UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

“Reforma Trabalhista só serviu para tirar direitos dos trabalhadores e aumentar o lucro dos patrões”

A Verdade finaliza a rodada de entrevistas com candidatos e candidatos da Unidade Popular (UP) nas eleições de 2024 apresentando os posicionamentos de Juliete Pantoja (35 anos), candidata a prefeita do Rio de Janeiro (RJ); Eslane Paixão (31 anos); candidata a prefeita de Salvador (BA); Yuri Ezequiel (30 anos), candidato em João Pessoa (PB); Amanda Bispo (28 anos), candidata em Mauá (ABC Paulista).

Rafael Freire | Redação


A Verdade – O povo pobre deste país, especialmente quem vive nas periferias, é vítima diariamente da violência do Estado, que não garante segurança pública e ainda mata pessoas com as operações policiais. Como a UP avalia esta situação e o que propõe para resolver?

Amanda Bispo – Aqui no Estado de São Paulo, essa violência policial está presente no quotidiano da população e nós entendemos que ela é fruto do avanço do projeto fascista em nosso país. O fascismo é o lado mais perverso do capitalismo, que usa dessa violência para oprimir cada vez mais o povo pobre trabalhador, enquanto os ricos ficam cada vez mais ricos em cima da exploração.

Neste ano, tivemos como exemplo a Operação Escudo e a Operação Verão, que aconteceram no início do ano, na Baixada Santista, e mataram cerca de 85 trabalhadores. Inclusive, um dos vídeos mostra um trabalhador, entregador de colchões, sendo assassinado pela Polícia. Isso é um projeto de extermínio da classe trabalhadora, da população negra, para que a gente só assista aos nossos direitos serem retirados.

Outra expressão do fascismo é o projeto de militarização das escolas, que foi aprovado na Assembleia Legislativa do Estado, mas que foi barrado pela mobilização dos estudantes e da comunidade escolar. As pessoas sabem que colocar a Polícia dentro da escola não fará a educação melhor. Pelo contrário. Seria uma escola mais repressiva, com mais dificuldades para a organização estudantil.

A UP entende que só no socialismo vamos superar essa situação, pois, numa sociedade em que os trabalhadores constroem o poder popular, não haverá essa violência do Estado contra o povo. Para agora, defendemos a desmilitarização das PMs e que as Guardas Municipais devem atuar de forma comunitária, que conheçam os trabalhadores do bairro e que atuem na proteção às mulheres contra a violência doméstica.

Juliete Pantoja – Além desse agravamento fruto do fascismo, é preciso colocar que os problemas na segurança pública nas cidades não são de hoje. O Rio de Janeiro tem um dos maiores índices de letalidade policial e, há 50 anos, é a mesma política. E agora estamos numa luta grande contra o armamento da Guarda Municipal, até porque, mesmo desarmada, essa Guarda é ordenada pelos prefeitos para reprimir os trabalhadores, tanto os camelôs quanto os trabalhadores e a juventude que se organizam para fazer greves e manifestações.

De fato, não dá para pensar na segurança pública, sem pensar no todo. O Estado só entra nas comunidades através do seu braço armado, e nós defendemos que tem que ter política pública de educação de qualidade com escola em tempo integral e creche para todas as crianças; cultura, lazer e profissionalização para a juventude; saneamento e saúde. Mas, no capitalismo, a gente só efetiva esses direitos básicos com muita luta.

Yuri Ezequiel – Em 2023, o Brasil registrou quase 6.400 mortes por ação das Polícias Militares. Nos últimos dez anos, vimos um aumento de 188% no número de assassinatos, e isso são os dados oficiais, sem contar os casos que não foram solucionados. É a prova do papel que cumpre a Polícia Militar, matando a juventude e o povo preto. Precisamos ter um grau de organização popular para dar enfrentamento à militarização da sociedade e à lógica de preservação da propriedade privada acima da vida das pessoas.

Ao mesmo tempo, vemos as milícias e o crime organizado se espalhar por todo o país como uma política de Estado, da burguesia. É o desenvolvimento do fascismo colocado em prática. Em toda a Região Metropolitana de João Pessoa essa é a realidade atualmente. Foram dezenas de mortes violentas neste ano, coisa de que nunca tínhamos presenciado antes. Portanto, sem fazer um debate sobre o papel do Estado, é impossível fazer um debate sério sobre a violência policial.

 

Foto: Eslane Paixão é candidata à prefeitura de Salvador (BA).

Eslane Paixão – A Bahia é hoje o estado brasileiro com maiores números de violência estatal contra o povo, especialmente negros e negras. E isso é um resquício da ditadura militar. É preciso entender esse ponto para falarmos sobre uma Justiça de Transição e sobre democracia. Os mandantes e os executores dos mais bárbaros crimes de tortura e execução na ditadura não foram punidos.

Em Salvador, também estamos passando por esse processo de militarização da Guarda Municipal, perseguindo trabalhadores ambulantes, pessoas desempregadas em situação de rua. No início do ano, quando os ambulantes foram se cadastrar na Prefeitura para trabalharem no Carnaval, sofreram agressões devido à desorganização da própria gestão. Nós que somos da periferia e somos pretos sofremos ainda mais essa violência.

