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sábado, 21 de dezembro de 2024

Bolsonaro prejudica brasileiros até em Portugal

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SITUAÇÃO DE RUA – Grande número de brasileiros que se mudaram para Portugal para começar uma vida nova acabaram morando nas ruas e sem amparo. (Foto: Rafael Marchante/Reuters)
Tadeu Sampaio
Correspondente do Jornal A Verdade em Portugal

LISBOA (PORTUGAL) – Podemos afirmar, com certeza, que não existe uma imagem hegemônica dos brasileiros residentes em Portugal. Por dois motivos: de um lado, Portugal é um país muito complexo, com diferenças regionais significativas, isso evidencia percepções diferentes dos brasileiros de acordo com a cultura regional e com a população da cidade que os recebe. Por outro lado, os brasileiros que vieram para Portugal têm origens e formações diversificadas.

Quando dialogo com portugueses a respeito dos brasileiros, ouço de experiências pessoais a análises mais elaboradas. Alguns nos consideram irmãos, outros se referem a nós como “pouco civilizados”. Claro que, como todos os povos do mundo, quando se deparam com gente diferente, o estrangeiro é sempre o “outro” e o nativo é sempre o “nós”. Ou seja, a referência é sempre do residente do país.

Até antes da pandemia da Covid-19, não havia grandes restrições à entrada de brasileiros, africanos, indianos de Goa ou chineses de Macau. O objetivo era garantir a sustentabilidade demográfica de uma sociedade que reduz o número de indivíduos a cada ano. Um fator complicador para Portugal são os indicadores demográficos.

No ano de 2019, nasceram somente 87 mil portugueses, enquanto que só de brasileiros chegaram 150 mil. A taxa de natalidade do país é negativa. Avalia-se que, em 2050, Portugal terá dois milhões de portugueses a menos. Portanto, existe uma política de recepção de imigrantes lusófonos, visando a garantir a estabilidade da população e manter a cultura portuguesa. Nesse aspecto, os brasileiros são bem-vindos. Mas nem sempre esse lado positivo prevalece.

Um Perfil dos Brasileiros que Foram para Portugal

Talvez seja mais fácil categorizar quem são os brasileiros que optaram por morar em Portugal. São trabalhadores em busca de melhores condições de vida, indivíduos que buscam empregabilidade na construção civil, na área de turismo (restaurantes, bares e pastelarias) e serviços; são estudantes de classe média alta em busca de melhor formação universitária (as universidades portuguesas, além de serem consideradas de ótimo nível, aceitam avaliação do Enem). Trabalhadores aposentados também buscam o país cujo nível de segurança e saúde pública é o quarto melhor do mundo. E, finalmente, a classe média alta em busca de segurança. Desta forma, podemos afirmar que todos os brasileiros vieram em busca de melhor qualidade de vida, em especial segurança, saúde e educação.

Apesar disso, Portugal é um país considerado pobre na comunidade europeia. O salário é um dos mais baixos na Zona do Euro. Com a pandemia da Covid-19, o Brasil se tornou o centro das atenções de maneira muito negativa. Raros são os dias em que não são publicadas reportagens de página inteira sobre a pandemia e o total descaso das autoridades brasileiras. Os portugueses estão atônitos e não compreendem como um país com tanta riqueza chegou a um nível tão baixo com relação aos direitos humanos. O governo brasileiro é visto pela sociedade portuguesa e europeia como genocida. Houve cobrança dos jornais portugueses sobre o posicionamento do presidente Marcelo Rebelo de Sousa e sobre a condição política catastrófica do Brasil.

O nível de informação do cidadão médio português é muito melhor do que a do cidadão médio brasileiro. A educação em Portugal sofreu uma mudança significativa após a Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974. Essa revolução foi gestada pelos setores nacionalistas do Exército português, com apoio do Partido Comunista, e derrubou o governo de Marcelo Caetano, sucessor do fascista Antônio Salazar. Os portugueses sabem que a concentração de riqueza no Brasil é uma das mais perversas do mundo e que os capitalistas brasileiros são a escória dentro do próprio modelo econômico.

Já existe discussão em Portugal e no Parlamento Europeu sobre a possibilidade de proibição de entrada de viajantes vindos do Brasil nos países da Comunidade. Se essa determinação acontecer, os brasileiros correrão o risco de serem ainda mais estigmatizados. De toda forma, somente a mobilização das camadas populares poderá alterar o destino do genocídio da sociedade brasileira.

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