“A alta nos preços do botijão de gás se deu principalmente pelos lucros que revendedores e distribuidores viram que podiam conseguir com a disparada da cotação do dólar e dos preços internacionais do petróleo, estabelecidos muito mais pela dinâmica da especulação financeira do que pelas condições objetivas de produção.”
Carolina Matos
SÃO PAULO (SP) – Após passar quase um mês internada, morreu na última segunda-feira (29) Geisa Stefanini, de 32 anos. Ela teve 90% do corpo queimado em um acidente ao cozinhar com álcool combustível onde morava, no município de Osasco, na Grande São Paulo, e faleceu em decorrência de uma broncopneumonia, além de outros ferimentos.
A jovem estava desempregada, fazia bicos vendendo perfumes e morava de aluguel em um quarto e cozinha, que conseguia pagar por ser beneficiária de programas governamentais voltados para pessoas em situação de vulnerabilidade social. Segundo uma vizinha, Geisa passava por dificuldades financeiras e improvisou dois tijolos e uma grelha em cima do fogão para cozinhar com etanol porque não tinha dinheiro para comprar botijão de gás. No momento do acidente, ela esquentava comida e a mamadeira para o filho Lucas, de apenas oito meses. O bebê também sofreu queimaduras de segundo grau, atingindo 18% do corpo. Ele se encontra recuperado e está morando com o pai. Geisa era mãe de outros quatro filhos.
Subindo cinco vezes a inflação do ano, gás de cozinha já corresponde a 10% do salário mínimo
Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o preço médio do botijão de 13kg no país já ultrapassa os R$ 100, comprometendo 10% do salário mínimo em 16 estados. No MT, o gás de cozinha chega a custar R$ 135. Desde o início do ano, o preço do produto sofreu alta de 30%, cinco vezes maior que a inflação acumulada até agosto, que foi de 5,67%, segundo o IBGE.
Item essencial para o preparo de alimentos, o botijão de gás tem pesado demais no orçamento da classe trabalhadora e tem sido substituído por fogão à lenha por várias famílias, mas muitas delas não conseguem adquirir materiais adequados e recorrem a combustíveis como o etanol, o que aumenta o risco de acidentes, como aconteceu com a jovem Geisa, mais uma vítima do retrocesso social promovido pelo governo Bolsonaro.
A alta nos preços do botijão de gás se deu principalmente pelos lucros que revendedores e distribuidores viram que podiam conseguir com a disparada da cotação do dólar e dos preços internacionais do petróleo, estabelecidos muito mais pela dinâmica da especulação financeira do que pelas condições objetivas de produção. O governo Bolsonaro sabe bem disso, mas não quis interferir nessa movimentação, privilegiando ricos e piorando drasticamente a vida de milhões de brasileiras e brasileiros.