negras se articulares dessa maneira para afirmarem que não aceitam mais serem tratadas de forma estereotipada pela mídia e que querem contar suas histórias da maneira que julgarem mais apropriada. Toda a solidariedade à luta de nossas companheiras negras.

O assunto está sendo coberto pelo Blogueiras Negras, vale a pena acompanhar.

Luciana Mendonça, São Paulo

 

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