Os níveis de emprego no Brasil sobem e descem o tempo inteiro, mas o fato é que hoje existem mais trabalhadores na informalidade do que trabalhando com direitos trabalhistas. Como o partido organiza a classe para lutar contra isso?

Foto: Yuri Ezequiel é candidato à prefeitura de João Pessoa.

Yuri Ezequiel – A organização da classe trabalhadora é fundamental. Aqui na Paraíba, temos o exemplo do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Limpeza Urbana, dirigido pelo Movimento Luta de Classes, o MLC. Após muitas lutas e greves, a categoria conquistou vários direitos e aumentos salariais, de modo que hoje um funcionário de empresa terceirizada recebe mais do que um funcionário efetivo da Prefeitura.

Mas o fundamental nesses processos de luta é aumentar a organização da classe trabalhadora para enfrentar o capital, que hoje joga os trabalhadores na informalidade para explorar mais os operários das grandes empresas, rebaixando seus salários e aumentando seus lucros. Ainda falam em empreendedorismo, mas a realidade é que o trabalhador sem carteira assinada está precarizado, sem relação trabalhista que lhe garante os direitos mínimos (13º, férias, seguridade social). Precisamos avançar no debate de como organizar os trabalhadores informais em cooperativas e frentes de trabalho emergencial para construção de moradia popular para eles mesmos, por exemplo.

Juliete Pantoja – Nós vivemos numa sociedade dividida em classes sociais. De um lado, as classes dos ricos, dos patrões e, do outro, as classes trabalhadoras. Por isso, não usufruímos dos frutos do nosso trabalho. E os patrões, que também governam através de políticos marionetes, implementam novas formas de aprofundar nossa exploração. Foi assim com a aprovação das Reformas da Previdência e Trabalhista, feitas por Temer e Bolsonaro. Ficou ainda mais distante para a nova geração de trabalhadores a possibilidade de se aposentar, e agora também sem os direitos históricos, conquistados com muita luta, após a destruição da CLT. Está provado que essas reformas só serviram para tirar direitos dos trabalhadores e aumentar os lucros dos patrões.

Essa precarização, aliada à profunda crise do sistema capitalista, faz com que os trabalhadores vivam numa situação cada vez pior, com o alto preço dos alimentos, dos alugueis e dos transportes. Nosso partido se coloca nessa trincheira de luta, fortalecendo a organização da classe trabalhadora. Acreditamos que cada greve e manifestação é importante para garantir uma vida melhor e, principalmente, para avançar para uma consciência de que é preciso construir uma transformação radical da sociedade, construir a sociedade socialista.

Amanda Bispo – As cidades podem fazer frentes emergenciais de trabalho, apoiar os pequenos produtores rurais e urbanos, fortalecer a economia solidária, entre outras medidas. Mas a principal ação que realizamos foi justamente, enquanto classe trabalhadora, organizar este novo partido, a Unidade Popular. Assim, nós construímos essa consciência de classe mais avançada, como a companheira falou e os sindicatos combativos junto com o MLC. Por isso, quero fazer um chamado para que você, trabalhador, tome partido. Os ricos já têm seus partidos. Nós precisamos ter o nosso, batalhar de cabeça erguida e organizados.

Eslane Paixão – Saiu recentemente no Mapa das Desigualdades que Salvador é a capital do desemprego no Brasil. Isso faz com que não tenhamos, muitas vezes, o básico para procurar emprego. Quem mora nos subúrbios e está desempregado nem sequer consegue pagar a passagem de ônibus – que é a mais cara do Nordeste (R$ 5,20) – para procurar emprego.

As privatizações e terceirizações também são parte desse processo, pois, se houvesse concursos públicos, os serviços seriam feitos por servidores com melhores condições de trabalho e de salário, e a população seria bem atendida. Teríamos mais creches, e as mães poderiam estudar e trabalhar. Então a questão do emprego envolve várias áreas.

Como diz o Manifesto do Partido Comunista, “o Estado burguês é o comitê gestor de negócios da burguesia”. Amanda, em Mauá há fortes denúncias de corrupção por parte de gestores. Como você realizado esta denúncia em sua campanha?

Amanda Bispo – Na opinião da Unidade Popular, os principais problemas de Mauá são fruto de que ela é uma cidade governada para os ricos. Isso acontece há anos, inclusive na atual gestão. Na gestão anterior, foi pior ainda porque o ex-prefeito Átila Jacomussi, do União Brasil, teve suas contas reprovadas na gestão de 2016 a 2020. Ele não sabe dizer para onde foram 100 milhões de reais da Prefeitura. O que daria para fazer com esses 100 milhões? Quantas casas poderiam ser construídas? Quantos prédios poderiam ser reformados? Quantas salas de creches? Quanto de aumento para os servidores públicos? As nossas cidades não podem mais ser governadas por corruptos!

