Alunos de algumas universidades privadas ainda não voltaram à modalidade presencial e funcionários e professores passam por superexploração para aumentar os lucros dos empresários da educação.
Kallyo Ribeiro e Ayla Merli | Osasco
EDUCAÇÃO – Em 2020 tivemos um dos cenários mais difíceis para classe trabalhadora atual, a pandemia. Perdemos parentes e amigos em números assustadores, pequenas empresas fecharam e os funcionários perderam seus empregos por falta de assistência do governo. Ao mesmo tempo houve aqueles que lucraram como nunca durante esses tempos de escassez e continuam lucrando muito até hoje.
Entre instituições que lucraram nesse período pandêmico, temos as escolas e universidades privadas. Cobrando de pais e alunos por aulas presenciais enquanto entregam aulas EAD, não fornecem os meios necessários para seus professores continuarem seus trabalhos à distância, encheram novas turmas com 150 alunos e às vezes até mais, economizaram em energia, água, manutenção de infraestrutura, sem contar a precarização de outros cargos dentro dessas escolas, aumentando suas margens de lucro.
Mesmo hoje, alunos de universidades ainda não voltaram à modalidade presencial e recentemente, relatos anônimos de funcionários de uma dessas faculdades privadas vieram à tona e têm chamado atenção no perfil de rede social chamado “fmudadepressao”.
Segue um desses relatos: “O EAD é totalmente largado porque não tem suporte presencial direito, os funcionários não tem como resolver os problemas porque não pode entrar em contato com nenhum setor, só abrir solicitação.”
Chama a atenção nesses relatos a exaustão dos funcionários que contam de colegas com crises de pânico, ansiedade e casos onde eles precisaram começar a se medicar. Esses são funcionários de atendimento ao cliente, ouvidoria e secretaria, que precisam mentir aos alunos sobre a volta às aulas presenciais, reembolsos de cobranças indevidas, falsas cobranças de matérias pendentes, exclusão de bolsas sem motivo e são orientados por seus superiores a fazer os alunos desistirem de suas reclamações.
Tudo isso tem um único intuito: gerar cada vez mais lucro em cima do modelo EAD explorando a força de trabalho dos funcionários até a exaustão. O modelo de educação universitária privada desde sempre foi criticado por seu nível de qualidade baixo e crescente índice de endividamento de alunos que muitas vezes iniciam a idade adulta com dívidas muitas vezes impagáveis.
Existem soluções para sanar esses problemas como a organização estudantil capaz de gerar pressão para implementar soluções como aumento no número de universidades públicas e o fim do vestibular. No dia 15 de março, alunos e professores se manifestaram pela revogação do Novo Ensino Médio promovendo manifestações robustas Brasil afora.
Temos condições de organizar mais atos como este para lutar por mais universidades públicas, revogação da modalidade EAD na ampla maioria dos cursos e principalmente nos de área da saúde.
A educação pública e de qualidade é um direito da classe trabalhadora e vale ressaltar que não se trata de incompetência, mas um projeto da classe dominante que visa lucrar sobre a precarização do ensino. O pensador marxista Ruy Mauro Marini escreveu em seu texto “A universidade brasileira”: “É assim como a universidade brasileira cumpre os objetivos que lhe foram destinados pela classe dominante e seu Estado, desperdiçando jovens para elaborar um produto específico – a força de trabalho reduzida, mas altamente qualificada, que necessita o capital; concentrando massas crescentes de estudantes para levar a cabo sua formação elitista e ultra-especializada; deixando a juventude entrever os amplos horizontes da ciência e da cultura para tratar de impor os conteúdos rígidos da ideologia da classe dominante”.
Cabe a nós, trabalhadores e estudantes, organizar a luta estudantil e dos professores, bem como lutar por uma sociedade socialista que garanta o acesso à educação para o povo brasileiro.