Ao tentar separar uma briga generalizada na escola, o professor acabou sendo agredido pelo pai de um aluno e precisou levar onze pontos em um dos olhos.
Gustavo Fernandes
BAURU (SP) – No dia 06 de março, segunda feira, ocorreu um ato em frente à Escola Estadual Ernesto Monte, na cidade de Bauru, em apoio ao professor Matheus Versati que havia sido agredido na sexta-feira, dia 03.
Segundo relatos do professor em suas redes, o médico concedeu a ele um afastamento de 10 dias, porém, devido à precarização de seu contrato de trabalho com o estado de São Paulo, o docente não poderia usufruir do seu afastamento. Seu contrato de trabalho é conhecido como “categoria V”, uma modalidade de contratação que implica em trabalho intermitente.
O ato contou com a participação de professores e alunos, representantes do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), representantes do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Bauru, representantes da Unidade Popular e do Partido Comunista Brasileiro.
Os manifestantes levaram cartazes que demandavam mais investimento público na educação, revogação do chamado Novo Ensino Médio, contratação de mais funcionários e o combate à violência contra professores.
Entre as falas de professores, a falta de funcionários da escola foi uma pauta recorrente. Em dado momento um professor pergunta quantos dos alunos teriam aulas vagas naquela manhã. Vários alunos levantaram as mãos, indicando que a escola se encontra em uma situação crítica de falta de professores.
Uma aluna foi ao microfone para demonstrar apoio ao professor – “Ele é muito bom, mas ele não está na sala de aula como professor. Ele está como substituto. Ele não serve para substituir, ele serve para estar dentro da sala de aula como professor realmente da sala”.
Os representantes da UP defenderam a importância da revogação do Novo Ensino Médio e de como essa reforma representa um ataque aos direitos dos estudantes filhos da classe trabalhadora, como uma forma de reduzir o acesso à universidade pública. Também foi ressaltada a importância da união de forças com os pais dos alunos na ação política.
O professor Matheus, em sua fala no microfone, disse que o ocorrido é um reflexo da falta de inspetores de aluno. Também lembrou das ocupações dos alunos secundaristas ocorridas no ano de 2016 e de como a reforma do ensino médio é uma forma de despolitizar os estudantes.
Em conversa com Marcos Chagas, professor e representante da sede de Bauru da APEOESP, ele falou sobre a condição precária da educação estadual: “Na rede do Estado existem várias formas de contrato, na verdade. Existem os professores efetivos. Existe uma categoria de professores que foram efetivados por lei, judicialmente, que a gente chama de categoria F. Depois tem os professores que a gente chama de categoria O, que são os professores contratados, que tem contrato temporário, e tem o seu vínculo conforme o tempo desse contrato. E tem os professores categoria V, que é o caso do professor Matheus, que são os professores eventuais, que é aquele professor que só recebe quando ele substitui um professor que faltou ali momentaneamente, em uma questão esporádica. Ele não é professor daquela turma, ele não é professor daquela disciplina, ele só cobre aquela falta daquele professor naquele momento… Ele só ganha conforme as aulas que ele dá, então ele não tem um vínculo com o Estado na forma do contrato dele e aí quando ele se afasta ele não tem direito a nada… É a precarização ao extremo“.
Também foi perguntado a respeito da falta de professores na rede:
“A mais de uma década que a gente não tem concurso, então a gente tem uma realidade no estado que a gente vê uma ampliação da rede, a gente tem uma necessidade maior de professores, mas não tem contratação de professores efetivos na última década. E temos também os professores aposentados e muita gente abandonando a rede. Professores que não tem mais condições, acabam desistindo da profissão. Então faltam muitos professores e não tem esse mecanismo de reposição. Nas escolas a gente tem muito mais professores contratados do que efetivos… Atualmente o governo até anunciou o concurso para 16 mil vagas, mas hoje em dia 16 mil vagas colocariam no máximo 3 professores em cada escola… Em boa parte das escolas metade dos professores são efetivos. Aqui um terço é efetivo. Você tem uma escola inteira com remendos.”
É importante salientar que o desmonte da escola pública é um projeto que beneficia o setor privado da educação. Esse projeto serve à uma lógica que transforma a educação em uma mercadoria. Nessa lógica, apenas quem pode pagar pelo serviço privado terá acesso à educação de qualidade. É preciso lutar contra esse projeto de forma organizada para assim conseguirmos que o acesso à educação seja um direito de todos.
Concordo plenamente com a reportagem e os comentários a situação da rede estadual de ensino de São Paulo é muito complicada mais de dez anos sem concursos públicos e terá só um concurso agora, mas, não é o suficiente o pior não é só os salários baixos e sim as condições de trabalho muito precárias e o assédio moral.