A Copa do Mundo acontece num dos países que mais exploram trabalhadores no mundo. Fruto da ganância da FIFA o evento vem sendo criticado pela grande mídia. Mas o que alguns veículos escondem é o apoio histórico do imperialismo dos EUA e da Europa ao atual governo do Catar.
Felipe Annunziata | Redação Rio
INTERNACIONAL – No último dia 20, teve início a Copa do Mundo FIFA, no Catar. É a primeira edição do evento, iniciado em 1930, realizada num país do Oriente Médio. O campeonato reúne 32 seleções dos 5 continentes e se consolidou como um dos eventos esportivos mais caros da história.
Mas nem tudo nessa Copa é sobre o futebol, os grandes jogadores como o francês M’bappé, o argentino Messi, o português Cristiano Ronaldo ou o nosso Vinicius Jr., que disputa sua primeira Copa como revelação da seleção brasileira. Estamos num evento cercado daquilo que o capitalismo mais produziu: exploração do trabalho, exclusão social e corrupção.
Propina e semi-escravidão: as denúncias sobre o Catar
A mídia internacional passou as últimas semanas denunciando as violações de direitos humanos que ocorreram no Catar ao longo da preparação para a Copa. Há a suspeita de que o Emir do Catar pagou uma propinas de 880 milhões de euros a dirigentes da FIFA para sediar o campeonato.
Além disso, segundo a imprensa, há denúncias de que nos últimos 10 anos (desde que o Catar foi escolhido como sede) mais de 6 mil trabalhadores morreram em obras ligadas a Copa ou de infraestrutura para a Copa. Isto acontece porque o Catar mantém um regime de semi-escravidão para trabalhadores imigrantes, a chamada Kafala.
Dos quase 3 milhões de habitantes do pequeno país do Golfo Pérsico, 85% são imigrantes, a maioria indianos, paquistaneses e bengalis.
No sistema de Kafala, estas pessoas vão morar no país para trabalhar por salários de fome contratados por patrões que “pagam” a ida e a estadia. E através dessa “dívida” que eles mantém os trabalhadores subordinados, proibindo a saída deles do país e submetendo eles a jornadas extenuantes de trabalho em condições muito precárias. Além disso, os trabalhadores só podem trocar de emprego com autorização do patrão, que também retém seus passaportes, impedindo a saída do país.
Catar: país subordinado aos interesses do imperialismo
Todas essas denúncias trazem muitas provas de veracidade. O Catar é um emirado (monarquia) absolutista e teocrática do Golfo Pérsico, na Ásia. No país de maioria muçulmana, o Estado segue uma visão fundamentalista do Islã e promove uma segregação das mulheres e a criminalização da população LGBTIA+.
Mas o que choca nisso tudo não é apenas o Catar ser assim, pois outros países no mundo também são. No Brasil mesmo temos políticos que defendem que o país seja um Estado cristão e que se persigam as religiões de matriz africana. O que chama a atenção é que esse regime reacionário é sustentado com o apoio dado pelos EUA e pelo imperialismo europeu, que têm no Catar um de seus principais aliados no Oriente Médio.
Tamim bin Hamad bin Khalifa Al Thani, o Emir do Catar, é um importante aliado das potências imperialistas naquela parte do mundo. Sua família se consolidou no poder no pequeno país graças a ocupação das forças da Grã Bretanha, que mantinham o Catar como protetorado até 1971.
É graças ao governo dele, e do pai antes dele, que os EUA mantém uma estratégica base militar no país. Além disso, o Catar se afirmou como o 3º maior produtor de gás natural do mundo, sendo um importante fornecedor de europeus e estadunidenses.
Com o dinheiro do gás e da exploração desumana dos trabalhadores imigrantes, e a posição geopolítica estratégica, o Catar mantém o reconhecimento e apoio das potências imperialistas do seu regime de opressão.
A indignação de veículos de mídia como a inglesa BBC, o jornal estadunidense The New York Times, ou da TV alemã Deutsche Welle, contrasta com a posição histórica dessas mídias de fechar os olhos para os acordos que seus governos fazem com países como Catar, como a Arábia Saudita, ou mesmo Israel, que mantém um regime de apartheid contra o povo palestino.
Se o Catar é hoje uma ditadura fundamentalista se dá graças ao imperialismo norte-americano e europeu que sustenta desde o século passado a monarquia da família Al Thani.