O Chile foi o novo alvo de constantes bombardeios de fake news, promovidos e financiados pela extrema direita. Mentiras que denotam um profundo caráter racista e de classe que permeia a classe dominante chilena contrária ao processo da constituinte.
Reinilson Câmara
SÃO PAULO – Vejamos algumas das mensagens disparadas pelos grupos contrários à nova Constituição: “Vão mudar o nome do país, vão mudar a bandeira e o hino. Também não haverá mais polícia e ninguém poderá protegê-lo dos imigrantes e indígenas que tomarão o poder”; “As mulheres poderão abortar horas antes de dar à luz. Não vai ter saúde, nem educação particular, na verdade não vai ter propriedade privada. Em geral, tudo nos será tirado, nossas casas e nossas terras”; “Eles vão proibir a religião, você tem que votar Não, porque o que se passa é muito grave, mas mesmo que você vote que Não, há grande risco de fraude, eles já estão se articulando. Eles vão levar venezuelanos e haitianos para votar pelo Sim. E se isso não bastasse, vão fazer votar até os mortos e os desaparecidos. O país está em perigo, é preciso tomar conhecimento e rejeitar a nova Constituição”.
Esse é o tipo de conteúdo que a direita reacionária, atrasada, racista e fascista chilena vem disparando em massa no Whatsapp, sendo twittado e re-twittado, compartilhado por stremers no Youtube e Twitch para gerar desinformação e pautar o debate público na direção moral e não na questão material da melhora na condição de vida do povo chileno que uma novo constituinte gerará no país.
Quem está promovendo o voto contra a nova Constituição, obviamente, são os grupos de direita e de extrema direita. São feitas afirmações xenofóbicas como: “O povo mapuche terá mais direitos do que os outros povos e cotas reservadas em todos os níveis do Estado.” Além disso, esses grupos estão distribuindo panfletos nas ruas com avisos de que o Estado vai tirar a água de todos os chilenos, exceto se forem indígenas.
Distribuindo panfletos entre os cidadãos com o logotipo e cores oficiais, mas com informações falsas de que Evo Morales poderá anexar partes dos territórios ancestrais dos povos originários. Informações de que Nicolás Maduro mandou uma saudação aos chilenos e encoraja-os a votar “Sim” na nova constituinte.
O nível de alarmismo chegou a tal ponto que o Serviço Eleitoral Nacional teve de fazer algumas campanhas alertando os cidadãos para o perigo das notícias falsas e de que é necessário verificar a veracidade das informações.
“Antes de compartilhar informações sobre o processo eleitoral, pergunte-se: as notícias estão corretas? São um perigo para a democracia? Tentam diminuir suas intenções de participar do plebiscito e instalar desconfiança no sistema eleitoral?” Essas são algumas das orientações do para o combate das chamadas Fake News. Mas essas campanhas feitas são incapazes de frear a catarata de falsidades que são despejadas para distorcer o debate público.
Os privilégios da grande burguesia chilena começaram a ser ameaçados desde a eclosão social de 2019 que levou milhões de chilenos às ruas tendo, como resultado, a escrita de uma a nova Constituição que, em parte, possibilitou que a candidatura presidencial de Gabriel Boric prosperasse.
Dessa forma, os setores mais reacionários da sociedade, interessados em manter seus privilégios, começaram a utilizar e promover massivamente campanhas de desinformação, tentando manipular a opinião pública para seus interesses.
No Chile existe toda uma rede de influenciadores de direita que têm laços estreitos com o ex-candidato presidencial José Antonio Kast, o mesmo que saiu elogiando o trabalho dos influenciadores e que também disse que as mulheres pararam de ir ao parque porque têm medo de que imigrantes poderiam estuprá-las.
Há alguns meses, um dos influenciadores que promoveram ativamente a opção de rejeitar a nova Constituição em suas plataformas confessou em entrevista que se arrependeu de ter feito isso.
Rodrigo Pulgar, conhecido nas redes sociais como Krypto, denunciou todo o esquema de fake news desenvolvido pela extrema direita: “eles se organizam em grupos de WhatsApp que devem ter em média 100 pessoas. Eu estava em um desses grupos de WhatsApp, então eles dizem, hoje vamos criticar tal pessoa, imagine 300 pessoas twittando ao mesmo tempo contra algo, ou alguma pessoa, ou subindo uma hashtag, então é uma loucura. Esse grau de organização metódico funciona extremamente bem. Não sei se você já viu que os grupos de zoom também estão sendo envolvidos. Foram criados grupos no zoom para exaltar os discursos de Pinochet de 1973, 1974, e relembrar hábitos e costumes dos militares.” Finalizou Krypto.
Claramente esses grupos que espalham Fake News são os mesmos da operação Condor e que agora estão tentando, de eleição em eleição, roubar a democracia do povo. Principalmente na América Latina, através de estratégias antidemocráticas, com discursos de mentiras e ódio.
Já está comprovado que quem estava por trás do golpe na Bolívia e a campanha de Fake News contra Castillo no Peru são os mesmos que espalham desinformação contra a nova constituinte chilena. São os métodos adotados por uma elite econômica antidemocrática que faz o que for preciso para manter o controle desses privilégios.
Manipulando as redes sociais, enchendo as redes com notícias falsas, criadas por jornais digitais, mídia controlada, vários influenciadores ou pessoas anônimas e amplificadas por contas automatizadas, robôs. Tudo isso para manipular a opinião pública para uma determinada direção.
Vemos novamente Steve Bannon e seus amigos da Cambridge Analytica utilizando o método de Fake News para manipular a frágil democracia que vivemos. Um método que é usado em todos os lugares e vai sendo aplicado, agora no Chile.
Outra vez eles usam as mesmas histórias, os mesmos métodos aplicados em outros países na América Latina (Bolívia, Argentina, Brasil) ou mesmo na Espanha, obviamente adaptado às necessidades e a conjuntura de cada país, mas observa-se que os elementos centrais se repetem.
Elementos anti-povo, racistas, xenófobos e principalmente fascistas. São as mesmas tendências que condicionaram as campanhas de Trump, Macri, Bolsonaro, o Brexit e agora tentam fazer do Plebiscito chileno o próximo evento.