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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Alienação e estranhamento do trabalho na obra de Marx

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TEMPOS MODERNOS – O trabalho humano, atrelado às demandas de produção e consumo, é apenas uma atividade mecanizada para suprir interesses alienados. (Foto: Reprodução/Charles Chaplin)
Thiago Anjos

PERNAMBUCO – Em seus escritos, Marx aponta o trabalho como “fator distintivo” entre a humanidade e os animais; o que daria seu caráter “humano” seria a capacidade da sociedade de iniciar a “produção dos seus meios de vida”. Apesar de os animais também produzir meios de subsistências, o faz de maneira instintiva, imediata, “unilateralmente”, com interesses fixos; o homem, por sua vez, produz “universalmente”, pois envolve consciência, comportamentos e interesses, que transformam as necessidades ao mesmo tempo que as sempre.

Nesse sentido, o homem mesmo sem a necessidade física produz, na ideia de que, ao satisfazer uma necessidade, cria-se outra. Marx fala da autocriação do homem e da natureza, pois o primeiro tem a capacidade de transformá-la, de forma a atender à suas demandas.

Todavia, para entender o conceito de trabalho na visão marxista, é importante observar o contexto histórico de seu surgimento, marcado pela grande ascensão da indústria. Em contramão, o economista Karl Marx afirma que o trabalho é um instrumento de subordinação das classes exploradas, visando os interesses de grupos dominantes, resultando em um “trabalho estranhado”: a alienação.

Nesse modelo de trabalho, a pessoa que trabalha não irá possuir os produtos finais de sua produção, que passa a ser dividida e cada vez mais específica. Assim, o trabalho passa a ser associado ao sentimento de despertencimento, com um vínculo unicamente de dependência financeira.

Tal estranhamento é trazido por Marx em quatro aspectos:

1. O trabalhador é estranho ao produto de sua atividade; sendo assim, não conhece o que produz ou conhece apenas parcialmente;

2. A alienação do trabalhador sobre o produto reflete na alienação sobre a própria atividade produtiva (trabalho). O trabalho perde o caráter “natural”, uma manifestação essencial para desenvolvimento energético, físico e espiritual, para ser determinado pela necessidade dos capitalistas, uma imposição, um sacrifício;

3. Em consequência, o trabalhador também é alienado sobre o gênero humano. O trabalho vira a finalidade da vida, perdendo a humanidade, diante da criação de necessidades imediatas criadas pelo sistema;

4. Por fim, tem-se a alienação do “homem pelo homem”. A exploração e relações presentes no trabalho (operário-capitalista) reverberam às demais relações sociais, onde o ser humano passa a ser indiferente, estranho, ao outro.

O modelo de trabalho capitalista leva ao ser humano a não ver o trabalho em sua essência humana, natural, necessária a sua realização pessoal e criatividade, o que resulta na perda da própria humanidade nas relações sociais além da esfera do trabalho. O objetivo da vida passa a ser os produtos desse trabalho, numa forma negativa, não crítica, meramente reprodutora. Sua atividade vital se torna apenas um meio de satisfazer necessidades físico-biológicas (comer, se vestir, construir moradias, etc.), aspecto, nesse sentido, semelhante aos animais, que trabalham apenas de forma imediatista para sobreviver.

Ainda mais, no sistema capitalista, o trabalho humano, atrelado às demandas de produção e consumo, é apenas uma atividade mecanizada para suprir interesses alienados, como mostra, por exemplo, o conhecido filme “Tempos Modernos”, estrelado por Charles Chaplin.

A obra retrata justamente a alienação imersa modelo de trabalho imposto aos trabalhadores, que vendem sua força de trabalho (única coisa que possuem), cada vez mais problemática, robotizada e desumanizada, onde o trabalhador não se enxerga como parte importante no processo do trabalho. Tal realidade é fruto da histórica apropriação privada dos meios de produção, que institui a separação entre o trabalho e o capital. Ou seja, entre os produtores e o que se produz (produto).

Em resposta aos sofrimentos cotidianos da atual conjuntura, pode-se concluir, com base nos estudos de Karl Marx, que, enquanto os trabalhadores estiverem preso ao sistema capitalista-burguês, serão apenas uma mera mercadoria dentro de uma sociedade que exalta a vida egoísta em detrimento ao sentimento de comunidade. Diante disso, faz-se necessário que se construa um verdadeiro poder popular com base nos anseios e lutas sociais, visando a emancipação e soberania de toda natureza.

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