Dando prosseguimento ao projeto de priorizar o dinheiro e não a vida, em maio, o prefeito retirou dados sobre óbitos de Covid-19 do painel de informações da prefeitura na internet, explicando que o objetivo era rever protocolo. A manobra coloca em xeque a credibilidade dos dados expostos e prejudica o planejamento das ações, contribuindo para o aumento de casos e mortes pela doença na cidade.
Por Movimento Trabalhadores pelo SUS
Rio de Janeiro
RIO DE JANEIRO – Em 25 de março deste ano, o prefeito-bispo do Rio de Janeiro Marcelo Crivella, incentivado pelas declarações de seu aliado político, o presidente Jair Bolsonaro, sinalizou em seu Twitter que a abertura do comércio aconteceria em breve. Alinhado à política de morte de Bolsonaro, o prefeito contraria critérios de abertura das atividades da Organização Mundial de Saúde (OMS), pois esta deve ocorrer quando a curva de contágio da doença estiver na descendente de forma inconteste, o que não era o caso naquele momento. Na verdade, Crivella e Bolsonaro participam da mesma dinâmica de gestão, que é criar o caos e a confusão para então desorganizar a luta da população e dar continuidade à política de retirada de direitos, desmonte do Estado e exploração do trabalhador.
Dando prosseguimento ao projeto de priorizar o dinheiro e não a vida, em maio, o prefeito retirou dados a respeito dos óbitos de Covid-19 do painel de informações da Prefeitura do Rio na internet, explicando que o objetivo era rever protocolo. No entanto, a manobra fraudulenta apenas coloca em xeque a credibilidade dos dados expostos e prejudica o planejamento das ações, contribuindo para o aumento de casos e mortes pela doença. Essa atitude fragiliza ainda mais um sistema que precisa lidar e considerar uma taxa de subnotificação altíssima para agir no sentido de proteger as pessoas. Ao invés de incrementar esse sistema, Crivella burla os dados para servir aos empresários sdentos por lucros. Todos sabemos e queremos que as atividades retornem, mas de forma responsável e amparando, principalmente, os mais vulneráveis, pois, conforme estudo nacional sobre a Covid-19 conduzido pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), os 20% mais pobres da população têm o dobro da infecção se comparado aos 20% mais ricos.
É importante lembrar que a gestão Crivella foi e continua sendo inimiga do trabalhador da saúde. Ao longo de todo o seu mandato, o atraso dos salários foi a regra, as demissões ocorreram em massa, o desmonte da atenção primária é evidente. O setor iniciou o enfrentamento da doença nessas condições, e cinicamente uma das medidas anunciadas no site da prefeitura como combate à doença foi a abertura de clínicas da família em bairros da cidade, se utilizando da transferência de profissionais de outras clínicas, piorando as já tão precárias condições de funcionamento. A OMS é clara sobre as medidas a serem tomadas; uma delas é a prevenção em locais de trabalho e escolas, além da testagem em massa da população. Nunca houve um esforço da prefeitura em promover e incentivar a produção, por exemplo, dos equipamentos de proteção do profissional da linha de frente e dos testes, tão imprescindíveis no contexto da pandemia. Ações desse tipo refletiriam na proteção das pessoas e incentivariam a criação de postos de trabalho, efeito este bastante desejado em uma cidade que sofre com o desemprego e com a informalidade que corrói a rotina de milhares de pessoas.
Mais preocupado com a reabertura do comércio e burlando dados para que tal objetivo seja atingido, Crivella publicou em 02/06/2020 decreto anunciando as medidas de reabertura gradual das atividades, segundo ele, com decisão unânime do Conselho Científico municipal. Porém, somos surpreendidos logo após a publicação do documento pelas declarações de médicos integrantes do conselho, como o infectologista Celso Ramos, que relatou a surpresa com as decisões tomadas, e também o virologista Amilcar Tanuri, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dizendo “que a frequente lotação no transporte público é o que mais preocupa” e que não havia aconselhado a abertura de shoppings. (G1, 11/06/2020)
Ao longo do processo no qual as contradições acima foram listadas, as notícias acerca da compra de equipamentos chegam com as denúncias de indícios de superfaturamento. Segundo relatório do Tribunal de Contas do Município (TCM), a prefeitura teria comprado equipamentos e remédios para o combate à Covid-19 com valores acima da média de mercado, cerca de 157 milhões de reais. Os desvios de dinheiro público ocorrem nas compras de equipamentos e sua má gestão, além da construção de clínicas da família que não possuem condições de funcionamento, essa última medida com objetivo claro de angariar votos em ano de eleições.
Seguindo com a abertura irresponsável das atividades, no início do mês de julho, Thiago de Moraes Moreira, coordenador do gráfico de velocidade da curva de contágio da prefeitura, declarou que houve queda dos casos de Covid-19 na cidade. Diante das manobras dos dados, que colocam suspeitas na transparência de informações acerca da dinâmica da doença, é inadmissível que aceitemos o relaxamento da quarentena nesses termos. Afrouxar o isolamento social sem a queda evidente de casos pode ocasionar uma segunda onda, aumentando ainda mais a preocupação com as vagas em leitos de hospitais e UTI’s. Mesmo assim, no dia 16/07/2020, a Secretaria Municipal de Saúde informou que 200 leitos de enfermaria serão desmobilizados no Hospital de Campanha do Riocentro.
Assim, é preciso contestar as medidas implementadas pelo governo Crivella no combate à Covid-19, pois elas estão mais na direção de provocar uma mortandade da população, do que propriamente protegê-la. A luta do trabalhador da saúde é obstáculo aos objetivos do prefeito, com os devidos cuidados e regras de segurança, as assembleias e manifestações seguem acontecendo, o SUS resiste e insiste.