As nossas cidades não podem mais ser governadas para os ricos! O atual prefeito senta para conversar com os grandes empresários e pouquíssimo senta para conversar com os movimentos sociais de luta. Mauá tem vários problemas sociais que são enfrentamos diariamente, como a humilhação no transporte coletivo, em que a gente paga 5 reais numa passagem para ficar pouco tempo dentro do ônibus, enlatado. Quem trabalha no Centro de São Paulo ainda tem que pegar um trem e ser humilhado de novo.

Outro dilema nos bairros é a falta de creche. São cerca de 1.500 crianças em Mauá sem este direito. Falta de remédios e de médicos. Tivemos um bairro que agora passou 15 dias sem água. Tudo isso poderia ser resolvido se o dinheiro público fosse destinado aos trabalhadores e trabalhadoras, e não aos ricos da cidade.

Em Salvador, quase metade da população vive em áreas de risco. Ao mesmo tempo, as gestões da Prefeitura têm realizado operações de desafetação, vendendo, a preços baixíssimos, terrenos em áreas nobres para a construção de edifícios de luxo. Eslane, como você vê essa contradição?

Eslane Paixão Essa uma grande injustiça. Existe uma Salvador dos ricos e outra Salvador nossa, dos pobres, vivendo em condições extremamente precárias, sem estrutura, sem equipamentos públicos que atendam a toda a demanda. Hoje, existem bairros que não têm nem posto de saúde. Enquanto boa parte da população não tem o direito de morar dignamente, a Prefeitura vende terrenos públicos a preço de banana.

O prefeito Bruno Reis vendeu terrenos aos seus amigos, inclusive em áreas de preservação ambiental. Um desses amigo é o ex-prefeito ACM Neto, que é o chefe do grupo político do qual faz parte o atual prefeito. O lema deles é privilégios para os ricos e descaso para os pobres.

Foram realizados estudos que apontam que, se caíssem em Salvador chuvas como as que atingiram o Rio Grande do Sul, mais de um milhão de pessoas correriam o risco de perderem tudo, até suas vidas, por morarem em locais de risco nas favelas, morros e palafitas. Então entendemos que é urgente combater a especulação imobiliária na nossa cidade para que as famílias pobres tenham acesso à moradia digna

Juliete, todos os anos ocorrem dezenas de feminicídios no Rio. Só em 2022, foram 39 mulheres assassinadas na cidade. Para piorar, o Governo do Estado pretende despejar a única casa de referência da mulher na capital. Como enfrentar essa realidade imposta pelo machismo na segunda maior cidade do país?

Foto: Juliete Pantoja é candidata à prefeitura do Rio de Janeiro.

Juliete Pantoja No Rio de Janeiro, a cada hora, uma mulher é vítima de algum tipo de violência. Só nos últimos dias, enfrentamos três casos de feminicídio.

Há dois anos, o Movimento de Mulheres Olga Benario ocupou um imóvel abandonado na Rua da Carioca, Centro do Rio, e estabeleceu o Centro de Referência Almerinda Gama, que já ajudou a salvar a vida de mais de cem mulheres e suas crianças, vítimas de violência doméstica e que encontraram na Casa Almerinda apoio psicológico, jurídico e acolhimento necessário para superar esse momento.

Sabemos que as Prefeituras e o Governo do Estado não garantem uma ampla rede de enfrentamento à violência contra a mulher. Essa rede deveria ter, além dos centros de referência, casas-abrigo, casas de passagem e outras ações para apoiar as mulheres que dependem financeiramente dos seus agressores.

Agora, o Governo do Estado, que já não garante isso ainda quer despejar as mulheres da Casa Almerinda Gama, fazendo com que este importante trabalho do Movimento Olga Benario fique sem um espaço físico para ser realizado. E o projeto para esta área é alocar bares e restaurantes, pois, para esses governantes, o interesse dos empresários vale mais do que a vida das mulheres.

Nesta campanha, estamos denunciando muito isso por entender que é fundamental a Prefeitura expandir sua rede de enfrentamento à violência contra a mulher.

Yuri, a Unidade Popular é, pela segunda eleição, o partido que lança candidaturas com a menor média de idade entre todos os partidos. Isso pode ser visto, inclusive, entre vocês que participaram desta rodada de entrevistas. Como a UP desenvolve seu trabalho entre a juventude?

Yuri Ezequiel Ser jovem é construir um partido revolucionário, de forma quotidiana, construir uma nova sociedade. Lembro muito quando me organizei na União da Juventude Rebelião, a UJR, na minha escola, lutando contra o aumento das passagens de ônibus em João Pessoa, por reforma nas escolas públicas, organizando o grêmio estudantil. Posteriormente, na universidade, lutando por assistência estudantil, por democracia interno, enfim, pelos direitos da juventude.

Os jovens têm o desejo de transformar a sociedade e o grande desafio de um partido como a UP é organizar essa revolta, pois, a todo momento, a burguesia joga para a juventude sua ideologia individualista. Mas só é possível alcançar, de fato, educação de qualidade e emprego para todos numa nova sociedade. Neste capitalismo apodrecido é um impossível.

Se organizar na UJR, se filiar na Unidade Popular, construir o partido da revolução brasileira, é lutar por uma sociedade sem fome, sem miséria, uma sociedade socialista.

Matéria publicada na edição nº 299 do jornal A Verdade

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