A premiada escola de idiomas ataca seus trabalhadores com demissão em massa, superexploração e descaso.
Núcleo UP da Zona Oeste | São Paulo
TRABALHADOR UNIDO – Na semana do Dia dos trabalhadores, a escola de idiomas Cultura Inglesa promoveu um ataque à classe trabalhadora demitindo mais de 200 funcionários em diversas unidades.
A justificativa apresentada àqueles que foram demitidos na Central de Atendimento de São Paulo, no bairro Butantã, pela responsável de operações da empresa, foi de redimensionamento para toda a instituição, não sendo por motivos de desempenho individual ou problemas de caixa da empresa.
No entanto, para suportar a tese de reestruturação interna, foi apresentada a justificativa de que os resultados não estavam sendo entregues, escancarando, assim, a mentira por trás das demissões.
Demissões arbitrárias
Na Central de Atendimento, alguns setores como o de Captação e Encantamento e o de Relacionamentos ficaram com apenas alguns funcionários, na sua maioria temporários.
A reestruturação da Central foi parte de um processo de precarização nas condições dos trabalhadores do setor de atendimento, visando uma lógica de relações de trabalho mais predatória, como àquela em grandes empresas de telemarketing.
Os trabalhadores que não foram mandados embora alegaram que a supervisão e liderança não teve poder de decisão, cabendo à Responsável de Operações a decisão de demitir funcionários utilizando como critério a produtividade individual: quem gerava menos números positivos e mais negativos, de acordo com o plano de negócio da empresa, entrou na lista de demissões.
No Rio de Janeiro, a Central de atendimentos foi fechada, havendo uma demissão em massa de centenas de trabalhadores. Esta movimentação era esperada, tendo em vista que a Cultura Inglesa de São Paulo, pertencente à ACISP (Associação Cultura Inglesa de São Paulo) ampliou sua operação com a aquisição da operação do Rio de Janeiro, que pertencia à CIISA (Cultura Inglesa Idiomas SA), do Grupo Gera, cujo dono é Jorge Paulo Lemann
Também foram fechadas unidades da Cultura Inglesa Entry, em São Paulo, que eram unidades com cursos a preços mais acessíveis se comparados às convencionais, em que as pessoas devem arcar com custos, a cada semestre, de um curso de R$2.605,00, podendo chegar a absurdos R$3.993,00, .
Ataques contínuos e condições de trabalho insalubres
A demissão em massa no início de maio não foi o primeiro ataque promovido pela empresa aos trabalhadores em 2023.
Ainda no começo de abril foi anunciado que a empresa não daria abono para todos os trabalhadores, sendo aqueles com remuneração variável não elegíveis à bonificação, que funciona como uma PLR (Participação de Lucros e Resultados).
Porém, como a ACISP se divulga como uma empresa sem fins lucrativos, ela não pode oferecer PLR aos seus trabalhadores. O abono não contemplava aqueles trabalhadores que contribuem concretamente para a saúde financeira da empresa, como os que trabalhavam na Central de Atendimento do Butantã (atendentes, líderes e supervisores).
Houve ainda um aumento salarial de míseros 5,46% para aqueles trabalhadores que ficam na área de atendimento da empresa, não cobrindo a taxa de inflação brasileira em 2022 que foi de 9,3%.
Prêmios a partir da exploração
A Cultura Inglesa ganhou prêmios como melhor escola de idiomas de São Paulo por nove vezes consecutivas entre 2015 e 2023 mas, por trás deste sucesso há um histórico de condições de trabalho degradantes, abusos psicológicos, falta de profissionalismo e transparência, alta demanda de atendimentos, não cumprimento de contrato, pressão irracional para cumprimento de metas que foram projetadas muito fora da realidade.
“No contrato de estágio, nos é garantido redução das horas de trabalho sem alteração na remuneração em período de entrega de trabalho e prova. Uma colega, quando solicitou a redução de horas para completar um trabalho durante um período de baixa captação, teve o pedido negado sem justificativa”, relatou Laura Monteiro*, ex-estagiária do setor de Captação e Encantamento da Central de Atendimento.
“Quando falei que tenho TDAH uma supervisora desdenhou disso, falando que hoje em dia todo mundo tem isso e que era para eu voltar ao trabalho porque precisávamos produzir rápido para bater a meta. Se todo mundo tem um transtorno, ninguém tem esse transtorno”, desabafou Cláudia Lima*, que foi contratada como temporária do setor de Relacionamentos da mesma Central.
Laura ainda completou: “Chegaram a incentivar a gente a trabalhar doente. Lembro que no começo de 2022 uma colega começou a ter sintomas de COVID, durante um dos picos, e ela comunicou isso pra liderança, mas como não tinha equipamento para trabalhar de casa eles mandaram ela não falar para ninguém e continuar ali até que conseguisse fazer um teste, bem na época que conseguir testagem levava às vezes mais que uma semana”.
Para os trabalhadores que não sofreram com a demissão em massa ocorrida em maio os relatos são desesperadores, com muitos tendo crises de ansiedade frequentes em decorrência da notícia que a Central do Butantã foi vendida e a empresa tem o prazo de 1 ano para liberar o prédio.
A Central mudará para um prédio na região do Jabaquara, na Zona Sul da cidade de São Paulo, sem saber se o novo prédio comporta todos que permaneceram, podendo levar a novas demissões.
Esse tipo de tratamento demonstra que a classe trabalhadora não pode confiar nos patrões, pois estes não se interessam pela formação dos estudantes nem pela vida dos trabalhadores.
*Nomes fictícios
Todos sabiam que o Marcos Noll (ex CEO) ia destruir a empresa, e assim fez. Preços absurdos, material copiado de outros já existentes mas agora exclusivos da escola com preço altíssimo, qualidade de ensino piorou catastroficamente, menor carga horária, plataforma de ensino fajuta, o curso remoto é ruim e olha que os professores (coitados) se esforçam muito para oferecer a qualidade de antes. Sorte que a antiga CEO voltou e pode colocar tudo em ordem e prezar pela qualidade do curso.
Eu estou atuando ainda aqui na CI, Estou realmente muito inseguro deixando vários gatilhos para doenças de ansiedade, fico muito preocupado, pois sempre acreditei nessa escola e agora o Marcos Colocou todos num buraco sem fim!
Situação bem chata e injusta, o problema é que a Cultura Inglesa não vai ser punida, infelizmente essas empresas fazem isso e mesmo assim nunca são devidamente punidas
É uma realidade onde quer que tenha Cultura Inglesa. Eu sou de uma unidade e os patrões não estão nem aí para os colaboradores, bem igual tá na matéria. Pior é achar que vai mudar alguma coisa com mudança de Ceo, muita ilusão de um pessoal mesmo
Igualzinho o que ocorreu numa empresa chamada Flex.