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domingo, 24 de novembro de 2024

A luta dos estudantes do Colégio Estadual André Maurois contra a Ditadura Militar

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No combate à Ditadura Militar Fascista (1964-1985), o movimento estudantil cumpriu um papel fundamental. No Rio de Janeiro, junto do CAp UFRJ, o Colégio Pedro II e o CE Visconde de Cairu, o Colégio Estadual André Maurois foi um dos principais polos de resistência secundarista.

Gabriel Puga | Rio de Janeiro


LUTAS DO POVO – O Colégio Estadual André Maurois foi fundado em 1965 e, já no primeiro ano de sua fundação, os alunos se organizaram para formar um grêmio e realizar atividades culturais. 

Na primeira disputa para o grêmio estudantil, participaram duas chapas e, ainda durante a campanha, foi criado o cineclube Kanal. Após a eleição, a chapa perdedora se juntou à vencedora na construção do Movimento Estudantil na escola, em clima de unidade.

O cineclube Kanal, que tinha esse nome em homenagem ao canal que passa na frente da escola, foi presidido por Silvio Darin, que se tornaria depois um dos principais documentaristas brasileiros, e chegou a atrair o público externo, aparecendo na página de cinema dos jornais O Globo e Jornal do Brasil. Antes de Silvio, o presidente era o amigo dele Alan Albuquerque.

Alan deixou o cargo quando foi eleito presidente da AMES Rio (Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas), em 1966. Na época, aquela era uma entidade estudantil forte e reconhecida pelos estudantes de todo o município. Uma das principais organizações estudantis no combate à Ditadura, a AMES passou os últimos anos no imobilismo, mas foi resgatada à luta em seu último congresso, realizado no final de 2022.

Além de Alan, Jaime Cardoso, um dos vice-presidentes da AMES também estudava na escola, o que mostra o protagonismo que desempenhava o CEAM nas lutas estudantis da cidade. Na gestão seguinte, o vice-presidente também era um estudante da escola.

O cotidiano do colégio

A primeira diretora do colégio foi Henriette Amado, que era professora de latim por formação e apaixonada por educação. O modelo que implantou na escola era muito menos rígido do que o modelo empresarial-militar da Ditadura, o que criou uma atmosfera de liberdade na escola.

Os alunos não tinham medo de se posicionar. Na escola, havia os militantes organizados na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e na Ação Popular (AP), que eram os mais engajados na construção da AMES Rio.  Vários desses militantes, inclusive, foram mais tarde para a luta armada contra a Ditadura Militar Fascista.

Apesar das disputas que existiam entre as duas organizações, conviviam no colégio as diferentes palavras de ordem, faixas e o ME era conhecido por todos os estudantes do CEAM.

Naquele tempo, mesmo sendo estadual, a escola era mais elitizada do que hoje e boa parte dos alunos era de classe média. No entanto, isso não impedia que participassem da luta junto aos estudantes pobres.

Foto de página do jornal Correio da Manhã em que mostra a mobilização dos estudantes do CE André Maurois em setembro de 1967. Foto: reprodução

A ditadura persegue o CEAM

O Decreto-Lei n. 477 de 1967 do governo militar obrigava os diretores de escolas e universidades a denunciar alunos que fumassem maconha ou participassem de movimentos subversivos. 

Em 1970, após perceber que alguns alunos estavam fumando maconha, a diretora resolveu fazer uma experiência, com apoio das equipes de ciência e biologia, em que aplicava drogas em ratos e mostrava os efeitos ao longo dos dias. O objetivo era o de gerar um debate sobre os malefícios da droga. A imprensa noticiou como se Henriette estivesse incentivando o uso de drogas na escola e a polícia partiu para cima.

Foi o pretexto que o governo fascista precisava para atacar o colégio. Em 1971, dezenas de policiais com camburões cercaram a escola e prenderam Henriette. 

Esse ataque não foi o primeiro que ela sofreu. Em 1967, a diretora foi alvo de uma grande campanha de difamação e mais de dois mil alunos da escola, que tinha 2500 matriculados, se manifestaram em apoio a Henriette, depois de forte mobilização do ME. Na escola, as manifestações eram uma forma comum de os alunos se expressarem.

Em 1968, a semana da chamada “Sexta-feira Sangrenta”, episódio de repressão policial aos estudantes que aconteceu pouco antes da Passeata dos Cem Mil, começou na segunda-feira. Naquele dia 17 de junho, os estudantes do CEAM organizaram uma grande manifestação, que repercutiu em todo o estado. Naquele dia, a Polícia Militar do Rio de Janeiro tentava invadir a escola para prender “alunos extremistas”.

A voz do CEAM não se cala!

Naquela época o Movimento Estudantil exercia um papel importantíssimo no desgaste da Ditadura Militar Fascista, e por isso era tão perseguido. Hoje, o ME ainda tem grandes enfrentamentos a fazer e continua formando centenas de lutadores sociais. No CE André Maurois não é diferente. 

Em setembro de 2022, foi reconstruído o Grêmio Estudantil Henriette Amado do CE André Maurois e eleita a chapa União Revolucionária Estudantil. No final de 2023, a gestão, construída por estudantes do Movimento Rebele-se e independentes, foi reeleita com mais de 70% dos votos.

Renan Hoche, 18 anos, fez parte da reorganização do grêmio e integra hoje a diretoria da AMES Rio. Ele conta que “A luta na escola nunca parou: só teve algumas pausas. O CEAM foi um dos principais colégios ocupados em 2016. Durante a pandemia o ME na escola ficou mais enfraquecido, mas depois voltou com bastante força. Reconstruímos o grêmio e desde então já conseguimos ter várias conquistas dentro da escola. No momento, nossa principal luta é pela revogação do Novo Ensino Médio.”

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